Locadoras digitais e o 'espectador sob demanda'

A tecnologia não muda apenas as interfaces da comunicação, hoje muito mais rápida, acessível, interativa e instantânea. Muda, também, os hábitos dos usuários, sejam eles por meio de computadores, tablets, smartphones e até de SmartTVs. O imediatismo passou a ser uma característica latente em grande parte da população global, fato que acaba refletindo diretamente no mercado de forma geral, principalmente, no consumo de produtos audiovisuais.

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A busca por conteúdos de entretenimento e informações que consigam aliar qualidade, bons preços e a comodidade oferecida pelo VoD – Video On Demand (sigla comprobatória dos novos hábitos dos consumidores, que podem escolher ao que vão assisti e no horário mais conveniente à própria rotina) – geraram uma nova fórmula de negócios. Esta, por sua vez, fez emergir novas produtoras e obriga as mais tradicionais a se adaptarem ao “novo jeito de assistir TV”.

A “nova era tecnológica” nos faz viajar no tempo entre passado e futuro. É como se as videolocadoras tivessem migrado das ruas para abrir concorrência em nuvens e datacenters poderosos. E, além de continuarem oferecendo as mais diversificadas opções de inúmeros estúdios, ainda investem na produção de conteúdo próprio para atrair ao público.

Números também explicam tal fenômeno, cuja característica é uma mistura da relação causal com suas consequências. Em um Brasil onde o acesso à internet abrange 67% da população (dados do IBGE), uma pesquisa Video Viewers, da Google, mostra que 86% dos brasileiros assistem a vídeos na rede mundial de computadores. E outros 56% declaram consumir mais conteúdo via internet do que pela transmissão televisiva convencional. Ainda de acordo com o levantamento, nos últimos quatro anos, o consumo de vídeos pela web aumentou em exponenciais 135%. No mesmo período, o crescimento da TV tradicional foi dez vezes menos: 13%. Isso faz com que emissoras gigantescas, tais como a Rede Globo, invistam em conteúdo fora do ar, exclusivos para On Demand. Fator recente, pois, afinal, quem imaginaria isso cinco anos atrás?

A BKS, maior e mais antigo estúdio de dublagem das Américas, estabelecida em um mercado competitivo desde o final da década de 50, se reinventou e expandiu seus negócios: alinha-se a um planejamento para licenciamento de bens de consumo e busca parcerias para criação de novas formas de produção e distribuição de conteúdo em 50 territórios por todo o mundo. A empresa se estabeleceu quando ainda se trabalhava com rolos de fitas de 8mm. Hoje, é 100% digital e capaz de entender a forma de adequar os parceiros mais antigos à nova realidade e atender aos mais modernos com total know-how mercadológico.

Afinal, falamos sobre um público que deixou de ser linear. O espectador não está mais na audiência televisiva. Não espera mais “tal horário” para acompanhar “tal programação”. Pode começar a ver uma série de manhã, a caminho do trabalho, dentro do ônibus, por meio de tablet ou celular e continuar – de onde parou – à noite, na tela de uma Smart TV.

Os canais de televisão, em seus mais variados nichos, somados àqueles que veiculam programação específica de uma produtora/distribuidora – como MGM, Paramount e Warner, por exemplo –, portanto, devem buscar a modernização de seus negócios caso queiram sobreviver entre as “videolocadoras modernas”. Buscar parcerias, consultorias e profissionais para saírem da zona de conforto proporcionada pela digitalização do sinal das antenas e dos decodificadores em HD das operadoras de TV a cabo. Embora possuam, agora, imagens que chegam às residências com muito mais qualidade, ainda passam longe do objetivo de captar o “novo telespectador”, cada vez mais individualizado pelos próprios hábitos e gostos, migrante do convencional para o conteúdo sob demanda. “Conteúdo de qualidade a qualquer hora e qualquer lugar” é o novo lema.


* Jake Neto é VP Global of Sales and Licensing no Studio BKS

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