O PRIMEIRO REFÚGIO

Millôr Fernandes deu uma espécie de atualizada na frase do pensador inglês Samuel Johnson. O doutor Johnson, como é citado, afirmou que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Para Millôr, no Brasil, “é o primeiro”. 

Uma das grandes preocupações jornalísticas do portal GLOBO é com o novo namorado da atriz Paola de Oliveira. Está lá no portal que a moça namora o ator Joaquim Lopes, ex de Taís Fersoza e que jantaram juntos num restaurante em “Miami” (Barra da Tijuca, versão brasileira). Tudo documentado, com foto e direito a “não comento nada agora”, disse a moça. Foram embora no carro de Paola.

Se isso não for o suficiente para você ficar bem informado e formado, tem abaixo um monte de indicações sobre a atriz. Lá, aqui não.

Vai daí que a turma está querendo vender a idéia que Zelaya é golpista e está complicando a vida do Brasil por ter se abrigado na embaixada de nosso País em Honduras.

Quem só está de passagem e não conhece Manoel Zelaya, o distinto, com vasto bigode, é presidente de Honduras, foi eleito pelo voto direto e deposto por militares, empresários, banqueiros, latifundiários, com direito a direção norte-americana. Não se trata de show da Broadway. É bala de verdade, nada de festim.

E muito menos de julgar o governo Zelaya. É democracia estúpido, pelo menos como vendem os norte-americanos na cervejaria Casa Branca, mas naquele negócio de a cerveja ser de segunda e o rótulo sugerir outra coisa.

Se Zelaya é bom ou ruim, é problema do povo hondurenho. E o povo hondurenho está nas ruas querendo a volta de seu presidente.

Miriam Leitão (não confundir com ET, está provado que a história dos rapazes panamenhos era chute e o ET apenas uma preguiça em adiantado estado de decomposição) acha que não. Que os hondurenhos estão entrando numa fria e que o governo brasileiro se lascou nessa.

Há uma expectativa sobre o presidente da Colômbia e seu terceiro mandato. Lá não foi bem compra de votos, como FHC aqui. Foi farta distribuição de coca de boa qualidade, além do vota ou morre.

Sete bases norte-americanas para a garantia dessa democracia.

Como não significa ser petista ou lulista (são diferentes, paralelas que se encontram no infinito) defender a decisão do governo brasileiro e a volta de Zelaya.

Dilema mesmo é o mesmo Millôr quem propõe. “entre um crente e um bêbado, ambos xiitas em suas preferências, com qual você fica?”   

Como dizia o poeta Sílvio Machado, “nunca vi nenhuma boa idéia surgir em leiteria”.

E tem um detalhe de suma importância no processo não pense, veja a GLOBO. Paola foi posar para uma revista, entrou com uma roupa no estúdio, saiu com outra, o que levou os “especialistas” globais a concluírem que ao sair e além de tudo sorrindo, a moça fez “a alegria das fãs”. Sem contar que o tal Joaquim terminou com a tal Taís no aeroporto, retornando da lua de mel.

Sugiro dez bases norte-americanas e comando de general de quatro estrelas. Que tal ressuscitar Patton?

Numa enquete assim de bobeira, uma turma, negócio de um terço, acha que Paola é sexy, outro tanto menos um pouquinho que é talentosa e dezoito por cento que é “gente boa”.

Boca boa como dizem.

E tem mais. Está assim lá ó – “NOVO CASAL! PRISCILA NAMORA EX DE GRACYANNE BARBOSA” –. O detalhe revolucionário é o ponto de exclamação. 

Os canais de filmes da chamada tevê fechada separam algumas preciosidades para as sextas-feiras, em tese dia de terror, gatos pretos, etc. Treze então é um delírio. Esta semana promete, um deles deve exibir em premiere “BOM DIA BRASIL!”. Direção de Boninho, com Miriam Leitão e Alexandre Garcia. Ana Maria Braga faz uma ponta esclarecendo esse negócio de fauna e flora.

Pedro Bial faz a apresentação dos heróis. Tem desde milhões de mortes por gripe suína e assim, sem querer aparecer, mas aparecendo, uma caixa de Tamiflu em cima da penteadeira da “atriz”, coisas do marketing, um negócio que antigamente tinha nome de jabá.

A crise então nem se fala. Quebradeira geral.

É o estilo ficção/terror. No final Miriam sai correndo mato a dentro fugindo das garras de Garcia.

E antes que tudo acabe, gritam em uníssono, com uma agência do Banco Itaú ao fundo, que José Serra salva (num quadro abraçado a Yeda Crusius) e que “Zelaya é golpista”.

E aí, the end.   

Sérgio Porto, encerrando o jornal das dez da antiga tevê Excelsior, costumava dizer o seguinte: “encara a patroa cara, o filme que vem aí é uma droga. Por pior que seja a patroa tenha a certeza de que é melhor, vai fundo”.

Levanta e desliga. Abre a janela e encara a realidade. Mas cuidado para não trombar com William Bonner contando a história dos quarenta anos do JORNAL NACIONAL. Se isso acontecer as crianças não dormem. Chame o bicho papão.  

É tudo patriotismo, “GLOBO E VOCÊ”. Cuidado, porque tem FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO, ÉPOCA, ESTADO DE MINAS, o escambau. Se tiver infográfico então, corra, o máximo que puder. Junte todas as forças e corra. Se parar e se meter a entender para depois explicar é caso perdido. Irrecuperável.

Lembra do Big Ben Bolt? Pois é, naquele pelo menos tinha a página dos quadrinhos. E Mutt e Jeff? Se você não faz idéia do que era o Pafúncio, meu você não sabe nada.

Levanta e desliga.
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