OSCAR NIEMEYER E A DITADURA

Um dos maiores gênios contemporâneos, 103 anos de idade, o arquiteto Oscar Niemeyer está num hospital e segundo os médicos em estado grave. Foi hospitalizado dias após os 50 anos da construção de Brasília, cidade desenhada e projetada por ele e Lúcio Costa, exatamente para ser a capital do Brasil. O presidente era JK.

Niemeyer viveu o tempo do arquiteto francês Le Corbusier e foi um dos que participou da elaboração do projeto do edifício sede das Nações Unidas em New York. Comunista, projetou para o PC francês sua sede em Paris.,Tinha, tem, os contornos da foice e do martelo.

Um dos seus trabalhos mais polêmicos foi o monumento a JK em Brasília. Um general de quinta categoria, Walter Pires, ministro do Exército, implicou com o trabalho. Segundo o general (cúmulo da esculhambação) da Praça dos Ministérios a visão que se tinha do monumento sugeria uma foice e um martelo.

Foi o mesmo general que negou honras militares ao marechal Lott quando da morte do notável militar brasileiro.

Militares de um modo geral não pensam. Marcham e agem sob comando. No caso do Brasil, a maioria recebe ordens de Washington Chegam direto do Pentágono. Foi assim em 1964 e continua sendo assim.

Não me recordo direito quem, mas parece-me que Clemanceau, foi o autor da frase “a guerra é um negócio sério demais para ficar nas mãos dos militares.

Em 1964, em seguida ao golpe comandado por Vernon Walthers e pela IV Frota sob a batuta do governo norte-americano, Niemeyer teve os direitos políticos suspensos e foi preso sob a acusação de ser subversivo, contrário, na concepção dos golpistas à “democracia”.

Com a costumeira cortesia que os caracteriza um dos carcereiros do arquiteto quis saber como ele havia ganho algum dinheiro. A resposta de Niemeyer foi curta e grossa “dando o c...”

Só não sofreu torturas e violências mais severas, pois a reação da comunidade internacional se fez sentir junto ao ditador da época, o marechal Castello Branco. Sobre Castello há um dado interessante que pouco se fala. Em 1960 chegou a ser cogitado para compor a chapa de Jânio Quadros. Udenista de coração, o marechal não sofreria vetos, exceto o fato de não ter votos. Não acrescentar nada à candidatura do bêbado renunciante.

O arquiteto foi o autor do projeto básico dos CIEPS – centros educacionais – idéia de Darcy Ribeiro e obra de Leonel Brizola. A democracia acabou com a idéia. O receio que filhos de trabalhadores bem alimentados, educados e com diploma às mãos pudessem ameaçar a frequência dos filhos das elites aos iates clubes do Brasil. Pelo menos até o negócio falir e não ter como contratar ou globais ou estrelas decadentes de Hollywood para “namorar”.

Se bem que a moda hoje é contratar sisters do BBB

No curso do programa já se tem o que os caras do ramo de automóveis chamam de test drive. Ou quase.
Pelo menos uma visão aproximada da turma que Boninho gosta de aquinhoar com água suja. Alexandre Dumas narra em suas obras sobre a flor de Lys. Marcava a conduta duvidosa e uma delas serviu com dedicação ao cardeal Richelieu. A vantagem no caso é que não se tratava de pedofilia. O instrumento hoje ou é pulseira, ou é tatuagem.

Determinados atores da história sabem a hora de entrar e a hora de sair. Tancredo, por exemplo, saiu na hora certa. Como entrou na hora certa. Tomara que Niemeyer fique por mais tempo. Para que se possa contemplar o gênio lúcido (nem todo gênio é lúcido) e consequente. Ouvir as lições de um grande brasileiro, cidadão do mundo.

Oscar Niemeyer, faz muito tempo, transcende ao Brasil e ninguém sabe direito o nome do coronel que queria saber como ele ganhava dinheiro.

É o caráter implacável da História. Maradona fez um gol com a mão, ou com os punhos, mas e daí? Naquele momento foi assim, na História a Argentina foi campeã.

Daqui uns mil anos mais ou menos será que alguém vai lembrar de Bento XVI de forma diferente da de um cardeal fascista que se agarrou ao poder na Igreja e fechou um ciclo de dois mil anos de pelo menos respeito?

“Aceito o Cristo de vocês, mas não aceito o cristianismo”. Outro homem do mundo, Ghandi.

Àquela época um coronel tentou explicar a Sobral Pinto que os militares iriam implantar a “democracia a brasileira”. Sobral, do tamanho moral de Niemeyer explicou ao coronel, estava preso o advogado, que “democracia não é como peru ou frango. Não existe a brasileira, ou a francesa, ou é democracia, ou não é”.

Faltou força moral ao coronel para responder. Alguém sabe o nome do distinto coronel?

Ao invés de ter colocado o título OSCAR NIEMEYER E A DITADURA poderia ter posto algo como o 'ARQUITETO DO MUNDO”, ou o parceiro Dele.

É importante no entanto mostrar o contraponto. A força da borduna. Não sobrevive a um espirro, mas contamina o mundo historicamente com os exemplos de barbárie. Átila? Tudo bem, mas numa escala menor qualquer ditador tenha sido ele Castello ou Medice, Pinochet ou Vidella. Esses caras.

“Hei de ser Hitler um dia” devem ter pensado, sonhado, desejado.

Niemeyer é a outra ponta do contraponto, digamos assim.

“Hei de ser humano”.

Ainda há esperanças apesar de tudo. Dos tucanos, de Kátia Abreu, do sionismo, ainda há esperanças, com certeza que há.

As lições de Oscar Niemeyer.
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