Nairobi, Quênia, 23/8/2011 – Enquanto continua a grave crise alimentar no Chifre da África, incluindo no Quênia, alguns pequenos agricultores na parte ocidental deste país ainda podem dar de comer a suas famílias graças à abundante colheita do ano passado. Este é o resultado de um programa agrícola concentrado em recuperar a fertilidade do solo na região. O cientista David Mbakaya, do Instituto de Pesquisa Agrícola (Kari), disse que estudos feitos no solo da Província Ocidental revelaram que era muito ácido para a produção de milho, devido a fatores climáticos e ao uso excessivo de fertilizantes nitrogenados.
“Nos testes de campo descobrimos que o nível médio de pH no solo da região era de 4,5, o que significava que a terra tinha dificuldade para manter o desenvolvimento do milho”, explicou Mbakaya. Cientistas do Kari, com fundos da Aliança para uma Revolução Verde na África, estimularam os agricultores a neutralizar o solo utilizando cal, que pode ser obtida a preços baixos no Quênia.
“Coloquei cal na minha terra em duas temporadas, e os resultados foram espantosos”, disse Isaac Ochieng Okwanyi, de 29 anos, pai de dois filhos, que se dedicou à agricultura após ser desalojado do bairro de Mathare, em Nairóbi em razão da violência política pós-eleitoral de 2008. “Como qualquer jovem, pensava que trabalhar na cidade era a melhor forma de ganhar a vida. Mas, depois de perder tudo por causa da violência, decidi voltar para casa e tentar a sorte na agricultura”, contou Okwanyi, da aldeia de Nyangera, na Província Ocidental.
Utilizando a metade dos 2,5 hectares de terra que herdou de seu pai, Okwanyi começou a cultivar milho utilizando os mesmos fertilizantes que sua família empregou durante anos antes dele. Colheu quatro sacas de 90 quilos naquela temporada. “Vendi metade porque precisava de dinheiro e o restante serviu de alimento para minha família e meus pais por três meses”, afirmou.
Porém, quando sua propriedade foi escolhida pelo Kari para os testes com a cal, Okwanyi sem mostrou cético. “Toda a comunidade, incluindo eu, era muito descrente, porque não acreditávamos que isso que parece cimento pudesse mudar alguma coisa”, disse. Quando chegou a época da colheita, os aldeões mudaram de opinião. “Choveu o esperado, e posso dizer que nunca vi uma colheita tão grande nesta comunidade”, afirmou o agricultor.
De um hectare ele conseguiu 32 sacas de milho, uma enorme diferença em relação às quatro que conseguira na mesma terra na temporada anterior. “O resultado da colheita do ano passado é evidente. Desde então me mudei de uma pequena choça de palha para uma casa semipermanente”, disse, apontando para ela.
Junto com outros cinco agricultores que tiveram êxito em suas colheitas, Okwanyi abriu um banco de grãos no mercado local de Sega, de onde ele e outros camponeses retiram pequenas porções para seu uso doméstico. “Criamos o banco por razões de segurança. com a forte fome que existe, é possível que intrusos entrem em nossas casas para roubar milho”, afirmou. Ele ainda tem duas sacas para consumo pessoal, e faltam poucas semanas para a nova colheita.
Atualmente, há três mil agricultores em Kakamega e dois mil em Siaya, na Província Ocidental, utilizando a cal no cultivo do milho. Esta província é uma das regiões do Quênia que tem mais chuvas estáveis o ano todo. Porém, segundo Marin Odendo, pesquisador da Divisão de Estatísticas e Socioeconomia do Kari, a região importa alimentos seis meses por ano. Odendo acredita que num futuro próximo haverá um grande aumento nas colheitas na região. Envolverde/IPS
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