Cerradomys goytaca ou ratinho-goytacá. Estes são os nomes científico e popular dados pelos pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a uma nova espécie de mamífero descoberta no Parque Nacional Restinga de Jurubatiba, unidade de conservação fluminense gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O nome se deve ao fato de a espécie estar restrita à região litorânea do norte fluminense, antigamente habitada pelos índios Goytacazes.
Estudos morfológicos e genéticos conduzidos pelos pesquisadores William Correa Tavares, Leila Maria Pessôa e Pablo Rodrigues Gonçalves, da UFRJ, logo mostraram que as espécies mais aparentadas ao ratinho-goitacá estão no cerrado (por isso, "Cerradomys" = rato do Cerrado).
Com a descoberta dessa espécie, novos estudos estão sendo desenvolvidos para entender sua origem evolutiva, ecologia, comportamento e como as transformações regionais causadas pelo homem poderão afetar as populações do animal.
A descoberta contrariou as expectativas de que toda a fauna das restingas teria fortes conexões com a fauna da Mata Atlântica. Apesar das distinções de temperatura, salinidade e umidade entre restingas e florestas atlânticas, as pesquisas científicas realizadas até então mostravam que as espécies de mamíferos das restingas eram as mesmas encontradas nas florestas atlânticas adjacentes.
Mas tal hipótese, de que a restinga seria apenas um subconjunto da biota da Mata Atlântica, caiu por terra com a descoberta dessa nova espécie de roedor exclusiva das restingas de Jurubatiba. Os pesquisadores descreveram recentemente a espécie, e derrubaram a tese até então corroborada, em um artigo publicado no fascículo de junho da revista internacional Journal of Mammalogy.
O ratinho-goitacá habita preferencialmente as moitas de Clusia, a árvore mais comum na parte mais aberta da restinga, ao contrário de outros mamíferos de pequeno porte que preferem as matas mais úmidas.
Durante o dia ele permanece em seu ninho em meio às bromélias ou mesmo nos galhos da Clusia. Já à noite ele sai para realizar suas atividades, dentre elas, um delicioso banquete com coquinhos do guriri ou juruba, famosa palmeirinha que deu nome ao Parque. O ratinho-goitacá é um dos principais consumidores e dispersores.
Segundo o chefe do parque, Carlos Alexandre Fortuna, a consolidação do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e o progressivo fortalecimento da UFRJ em Macaé têm contribuído para um avanço científico sem precedentes no conhecimento sobre a biodiversidade preservada nas restingas da região. "Alguns avanços são representados pelo crescente reconhecimento das restingas como berçários de novas espécies na Mata Atlântica, especialmente de pequenos mamíferos, reforçando a necessidade de preservá-las", frisou Fortuna.
Ascom/ICMBio
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