(Harry Potter e a Ordem da Fênix)
Na quinta edição de Harry Potter no cinema, as diferenças de tratamento dado pelos diretores são irrelevantes frente à força do texto de J.R. Rowling. Chris Columbus, assinando os dois primeiros da série; Alfonso Cuarón, diretor do terceiro; Mike Newell, responsável pelo quarto; e David Yates, comandando o quinto, curvaram-se diante do estilo da escritora.
Houve já uma crítica extremista segundo a qual o conjunto de Harry Potter foi perpassado por uma visão capitalista. Parece exagero, na medida em que não enxerga as contradições e a complexidade que todo texto literário apresenta quando lido sob múltiplos aspectos. As forças dominantes em "Harry Potter e a Ordem da Fênix (David Yates, "Harry Potter and the Order of the Phoenix", EUA/Inglaterra, 2007) são o bem, de um lado, e o mal, de outro (como não poderia deixar de ser), mediado pela burocracia do Estado e mesmo por seu caráter intervencionista e autoritário. Harry Potter (Daniel Radcliffe) comanda o bem, malgrado suas fraquezas de pós-adolescente e sua inexperiência, juntamente com seus colegas inseparáveis: Hermione Granger (Emma Watson) e Rony Weasley (Rupert Grint), ela já mais adulta que os dois, Ron menos palerma que antes. A participação em defesa do bem de Alvo Dumbledore (Michael Gambon), o sábio convincente, com suas longas barbas brancas, de Alastor Olho-Tonto Moody (Brendan Gleeson), Lucius Malfoy (Jason Isaacs) e Sirius Black (Gary Oldman) é decisiva. O mal é representado por Ralph Fiennes, excelente no papel do supermalvado Lorde Voldemort. O mal se torna muito charmoso e atraente quando tem categoria. Lorde Voldemort está presente o tempo todo no filme, embora, pessoalmente, só apareça num breve momento ao final.
Entre ambos os pólos, interpõe-se o Estado, na figura da professora Dolores Umbridge (Imelda Staunton), nomeada pelo Ministro da Magia Cornélio Fudge (Robert Hardy). Embora lecione "Defesa Contra as Artes das Trevas", Dolores tem por missão transformar o retorno de Lorde Voldermort numa alucinação de Potter. Tendo de lidar com o que chamamos de autonomia universitária, ela acaba tornando-se interventora na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwards em nome da ordem. Sob intensa campanha de descrédito, Potter torna-se professor de seus colegas na clandestinidade a fim de prepara-los para enfrentar Voldermort. O grande mestre Dumbledore também se retira, com o poder de sua magia, para retornar em momento oportuno. Afinal, o bem deve sempre triunfar.
Quanto aos assuntos do coração, o grande amor de Potter parece ser mesmo Hermione, mas ele consegue finalmente se aproximar intimamente, neste filme, da colega oriental Cho Chang (Katie Leung). Algo entre os dois não "pega". Uma outra moça, mais romântica, misteriosa e mágica, deve crescer no sexto filme da série. Trata-se de Bellatrix Lestrange (Helena Bonham Carter). Ela é feínha, mas quem ama o feio bonito lhe parece. Além do mais, ela gosta de animais maravilhosos. Coisa de feiticeira.
Sempre que possível, o filme evita os efeitos especiais do consórcio Industrial Light & Magic/Cinesite/Double Negative/Moving Picture Company/Rising Sun Pictures/The Visual Effects Company/Gentle Giant Studios Inc./Machine/Framestore CFC. para ficar com o normal. O roteiro, a cargo de Michael Goldenberg, está mais enxuto e claro que os anteriores, embora leve o filme a se estender por 138 minutos. A fotografia de Slawomir Idziak torna o filme sombrio, na tentativa de enfatizar a proximidade do combate final. Mas a marca principal de J.K. Rowling, presente em seus livros e em todos os filmes da série, é a de uma magia trivializada, meio desencantada, meio indefinida entre o mundo infanto-juvenil e adulto. Muito distante das grandes obras de magia.
