RUA DO MEIO
Memórias de José Milbs
Com a chegada do progresso a cidade deixou-se levar pelo canto da sereia e, sua população, se sentiu tocada pela mosca azul. Quem antes apenas alugava quartos nos finais de ano para veranistas, passou a vender imóveis especulados por testas de ferro de outras cidades. Deixaram de continuar a fazer histórias, de morar em suas casas. Preferiram se tornou ex-classe média.
Alguns começaram a dobrar língua e falar diferente, imitando os gringos que vinham a caça de dinheiro e amor fácil.
"As meninas de Imbetiba" e a sociedade conheceu Panetone que era no início confundido com Cotonete ou mesmo Colchonete.
Uma mistura de "boi com abóbora" que fez de Macaé uma presa fácil e a expulsão de seus nativos habitantes para preferirias. Sumiram de nossa visão, nas ruas asfaltadas, os verdadeiros pilares da natividade. Igual ou parecido quando estrangeiros alijavam de suas terras os índios nativos nos anos de nossa "descoberta."
Aeroporto, Malvinas, Nova Holanda, Beco da Titica, Morobá, Campo de Oeste, Novo Visconde, Novo Horizonte, Brasília, Lagomar e Ajuda de Cima e de Baixo foram alguns dos bairros que se criaram em Macaé de forma desordenada e, em sua maioria sem nenhuma infra-estrutura para a habitação humana. Bairros como Vivenda da Lagoa e São Marcos e uma série de outros ao redor deles, foram criados sem nenhuma infra-estrutura. O inchamento da cidade, embora com a chegada de muita gente boa, fez com que se formasse uma visão nova de hábitos e desejos.
As historias vindas das criações afetivas dos avos e bisavos e a certeza de que se tratava de uma fala suave e pura fazia com que a gente viajasse nestas narrativas de forma harmoniosa com o tempo obrigando a um olhar/pedinte de quero mais quando estas historias iam chegando ao fim. Muitas delas repetetidas que fazíamos crer ser inetitas para que pudéssemos curtir com mais sabor a meiguice dos narradores. A do "Gavião com a comadre Coruja" onde ele, amigo da comadre dizia que ia caçar uns filhotes na floresta encantada onde os bichos falavam. Cumpadre, disse a Coruja, cuidado pára não comer meus filhotes. Que isso Comadre? Somos amigos. Mais me diga, Cumpadre, como eles são para eu evitar passar perto. São os mais lindos de toda a floresta. Olhos belíssimos e de cândida beleza, acentuou a Comadre Coruja. La se foi o Cumpadre Gavião que, passando num ninho cheio de filhotes feios, de olhos esbogalhados foi pensando: Vou comer estes aqui, não são os filhos lindos da Comadre...
A gente ficava horas eternas ouvindo estas e outras que no final vinha a risonha sentença de que para os pais todos os filhos são lindos...
Com isso retiraram as CADEIRAS DAS CALÇADAS e com sua saída, saiu também as conversas longas que cederam lugar as novelas. Quando a criançada vem correndo da rua, cheia de novidades, não recebem mais o olhar alegre e perguntativo que tinha a conotação do belo explicativo e integrado. Está tudo mundo se poluindo na masturbação global e, a corrida infantil é silenciada por gestos que cortam todo lindo barato infantil. É um psiu,... psiu... triste, cortante e cruel que entra pela mente da criança e cimenta sua curiosa pureza santa. Esta tecnologia bruta transformou em mármore uma coisa pura que era o entendimento adulto/criança tão sutilmente harmonizado no belo nos idos de uma cidade pura.
Os meninos hoje são obrigados a formarem suas opiniões nas ruas ou nos enlatados que a TV os "empurra goela abaixo" com cenas de vandalismo, bagunça sensual e informes deturpados...
Vocês já notaram a maldade que se faz com as menininhas e menininhos sempre forçados a ver estas novelas da Globo neste final e inicio de milênio? Porque não se cria uma lei obrigando estes senhores do poder a exibirem neste horário, chamado de "nobre", filmes de peixes, árvores e bichos?
O bom senso determina e, a história dos desajustes sociais nos mostram de instante e instante, tendo como causa primordial o "que entra pelos olhos e pela fala." Que se transmite estas novelas alienadas no final da noite e que passasse os pesadelos sexuais para os adulto nas madrugadas carentes nas dos que sofrem de insônias .
Deixe que as crianças sonhem com sua essência, com o belo. Sonhe com o que de mais puro consiste num ser que é a formação natural e lenta .
As manhãs eram assim como o despertar de novos sonhos repetidos em sonhos havidos. Correrias dentro e fora do quintal. "Bom Dia" para lá e "Benção" para cá num ritual que era como um clique de vida e de acolchoamento mental que viria dar formato ao quotidiano que nascia a cada dia e a cada pessoa que se encontrava.
