América Latina continua a não valer nada para os EUA em termos de integração das Américas num plano político e econômico de respeito e compreensão da realidade de cada país latino-americano.
Obama quer gestos de Cuba para prosseguir no diálogo com o governo daquele país. Lula foi claro ao dizer que o norte-americano não deve esperar nenhum gesto do governo cubano, mas deve prosseguir nas conversações, já que o bloqueio contra Cuba foi uma decisão dos EUA e é condenado por todos os governantes da América Latina. Puro exercício de prepotência.
Mais ou menos como alguém dar um tapa em alguém e esperar que o esbofeteado peça desculpas. Isso é que Obama propõe.
Como o mundo hoje é de espetáculos, a impressão que o norte-americano passa é que está ganhando tempo nesses primeiros meses de governo, até achar uma alternativa que lhe permita superar dificuldades internas e colocar em prática políticas efetivas. Em relação a América Latina e ao mundo de um modo geral, passam pela compreensão de uma nova realidade que não passa nem pela vaselina, nem pela areia de Bush.
Não basta o sorriso de Hilary Clinton e nem a “magia” do primeiro negro presidente dos EUA. Pelé também é negro e nem por isso significa ou significou algum avanço na luta dos negros brasileiros e do mundo, à medida que um dia declarou pomposamente que “o povo brasileiro não está preparado para votar”. E como disse Romário, “Pelé seria um gênio completo se fosse mudo.”
Obama não tem a menor percepção da realidade venezuelana sob o governo Chávez, a não ser aquela que lhe passa CIA, que é a mesma que a agência passava ao presidente Bush. E assim a da Nicarágua, a de El Salvador, a da Bolívia, do Equador, do Paraguai, muito menos da brasileira. É só ficar atento ao noticiário da principal rede de comunicação brasileira, a GLOBO, para verificar que a linguagem continua a mesma.
Terrorista para lá, ditador para cá e coisa e tal.
Como a história do “piratas” da Somália. Não existem. Mas cidadãos somalis indignados com a pesca predatória e a utilização de seu litoral, de suas águas territoriais para as grandes nações despejarem lixo nuclear, lixo industrial, lixo hospitalar, como se a Somália fosse lixo.
Falar em gestos voltados para os direitos humanos é ridículo para um país que nos oito anos de Bush violou sistemática e deliberadamente todos os direitos de iraquianos, afegãos, colombianos, de povos africanos, asiáticos, que tentou golpes na Venezuela, na Bolívia, que seqüestrou e construiu prisões secretas, usou e usa navios como prisões sem amparo legal, no país de Guantánamo, centro de terror e tortura.
E cobrar atitudes assim do governo terrorista de Israel?
Uma coisa é o governo, outra coisa é o poder. Obama é o presidente dos EUA. O poder nos EUA não. Basta ler as declarações do presidente sobre a situação no Oriente Médio. Continua sendo parceiro do genocídio praticado por Israel contra o povo palestino. Não mudou nada. Submete-se ao lobby sionista tranquilamente, como antes, no período eleitoral, foi lá e disse que estava às ordens dos senhores.
Como vai tocando o barco Obama dá a sensação de ser um produto que breve estará jogado no canto das prateleiras do supermercado mundial de shows e espetáculos. As mágicas têm um limite. As piruetas para chamar atenção da platéia têm um ponto máximo, se tentar ousar numa espécie de vôo estilizado cai e se esborracha.
Precisa, primeiro, perceber a realidade do mundo nos dias atuais e historicamente compreender que o império norte-americano começou o período de declínio. Obama talvez seja o último César com coroa de louros. E depois dele administradores de massa falida.
O que sua política para a América Latina mostra é isso. Não sabe por onde começar e nem por onde terminar. Quem prestar atenção na foto em que o presidente da Venezuela aparece entregando um livro de Eduardo Galeano ao norte-americano vai perceber que se há sinceridade na expressão de Chávez, há pose de estrela no rosto de Obama.
Corre o risco de acabar numa dessas séries que a tevê dos EUA exporta para o resto do mundo.
Em Trinidad Tobago encontrou uma América Latina diferente. A despeito dos presidentes do Peru, Colômbia e Chile ainda em posição de quatro, o resto dos líderes latinos se mostrou coeso e disposto a um novo tipo de diálogo com o antigo dono.
Não é mais aquele negócio de espelho por ouro. Índio ficou esperto e na Bolívia, por exemplo, elegeu o presidente da República.
É ridículo quando o presidente dos EUA fala que a Venezuela e Cuba devem mostrar mais que palavras, devem mostrar atos.
O que o presidente dos Estados Unidos pensa que é, ou quem pensa que é? O dono que quer enquadrar governos legítimos? Como se para viver seja necessária a aprovação de Washington?
Barak Obama corre o risco de terminar todo esse show debaixo de vaias, pois de sua cartola não estão saindo os coelhos que achou que tivesse.
A sensação que causa é que é só casca. Uma grande jogada de marketing. Parece tucano.
O presidente que pretendia revolucionar o mundo e criar uma nova era, o jovem que foi criado pela avô, negro, de origem muçulmana, não vai a uma conferência da ONU em Genebra sobre racismo. O tom do encontro não agrada ao estado terrorista de Israel e Obama não quer cair em desgraça junto aos sionistas.
Obama pelo andar da carruagem ainda chega ao milésimo gol pedindo pelas criancinhas pobres do mundo. E acaba anunciando o creme dental colgate. O desespero disso é que quem paga o cachê é Homer Simpson.
A Cúpula das Américas deveria ter sido um mea culpa de Obama pelas políticas seculares dos norte-americanos em relação à América Latina. Foi apenas um exercício de arrogância, show de estrela de Hollywood.
Bush gostava de vestir o blusão de couro dos aviadores e fingir que pilotava aviões de guerra – fugiu do serviço militar –. Já Obama é outro departamento. É “luzes, câmeras, ação”. Como vai ser a montagem e a edição do filme não sei. As cenas gravadas até agora dão a sensação que na hora agá Rambo vai ressurgir impávido e colossal, a única linguagem real dos Estados Unidos para o que chama de democracia e direitos humanos.
Ah! O cara ressuscitou a conversa de ALCA. Olho vivo, vão apostar tudo na eleição de José Serra. É um funcionário exemplar e o Brasil é de extrema importância para o show de Obama.