Nos dias 20 e 21 de abril ocorreu a Conferência Nacional Chico Lessa, na cidade de Praia Grande, litoral de São Paulo, com mais de 100 participantes vindos de diferentes estados do país e delegados eleitos nas plenárias regionais com base no informe político apresentado pelo Comitê Central da Esquerda Marxista.
A Conferência ocorreu logo após a exitosa Escola de Quadros Nacional, atividade de formação realizada entre 17 e 19 de abril no mesmo local. (veja aqui como foi a Escola)
Esta Conferência da Esquerda Marxista foi batizada com o nome de Chico Lessa, membro do Comitê Central falecido em 28 de fevereiro em um trágico acidente. A abertura contou com uma emocionante homenagem ao nosso camarada Chico, que nos fez recordar de sua vida marcada pela luta ao lado da classe trabalhadora e da juventude, pela construção do socialismo. A emoção combinou-se com a convicção de que seguiremos seu combate. Ao final, ecoou no auditório por três vezes o grito: Chico Lessa, presente! (veja aqui o vídeo apresentado na homenagem à Chico)
O primeiro dia da Conferência contou com a participação e saudação de representantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do Movimento Esquerda Socialista (MES) – tendência do PSOL, do Partido Comunista Revolucionário (PCR) e da CUT Pode Mais. A organização Espaço Socialista também enviou uma saudação à Conferência.
O camarada Jorge Martin, membro do Secretariado Internacional da Corrente Marxista Internacional (CMI), apresentou o informe sobre a situação política internacional. Enfatizou a profunda crise que atravessa o capitalismo, combinada com a disposição de luta de jovens e trabalhadores ao redor do mundo, exemplificada com as grandes mobilizações que explodiram a partir de 2011: Primavera Árabe, Movimento Occupy e manifestações contra o racismo e a violência policial nos EUA, o movimento na Praça Taksim na Turquia, Movimento dos Indignados na Espanha, manifestações, greves e greves gerais na Grécia, Espanha, França, Portugal, Itália, etc.
Jorge Martin apresentou também a constatação de que estas grandes mobilizações não se expressaram através dos partidos tradicionais da classe trabalhadora, que têm suas direções atreladas a uma política de defesa do capital. Ao mesmo tempo, o que surge é a busca do proletariado pela reorganização sobre um novo eixo de independência de classe, que se expressa de forma evidente no crescimento e vitória do Syriza na Grécia, e no surgimento e ascensão do Podemos, na Espanha. Mesmo com as deficiências e vacilações das direções desses partidos, o fato é que eles conseguiram arrastar parcelas significativas das massas, com um discurso mais à esquerda, diante da falência política dos partidos tradicionais da classe.
O camarada Serge Goulart apresentou o informe do Comitê Central com enfoque na situação política nacional e nossas tarefas, ressaltando que a situação no Brasil é parte da situação mundial do capitalismo e da luta de classes.
Apontou a mudança na situação política a partir de junho de 2013, com as massivas manifestações populares que tomaram o país, e que seguiu com o início das greves de massa em 2014 (garis, condutores, construção civil, etc.) e em 2015 (metalúrgicos da Volks e Mercedes, professores do Paraná e outros estados, etc.). Estas mobilizações evidenciam que o proletariado brasileiro não se sente nem acuado e nem derrotado, mas forte e com muita disposição de lutar, apesar das direções presas à colaboração de classes.
A nova situação política também se expressou nas eleições de 2014, onde o PT, mesmo vencendo no 2º turno das eleições presidenciais, graças a um reagrupamento da vanguarda para impedir a vitória do PSDB, foi duramente castigado nos principais centros operários do país. Logo após as eleições dissemos em “Carta Aberta a Lula, Dilma e à direção do PT” que a vitória apertada de Dilma tinha sido uma última advertência da classe ao partido. O que fizeram foi seguir e aprofundar a política anterior. O governo Dilma aplica um verdadeiro estelionato pós-eleitoral colocando em prática tudo o que criticou no adversário, Aécio Neves, submetendo-se ainda mais aos interesses dos capitalistas, colocando em prática uma política de austeridade com o aumento de impostos e cortes no orçamento para áreas como saúde e educação, além dos ataques a direitos trabalhistas (MPs 664 e 665) e a continuação das privatizações.
Mesmo no caso do PL 4330, da terceirização, o governo não se posiciona por sua derrubada, e negocia emendas apenas para garantir a arrecadação dos impostos federais.
Para completar o quadro, o PT é atacado e não reage. Sedes do partido são alvo de atentados e a direção limita-se a pedir investigação policial. Dirigentes são condenados e presos na farsa do julgamento da Ação Penal 470, o chamado “mensalão”, e o partido e os próprios condenados não combatem a decisão para “respeitar” as instituições burguesas. Bolsonaro em ato público defende o fuzilamento da presidente e nenhuma reação. Isso só deixa a direita mais à vontade para defender suas posições reacionárias. O partido é incapaz de convocar a militância às ruas por causa da própria política que aplica.
Tudo isso aprofunda o rompimento da classe trabalhadora com o PT, a juventude já abandonou o partido há tempos, os trabalhadores seguem o mesmo caminho. O PT vai pelo mesmo rumo do PASOK na Grécia, do PS na França, do PSOE na Espanha. Para os revolucionários, não há mais terreno para a construção das ideias do socialismo no interior do PT. Diante de tudo isso, o Comitê Central da Esquerda Marxista propôs à Conferência tomar a decisão de saída do PT.
Após um rico debate, com diferentes intervenções do plenário, por unanimidade foi decidida a saída da Esquerda Marxista do PT para seguirmos no combate pela construção da organização revolucionária.
Também por unanimidade foi aprovada a impulsão de uma frente de esquerda, que busque agrupar militantes, sindicalistas, jovens, estudantes, grupos, organizações e partidos dispostos a levar um combate conjunto na luta de classes. Nesse sentido, a Esquerda Marxista apresenta uma primeira proposta de manifesto para abrir a discussão, intitulado “Manifesto por uma Frente de Esquerda. Unir para vencer e fazer um mundo novo nascer!” (veja aqui o manifesto)
A Esquerda Marxista seguirá debatendo internamente até setembro os próximos passos a serem dados pela organização na atual conjuntura a partir da decisão de saída do PT. A frente de esquerda é o combate central imediato da organização, combinada com a campanha “Público, Gratuito e Para Todos: Transporte, Saúde, Educação! Abaixo a Repressão!” junto à juventude.
Os militantes encerraram com grande ânimo essa Conferência, a decisão de saída do PT abre as portas para um salto na construção da organização. Isso foi constatado já nas discussões com os contatos após a divulgação de que o Comitê Central apresentava essa proposta à Conferência.
Ao final, os camaradas cantaram “A Internacional”, hino da classe trabalhadora. Nitidamente os presentes saíram com disposição renovada para seguir na luta pela revolução, pelo socialismo. Para seguir a luta da vida do camarada Chico Lessa, que deu nome a essa histórica Conferência.
Junte-se a nós nesse combate!