A utilização da energia nuclear, para fins de geração de energia elétrica, vem suscitando uma polêmica, que remonta aos anos 50 do século passado. Naquela época, todos tinham viva na memória a imagem do holocausto produzido pelos EUA, ao lançar duas bombas nucleares de baixa potência sobre o Japão, ao final da 2ª Guerra Mundial.
A rigor, a diferença entre uma bomba atômica e uma central termonuclear reside apenas no grau de enriquecimento do Urânio empregado como combustível e no grau de controle em que se dá a reação em cada caso.
Há na Natureza algumas áreas onde se acumulam grandes reservas de Urânio, inclusive no Brasil. Entretanto, 99% do Urânio presente nessas jazidas é o isótopo U238, ou Urânio natural, de pouca aplicação na geração de energia. O que interessa, neste caso, é o Urânio radioativo – o isótopo U235 – o qual é encontrado em pequenas quantidades: cerca 0,7% do total extraído na mineração. O processo de enriquecimento consiste, justamente, em ampliar a quantidade de U235. Este processo é realizado em plantas industriais de enriquecimento, através da separação - por ultra-centrifugação - que concentra o U235 na faixa de 2 a 3%, sendo o restante composto por U238.
A reação nuclear consiste em bombardear o núcleo dos átomos de U235 com nêutrons, provocando a fissão (ou divisão) do átomo de Urânio em átomos de elementos com menor massa atômica (Césio, Rubídio, Bário e outros), os quais por sua vez, liberarão novos nêutrons, que vão bombardear novos átomos de U235, num processo de “reação em cadeia”. A absorção de um nêutron por um núcleo de U238 produz o Plutônio (Pu239), também usado como combustível para bombas nucleares.
A fissão do Urânio libera uma imensa quantidade de calor que, a depender do grau de enriquecimento do Urânio e de controle da reação, pode ser usado para destruir ou simplesmente gerar energia, a partir do calor produzido. Para as centrais termonucleares convencionais, o combustível é o U235, enriquecido na faixa de 2 a 3%. Para a fabricação de artefatos bélicos nucleares, entretanto, o grau de enriquecimento requerido é de cerca de 90%.
Grosso modo, é lícito presumir que quem domina o processo de enriquecimento de Urânio para geração de energia, tem condições de, com alguns ajustes no processo, efetuar o enriquecimento em níveis compatíveis com a fabricação de artefatos nucleares.
Este é o estado da arte atual. Na atual matriz energética global, a energia nuclear responde por cerca de 6% do total, enquanto que, apenas para a geração de energia elétrica, a parcela de energia nuclear é de 16% do total. Sobretudo em países da União Européia, a parcela da energia nuclear responsável pela geração de energia elétrica é ponderável, como se pode observar no quadro a abaixo:
País |
% de energia nuclear |
França |
78 |
Bélgica |
55 |
Suécia |
48 |
Suíça |
38 |
Alemanha |
32 |
EUA |
20 |
Cabe, contudo, colocar uma questão: a energia nuclear é uma opção para a futura escassez de energia gerada a partir de combustíveis fósseis?
A favor da energia nuclear para geração de energia elétrica temos:
. a questão do custo de geração, francamente decrescente nos dias de hoje;
. a relativa abundância de reservas de Urânio em diversas regiões do planeta;
. a ausência de emissão de gases que causam o efeito-estufa e, em conseqüência, o aquecimento global.
Contra o seu emprego temos:
. a questão do custo do investimento em novas centrais;
. o problema da segurança inerente ao próprio processoi;
. o uso das instalações de enriquecimento de Urânio para aplicações militares;
. a problemática da disposição dos rejeitos radioativos provenientes do reator, cujo armazenamento e guarda demanda instalações complexas e longos períodos de estocagem desses resíduos (em alguns casos, milhares de anos).
Com base nesses dados - certamente ainda inconclusivos - é que se planeja caminhar para uma decisão, no sentido de ampliar, manter ou mesmo reduzir a participação da energia nuclear na futura matriz energética mundial. Visto que há inúmeras variáveis ainda em aberto e em debate, a questão permanece. Esperamos que prevaleça o equilíbrio e o bom senso dos responsáveis pelas decisões.
Argemiro Pertence