ODALCY LORINHO DA TELERJ E OS OLHOS DE MANFREDO...

OS OLHOS AZUIS DE MANFREDO E O SORRISO TIMIDO DE ODALCY LORINHO...

Existem duas Macaés nestes últimos 25 anos. Uma Macaé que diminui a cada dia e que se encolhe e outra que incha de uma forma, às vezes benéficas outras ruins para a sua história.

A Macaé verdadeiramente moldada em nossa história vive nos cantos, vendo ser feita uma tentativa de passar um mata-borrão em suas origens e abortar figuras terrivelmente alheias as verdades históricas de suas raízes. Sorte nossa que a PETROBRAS trouxe muita gente boa e muitos de seus filhos estão ai a misturar-se com o sangue dos nativos...

Por isso é que quando morre um pilar de nossa história a gente fica pensando na lacuna que se abre de uma forma triste e saudosa. Manfredo Frota era uma espécie de remanescente de uma Macaé que se esvai no tempo. Sua beleza humana trazia na fala e na inteligência o brilho herdado de seu pai Silvino que se moldou de forma harmoniosa às noites boêmias da cidade nos anos 50. Os seus olhos esverdeadamente azuis se pareciam com os de Ereny Monteiro e faziam a gente pensar que tinha hereditariedade em seu saudoso cunhado Paulo Neto que era também possuidor deste azul que mais parecia o mar de Imbetiba em seus dias de belezas e encantamento, hoje tão triste e moribundamente amarelado...

II

Manfredo, Milcélio, Cláudio Itagiba, Fernando, seu irmão, Alvinho Paixão, Dodô, Palito de seu Hipólito, Byra irmão de Iltamir eram uma parte viva das noites macaenses e Manfredo se sobressaia por ser um dos poucos que lia e relia os grandes vultos da cultura brasileira e internacional. Às vezes sua presença se fazia junto do Elso Mussi, outras vezes estava com Motinha, Turrinha, Tonito, Levy, Barcellar, Walter ou Faetinho no bar São Cristóvão de Sylvio e Ivo Lopes. Vez outra no Ipiranga em sua domingueira, com Arley, Dunga ou Buruca ou Celso Mancebo. Era sempre uma presença macaense que ele harmonizava com seu vulto esguio e belo.

Quantas vezes Manfredo entrava no bar de dona Dadá e discutia com Birosca sobre Futebol e era ouvido por Luiz Pinheiro ou Luiz Carneiro? À tardinha era com Itinho Cabeludo da Boa Vista ou Mirian Almeida da Rua do Meio ou Cláudio Moacyr ou Zezinho Crespo ou Bill.

Era sempre Manfredo que trazia as novidades filosóficas que falava com Euzébio Mello, Ferdinando ou Carminha Garrido. Seus olhos romperam as décadas de 50, 60 e nos fez seu admirador e amigo. Quantas noites Antônio Parodi, Roberto e Ricardo Moacyr o viram passar com seus livros embaixo do braço indo para o Imperatriz conversar com o mestre Upiano? Manfredo fechou para sempre os seus olhos azuis...

Acho que foi por isso que, após a ressaca, a Imbetiba amarelou. Devia estar sendo misturada na essência deste nosso macaense que se foi.

III

Macaé está triste. Um pilar de sua consistência cultural morre em pleno início vigor de sua inteligenvia.

Quem sabe volte a brilhar na beleza dos pirilampos que voltarão as nossas ruas com o blecaute que se anuncia? Será que os vaga-lumes têm olhos azuis?Afirmo que tem.

'Uma das poucas idas as noites neste início de século recebi de outros olhos verdes/azuies um cândido agradecimento pelo meu texto. Era sua filha que vinha até minha solitária mesa afagar-me em gratidão pelo que disse do bom Manfredo... Numa mesa distante eu era a programação afetuosa de uma linda e doce Reiquiana...

IV


Lorinho, o nosso Odalçy

O ano era de l979 e era muito difícil formar o PT em Macaé. Além do temor de participar de um partido que se ensaiava como de esquerda, Macaé, historicamente, tinha suas raízes de esquerda num modelo diferente onde os anos de lutas tinham no PCB a hegemonia.

Tínhamos uma missão difícil. Fomos à luta para fundar o partido. Euzébio Mello, Honório José, Omir Rocha, Odalcyr Motta e Eu. Estava feita a primeira comissão do Partido dos Trabalhadores do Estado do Rio de Janeiro. Depois se fundou no Rio e o PT se espalhou. Hoje é um partido gordo bem nutrido e, em alguns de seus membros com cara de PSDB e PSD. Bem distante das origens mais ainda com cheiro de PT apesar dos perfumes importados que alguns usam nas noites macaenses. Mais ainda tem a teima dos que, iguais a Lorinho, Euzébio e Omir, sabem que a mentira tem pernas curtas e que a fantasia tem que sair após as festividades do Poder.

Nós fundadores sabíamos disso por essência ideológica. Euzébio se foi. Omir idem e agora perdemos o nosso Lorinho em triste desastre de automóvel.

Odalcyr sempre esteve à frente das lutas políticas de Macaé. Na Telerj, onde trabalhou por anos e anos, sempre esteve ao lado das justas lutas de seus companheiros preferindo as poeiras das ruas ao refrigerados da diretoria. Era sempre com seu olhar brejeiro e sorriso tímido que a gente o via nas ruas de Macaé onde sempre esteve. Lorinho vem de uma história nitidamente macaense. Na Rua 7 de setembro onde morou com sua mãe com Ceil e Ilse seus irmaosirmãos ele começou trabalhando no O REBATE com Milton Madureira com quem aprendeu o valor do trabalho profissional. Estudando no Luiz Reid foi para a Telerj onde saiu para o trabalho particular. Fiel a família tinha grande carinho por seus filhos e era deles o seu orgulho quando se tinha tempo para conversar. Sua coragem nas lutas ele sempre que podia me confidenciava vir do sangue dos Motas. Havia uma quase certeza que era descendente de Motta Coqueiro. Lourinho é mais um pilar da história das nossas ruas que se vai prematuramente como foi Euzébio e Omir. Parece que o destino tinha que fazer uma das suas e ceifado a vida deste bravo companheiro. Morreu trabalhando o bom e puro Lorinho da Telerj.

As lagrimas que corriam da face do amigo Izaac de Souza e a tristeza do olhar meigo de Mazinho Rocha,no momento que comunicavam a morte de Lorinho, eram a demonstração do afeto que eles tinham por este bravo companheiro...

Com Lorinho se podia conversar sobre as belezas de uma velha cidade que teima em esquecer os verdadeiros valores de suas ruas empoeiradas e alegres...(José Milbs de Lacerda Gama editor de "O Rebate" www.jornalorebate.com

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