Brasil mínimo

No Brasil, para a maioria da população, tudo é mínimo: o salário, a renda, o Bolsa Família, até o Estado há pouco tempo atrás era para ser mínimo. A saúde e a educação talvez nem cheguem ao mínimo, mas o mínimo é a meta a ser conquistada.

Superar a fome, a sede, a miséria, sanear as cidades e implantar uma educação e saúde eficientes é possível mesmo dentro de um Estado capitalista. Portanto, por hora nem se discute a implantação de um Estado socialista, com a superação das injustiças estruturais. As próprias políticas do governo Lula, assim como o propósito de erradicação da miséria de Dilma, se dão dentro dos marcos da sociedade atual. Com o potencial de solos, água, sol, minerais e até mesmo tecnológico que temos, são metas que podem ser atingidas até dentro desse modelo.

Claro, por outro lado sobra o Brasil máximo: a renda concentrada, o patrimônio, a propriedade, além da concentração do poder, do saber e demais mecanismos que garantem a estruturação classista brasileira.

Talvez aqui resida o nó mais controverso entre as esquerdas nos últimos anos. Enquanto alguns setores desdenham essas conquistas mínimas, porque não mudam estruturalmente o Brasil, outros as defendem como se tivéssemos solucionado todos os problemas nacionais.

Vivendo na região semiárida há trinta anos, sabemos o quanto essas conquistas do Brasil mínimo foram e são importantes para nosso povo. Afinal, é melhor viver num capitalismo comendo e bebendo que morrendo à míngua de fome e sede, como literalmente acontecia até pouco tempo atrás.

Porém, contentar-se com o que está posto, é contentar-se com a sub cidadania. Chegará a hora, como acontece nas periferias francesas, que essas populações se rebelarão com o mínimo a que foram relegadas, enquanto outros desfrutam de todas as benesses da sociedade moderna.

Ainda mais, com as mudanças nos paradigmas que estamos atravessando, ficará cada vez mais difícil pleitear o consumismo como parâmetro. De alguma forma, teremos que nos contentar com o que é fundamental, com um vida digna, descartando ter como meta a sociedade do luxo e do desperdício.

*Roberto Malvezzi (Gogó) é assessor da Comissão Pastoral da Terra.

**Publicado originalmente na edição 415 do Brasil de Fato - http://www.brasildefato.com.br/node/5648.

(Envolverde/Brasil de Fato)

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