RUA DO MEIO

Memórias de José Milbs

 

Eu joguei botões com o mestre nas matemáticas Rubens do Patrocínio Junior, o nosso Rubinho, na Rua do Meio

Quando esbarro em gente que me lê em jornais e pedem que escreva algo a energia do ser determinante vem em forma de ordens e faz com que a volta ao computador se faça suavemente feliz. Foi assim quando a professora Leila Ramalho me pediu para escrever sobre sobre Rubinho Patrocínio quando de sua saída do magistério. Leila queria homenagear esta figura maravilhosamente pura que é Rubinho. Me pedia algo sobre ele e afirmava que eu tinha conhecimento dele porque fomos criados juntos e juntos tivemos boas fases na vida. Fiquei pensando que vou dizer de Rubinho? Falaria muito mais seus milhares de alunos em quase todos os colégios de Macaé e do Maranhão onde morou. Ai eu quis cumprir o pedido alegre desta querida amiga e passo para este livro alguma coisa de Rubinho. Foi um dos mais corretos professores de Matemática que tivemos. Se ele quisesse fazer um livro sobre a matéria este não teria apenas leitores em nossa comunidade. Atingiria a geografia maior do mundo das matemáticas. Me recordo dele, ainda menino, nas empoeiradas ruas de Macaé , menino de calças curtas, a fazer travessuras que seus pais Olga e Rubens já viam o brotamento de sua liderança. No Senai, da turma antes da minha ele já punha a mostra seus conhecimentos e sua pendencia para a cultura. No colégio Luiz Reid, estudando e lecionando, passando pela liderança estudantil ele cimentava amigos e admiradores ao ponto se sobressair-se de forma simples e destacada dos demais meninos de sua época. Senhor de uma timidez que lhe ornava o olhar tímido de menino simples eles impunha sua inteligência matemática de forma silenciosa e consciente que o tornou respeitado como mestre e amado com amigo e colega. Pude participar de grandes momentos de sua vida e testemunhei com muitos amigos a sua gargalhada alegre e descontraída nos primeiros copos de chopes das noites saudosas de uma cidadã ainda alegre. Rubens Patrocínio Junior deixa sua história registrada na memória de quem com ele viveu e sua missão de mestre simples ainda vai ecoar muito nas lembranças de nossa gente. José Augusto Aguiar, me confessou um dia que Rubinho foi um dos maiores matemáticas que nosso pais já teve. Ele como o autor fazemos parte das vivencias da Rua do Meio onde tudo começou em centenas de vidas.

Será que consegui dizer o que Leila queria do velho amigo Rubinho?

Ontem foi ao fundo do sítio rever a nascente que tenho. As chuvas de final de outono e princípio de primavera encheram o lago que as pessoas teimam em chamar de brejo. Nem sabem eles que, debaixo de uma cor amarelada de uma água de chuva se esconde uma limpidez que permanece intocada a milhões de anos neste local onde moro. Ao passar pelos pés de Ipês amarelos fui colhendo cachos de sementes que espalhei por toda extensão do Lago. Um simpático vento, vindo do mar dos cavaleiros e da lagoa de imboacica, fez com que suas tenuas sementes se espalhassem por um raio de terra de modo que devem brotar em breve. È uma resistência aos meus visinhos das multinacionais que continuam a aumentar a cada dia milhares de container de galões de óleos negros. Ao alto ainda pude ver, no filete de sol que bate nas águas do lago, alguns filhotes de rãs e sapinhos que contracenam com lindas borboletas cinzas, brancas e amarelas que, sempre em duplas voam por dentre árvores e gramas esverdeadas. Alguns piões das firmas olham e devem me achar muito louco. Não devem estar acostumados a ver,em plena zona de empresas de petróleo alguém espalhando sementes de Ipês e espantando mosquitos para servirem de alimentos para sapos e peixes.

Tudo que busco a aqui tentado relatar, fazem parte de um acervo existente em minha própria introspecção. Posso cometer alguns esquecimentos. Afinal estou passando dos 60 anos e, mesmo assim sinto o ser revigorado a cada pulsar de pensamento que coteja me obrigando a relatar novas memórias.

Vejo hoje que tudo na vida se resume num elo fraterno de gerações. Sentir saudade de meu tempo? Confesso que mais ou menos. Preencho com a beleza dos tempo de minhas netas que serão iguais ao tempo das netas dela.

Por viver o presente não consigo esquecer o passado nem me preocupo com o que as pessoas chamam de futuro.

A roda gigante da vida, como dizia meu amigo João Gurgel, ex dono de um parque de diversões "Guanabara" que ficava sempre na "Praça da Luz". "Hora estamos de cima, dando cartas de mão, outra de baixo servindo café na roda do jogo da existência humana'. Quase ou igual a que o poeta Cazusa falava sobre ainda estar rodando os dados.

Aprendi a ser observador ao ser observado e se deixando perguntar por crianças de 5 anos. Aprendi que a paciência é a mãe do Saber e que o Conhecimento, muitas vezes brota no olhar solitário, sobrepondo-se a leituras a seqüentes livros e discussões filosóficas. Ainda vejo, os primeiros dias do mês de março de minha juventude quando se podia observar , na Lua Cheia de final de verão, o clarear nas amareladas e grossas areias de Imbetiba. Ela vinha avermelhada e se tornava clara e firmava-se impoluta e donatária do belo entre a "Ilha do Papagaio" e o "Morro do Forte". Bem no meio fazia uma estrada natural que vinha até as areias e se misturava as ondas bravias da Praia de Imbetiba fazendo dançar centenas de Peixinhos, Siris, Caranguejos e Ostras que no seu brilhar pareciam banhar-se em revigoramento divino que esta Lua sabia trazer.

Macaé e a Imbetiba de hoje tem o mesmo luar no mês de março. Só que misturado com navios que, ao invés dos peixinhos e seus amigos nos trazem plásticos, fezes internacionalmente misturados a estopas e pedaços de ferros. As areias são avermelhadas, sem brilho e sem conchas e as ondas foram domesticadas e, em seu lugar, uma carreira de pedregulhos lhe ornam a feia vida. Porque não fizeram este "píer" da Petrobrás longe de nossa Imbetiba? È tarde, Inês é morta...


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