Alguns fatos, entretanto, não confirmam que as coisas se passam desta forma. Basta observar o mundo à nossa volta para ficar patente a pobreza racional de espécie humana e valorizar a razão presente nos animais. Observemos a questão dos transportes:
Em 2007, cerca de 73 milhões de veículos automotores foram produzidos no mundo. Nos últimos 10 anos, este número ultrapassou os 600 milhões de veículos. Os veículos automotores de uso quase que absoluto em nosso mundo são veículos equipados com motores de combustão interna ou motores a explosão.
O rendimento de qualquer máquina é a relação entre a energia de entrada e a energia de saída. Nas máquinas térmicas, como os motores a gasolina, gás natural, álcool ou diesel, podemos calcular a energia de entrada a partir do calor liberado pela queima do combustível. Contudo, uma grande parte desta energia se perde como calor pelas paredes do motor. Outra parte se perde nos gases quentes que escapam pela descarga do motor. Perde-se calor, ainda, por radiação e atrito nas partes móveis dos motores. Energia de saída é a energia efetivamente transformada em trabalho e que faz movimentar o veiculo. É também chamada energia útil. O rendimento de máquinas térmicas, como os motores de veículos, raramente supera os 35%. No caso dos motores a gasolina, este valor é ainda menor, situando-se na faixa dos 27%. Em outras palavras, apenas 27% da energia liberada pela combustão é aproveitada para mover o veículo.
Apenas para termos um nível de comparação, um motor elétrico, do tipo empregado em ventiladores ou outros aparelhos rotativos, tem um rendimento próximo de 80%. O rendimento de turbinas hidráulicas supera os 80%.
Em números redondos, um motor a gasolina dos mais modernos queima e joga fora três em cada 4 litros de combustível utilizados. Se um litro de gasolina custa hoje algo como R$ 2,50 e um automóvel consome um litro a cada 10 quilômetros percorridos, ao final de uma viagem de 100 quilômetros, o proprietário do veículo terá gasto R$ 25,00 em combustível e desperdiçado R$ 18,00 por força do baixo rendimento do motor. Apenas R$ 7,00 foram de fato gastos para o deslocamento ou produziram trabalho útil.
Para agravar ainda mais o quadro, uma simples observação do tráfego destes veículos nas grandes metrópoles do mundo permite observar que cerca de 70% desses veículos transportam apenas uma pessoa, embora sejam fabricados para transportar até cinco passageiros. Se considerarmos que o rendimento dessas máquinas é de 27% e que elas transportam, no mais das vezes, apenas parcela da carga para a qual foram projetadas e fabricadas, este rendimento cai ainda mais, tornando-o ridículo e incompatível com os atuais padrões ambientais e tecnológicos.
Se adicionarmos ao quadro acima descrito o fato de que estes veículos passam boa parte de seu tempo parados, apenas queimando combustível nos absurdos congestionamentos que paralisam as grandes cidades do mundo, a situação fica insustentável do ponto de vista da razão.
Infelizmente, a posse e uso de um veículo com essas características tornou-se um dogma para a sociedade de consumo. A incessante propaganda que associa a posse de um desses veículos ao sucesso tem dado seus resultados. Mostrar ao mundo que se tem um veículo desta ou daquela marca, com tais e quais atributos e penduricalhos, transformou-se em motivo de auto-afirmação.
Que se danem o meio ambiente, os espaços para circulação, o tempo gasto em deslocamentos urbanos, os transportes coletivos (quando existem), os cuidados com a saúde e a burrice dos motores.
Felizmente, estamos alcançando um estágio insustentável nesta questão. Inútil é esperar que os políticos de plantão adotem alguma saída para o problema. Serão as próprias pessoas que irão, por si mesmas, descobrir a inutilidade dessas máquinas nas atuais condições e buscarão alternativas tais como caminhar mais, pedalar ou usar transportes de massa de qualidade.
A hora é de um retorno à razão, para nos juntarmos aos animais, já que estes nunca deixaram de usá-la.