É surpreendente ver tanta gente séria cantando louvores aos quatro ventos à descoberta do Pré-sal pela Petrobrás. Mais surpreendente ainda é ver associação feita entre os esforços para que a Petrobrás seja a única exploradora dessas reservas com a campanha, feita nos anos 50 do século passado, cujo lema era “o petróleo é nosso”. Entre uma e outra já se passaram cerca de 60 anos e o mundo hoje é outro, bem diferente daquele.
O mundo dos anos 50 do século passado não tinha noção da gravidade da agressão ao planeta causada pelo uso intensivo de combustíveis fósseis. E foi essa ignorância que nos trouxe ao quadro atual, marcado pela deterioração visível das condições climáticas e pela agressão ambiental.
Embora não se tenha uma avaliação final confiável do volume de óleo e gás armazenados nesses campos, é impensável que gente minimamente responsável advogue a tese da exploração, produção e consumo dos combustíveis do Pré-sal sem levar em conta seu impacto adicional e nocivo sobre o planeta e seu meio ambiente.
A própria Petrobrás divulga na sua página na Internet que, de todo o petróleo refinado por ela, no mínimo 70% são destinados à queima (gasolina, diesel, querosene de aviação e parte do óleo combustível) e, em consequência, à produção do gás carbônico, o principal agente causador do efeito estufa (ver figura abaixo). Torna-se inegável que o negócio da Petrobrás e de outras empresas de petróleo é sujar o meio ambiente
Fonte: Petrobrás
Outro dado importante é o impacto do uso de derivados de petróleo para movimentar veículos automotores, particularmente nos espaços urbanos. Curioso é que, no caso do Brasil, o alarme para esta questão tenha sido dado pelos inspetores da FIFA que vieram ao Brasil para avaliar as cidades-candidatas a serem a serem escolhidas como sub-sedes para a Copa do Mundo de 2014. Uma das questões por eles avaliadas foi a chamada “mobilidade urbana”, definida como a capacidade das cidades em permitir o escoamento de trânsito de veículos. Nesse aspecto houve sérias restrições a algumas de nossas metrópoles, o que vai obrigar os administradores públicos a fazer vultosos investimentos em novas vias urbanas para atender as exigências da FIFA.
É lamentável que esses mesmos administradores nunca tenham percebido que as populações dessas cidades perdem diariamente preciosas horas de suas vidas presas no trânsito caótico de nossas grandes cidades. Foi preciso que agentes externos fizessem a crítica para que alguma coisa venha a ser feita. Na contra-mão desses fatos, as autoridades brasileiras reduziram a carga tributária sobre os veículos de passeio visando aumentar as vendas, ignorando os congestionamentos urbanos e a poluição ambiental daí resultantes.
Resta evidente, portanto, uma total falta de critérios na política brasileira em relação ao petróleo aqui existente. Ademais, em função do crescimento acentuado da informação e da consciência ambiental de parcelas cada vez maiores da população a produção de petróleo sem considerar seu impacto ambiental está tornando as empresas petrolíferas cada vez mais antipáticas.