O pré-sal e o efeito-estufa

Embora predomine atualmente a visão de que o aquecimento global é consequência do volume de gás carbônico lançado na atmosfera resultante da queima de combustíveis fósseis – petróleo, gás natural e carvão mineral – há uma outra corrente que defende a tese de que o aquecimento global é fruto de um periódico aquecimento de nosso planeta resultante de alterações na posição da órbita terrestre e, em consequência, da distância da terra em relação ao sol.

Ora, mesmo que a segunda corrente seja verídica e que estejamos de fato entrando num ciclo cósmico periódico de aquecimento terrestre, isto não torna a segunda premissa falsa. Indiscutivelmente, a maior presença de gás carbônico e outros gases causadores do efeito-estufa na atmosfera é uma indutora de aquecimento da atmosfera de nosso planeta. É cientificamente comprovado que a presença desses gases modifica o regime segundo o qual a radiação solar atinge a superfície terrestre e é por ela refletida de volta ao espaço, especialmente a radiação infravermelha ou radiação térmica emitida pelo sol. Portanto, mesmo que seja verdade que estejamos entrando num ciclo de aquecimento terrestre produzido por causas externas, isto não invalida os efeitos da presença de gases geradores do efeito-estufa produzidos pela queima em larga escala de combustíveis de origem fóssil

Em breves palavras, a radiação infravermelha ou térmica procedente de sol tem energia suficiente para atravessar a atmosfera terrestre, sendo parte dela absorvida pelo planeta e parte refletida de volta ao espaço. Ocorre que a parcela de radiação térmica refletida é de menor conteúdo energético que a radiação original incidente, sendo, em muitos casos incapaz de atravessar a camada de gases causadores do efeito-estufa que vão se acumulando na atmosfera em razão do maciço emprego de combustíveis de origem fóssil. Por ser incapaz de vencer a camada de gases, esta radiação é re-refletida de volta à superfície terrestre. Este confinamento da radiação térmica em nosso espaço é o que chamamos “efeito-estufa”.

Todos esses fatos estão aqui alinhados por uma simples razão: a descoberta de petróleo na camada pré-sal pela Petrobrás. Toda a euforia que tomou conta de significativa parcela do povo e de autoridades do governo brasileiro tem, a meu ver, pouco sentido. Autoridades anunciam aos quatro ventos que o petróleo do pré-sal vai ser o veículo da verdadeira e retardada independência do Brasil. Os anúncios dos volumes de óleo e gás variam em função do auditório a quem os políticos se dirigem e não em função de sérios, caros e exaustivos estudos geológicos e geofísicos.

Sobre o petróleo produzido incidirão tributos, “royalties” e outras participações que formarão um fundo social a ser destinado, em boa parte, à educação e a outros programas sociais. Atitude louvável esta não fora ser ela divulgada por um governo em fim de mandato, já que todos nós sabemos que em nosso país não é regra que um governo que entra cumpre as promessas daquele que sai.

Finalmente, volta aquela antiga questão jamais debatida ou analisada pelos nossos eufóricos políticos: após tantos fatos desaconselhando o emprego de fontes fósseis de energia em virtude de sua nocividade ao meio ambiente, não seria antipático e anti-ético os brasileiros estarem festejando a descoberta de mais uma fonte de agressão a este nosso planeta já tão surrado e maltratado? Será que a Terra suporta a queima de mais esses bilhões de barris de petróleo? Não seria mais razoável o Brasil se orgulhar de liderar a aplicação de fontes de energia renovável em lugar do sujo petróleo?
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