A notinha é do responsável interino pelo Painel Político da Folha de S. Paulo -aquele sujeito que fez grande alarde a respeito da intenção de Marina Silva de respeitar a anistia de 1979, enquanto omitia que Dilma Rousseff e Aécio Neves já tinham assumido publicamente a mesmíssima posição pusilânime-, não estando, portanto, imune a erros de informação ou por falta de isenção:
"Depois do pré-sal e da relação com os bancos, a próxima arma de Dilma Rousseff para minar Marina Silva será a política externa. O PT vai acusar a candidata do PSB de pôr o comércio brasileiro em risco ao defender que questões ambientais e de direitos humanos sejam levadas em conta nas negociações sobre comércio internacional. Segundo petistas, isso poderia afetar as vendas de empresas brasileiras para países como China e Rússia, grandes compradores de soja, carne e minério.
O programa de Marina diz que o Brasil não pode 'desconsiderar as diferenças nas agendas econômica, política, cultural e ambiental dos Brics, assim como nos direitos humanos'".
Se o PT vier mesmo a defender o pragmatismo cínico, nocivo e desumano nas relações internacionais, estará se evidenciando um partido imoral, que argui a própria torpeza (o abandono oportunístico de suas bandeiras históricas) para dela extrair benefícios eleitoreiros. Uma caricatura da sigla idealista que os sindicalistas do ABC, os sobreviventes da luta contra a ditadura e a esquerda católica engendraram. Um monstruoso mr. Hyde tomando o lugar do abnegado dr. Jekyll de outrora.
Só para lembrar, eis como o partido se posicionou em seu manifesto de fundação:
"As riquezas nacionais, que até hoje só têm servido aos interesses do grande capital nacional e internacional, deverão ser postas a serviço do bem estar da coletividade...
O PT lutará por todas as liberdades civis, pelas franquias que garantem, efetivamente, os direitos dos cidadãos e pela democratização da sociedade em todos os níveis...
...O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo".
A dar-se crédito ao interino, para ganhar outra eleiçãozinha de uma série que até agora não fez avançar um milímetro "a construção de uma sociedade que responda aos interesses dos trabalhadores e dos demais setores explorados pelo capitalismo" (um objetivo expresso no manifesto de 1980), o PT estaria disposto a impudicamente trombetear que é certo:
- colocarmos os negócios à frente dos princípios;
- mandarmos às favas a preservação do patrimônio natural indispensável à sobrevivência da espécie humana;
- privilegiarmos os interesses dos grandes exportadores de soja, carne e minério, traindo o compromisso de "solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo".
Se isto realmente acontecer, será o caso de considerarmos morto o partido que alguns dos melhores brasileiros criamos nos idos de fevereiro de 1980 e afirmamos graças aos esforços desmedidos de uma militância corajosa e digna.
Então, só nos restará tratarmos de enterrar logo o cadáver, antes que seu fedor se torne insuportável.
Por Celso Lungaretti, no seu blogue.