Nos dias de chuva era ver a beleza das flores se aconchegando aos pingos e os bailados de pequeninas gramas se chegando perto das gotículas que a natureza trazia como se estivessem ali pedindo para chover e tivesse sido atendida A harmonia com que o estalar dos pingos das chuvas caiam nos terrenos só eram percebidos pelo olhar doce de lindas e floridas "Margaridas" e "Onze- horas" que sorriam com a vida que renascia a cada trovão que rompia os céus e a cada gotinha que seus galhos frágeis recebiam com carinhosa afeição natural.
A natureza se entrelaçava nesta simbiose de belezas divinas na formação de novas flores e novos vitais na terra molhada. Por entre pequenas vielas, invisíveis ao olho humano, pequeninas formas de gramas amareladas vão se tornando verdes com a entrada, em suas vidas, da chuva que cai nas raízes dentro da terra, agora fofa e criadora.
Os arcos Íris que cortavam os céus, traziam o vôo preocupado de "Rolinhas", Pardais e Sabiás correndo para a agasalhar ninhadas formadas nos pés de Jabuticabas, Tamarindo, Mangueiras, Oitis e Coqueiros, na chácara onde morava dona "Bentinha" esposa do ferroviário Alencar meu vizinho á esquerda.
Ao fundo da Chácara, onde virou Rua luiz Belegard, morava o cambatente/ferroviário Ramialho um socialista/frevolucionário.
Ramialho, numa obra artezanal, nos fazia os inquebráveis piões de roxinho, em madeira de lei.
Ramialho era famoso em toda Macaé. Roberto Petrônio vinha do centro, juntamente com Adelino Marques, Mardonio, "Boca Preta" e Alan "Birosca" para encomendarem os piões feitos da Madeira Roxinha. Coracy Corrêa e Mirian Almeida diziam que nunca viram ser quebrado um deles da "roda dos piões". Os de "Tabibuia" a gente levava sempre na reserva para por "pra rodar".
Waldyr Tavares, que muito me incentivou na confecção de minhas memórias, me conta que Ramialho era um companheiro de frente. Um dia, conta Waldyr , com seu jeito puro de reverenciar amigos, foi ele e Ramialho estenderam bandeiras de greve nas imediações da Estação da Leopoldina.. Época Braba...
Ali, onde tinha um lindo e gracioso chaminé de uma antiga fabrica de tijolos, que a maldade humana destruiu nos anos 90 e que a gente conhecia como "Destilaria". Hoje tem um Super-Mercados que, de tempos em tempos, para fugir do fisco mudam de nomes e de cores.
. Conta Waldyr , que na época, meio ressabiado, novato e com muito medo, não da repressão, pois dela sempre enfrentou com coragem e ideal. Mas ele estava com receio de cortar os pés e mãos já que tinham que romper muros cheios de cacos etc. ao que Ramialho, num salto de gato o chamando a segui-lo, dizia rindo, com a voz forte de revolucionário bolchevique, saído das bigornas e fornos da velha oficina de Imbetiba, dizia -:"venha companheiro,o que é um corte de caco de vidro em vista do que nos espera se formos capturados"
O homem que fazia rodar pião nas inocentes mãos de crianças nas manhãs e tardes macaenses, sabia também dimensionar o perigo, muito maior que uns simples cortes de cacos de vidros, ao estenderem a bandeira do Partido nos anos 50 em plena área ferroviária infestadas de Agentes Iankes e Para-militares famintos por receberem alguns trocos vindo da terras terras macaenses..
E, Ramialho foi puxando Waldyr e, juntos estenderamm a bandeira. O ano, acho, era na metade da década de 50. Ramialho sabia que muita coisa era pior que qualquer caco cortante em seus pés.
Interessante que ainda não vi uma homenagem na Associação de Aposentados da Estrada de Ferro Leopoldina para Ramialho.
Conversando com Lauro Martins meu companheiro de SENAI e de Secretaria Sindical nos anos 60 ele dizia de pichações antigas e hoje de memória alegre dos anos de chumbo.
Um dia foi com a missão de pichar paredes nas imediações do cemitério. Era uma "Fora Ianque". Seria posto um nome de um destes americanos que desde esta época nos incomodava com sua presença nefasta. Devia ser uma espécie de FMI dos anos 50 que tinha o nome de Ponto 4. Tava uma noite fria e, Lauro já com a tinta vermelha misturada. Quando, ao começar a pichação, depois de certificar se da ausência de espionagens, sentiu-se sem condições de cumprir a tarefa.
Lauro nem Lamanda sabiam escrever o famigerado nome do gringo. Deixaram as latas e foram dormir. No outro dia Tote Mello foi checar a missão e cobrando de Lauro soube que nosso companheiro, tinha esquecido o papel com os termos na língua Ianque.
Eu era criança mais já começava a ver estes senhores pioneiros na luta pela transformação social .Nestor Fundão. Sidney Aguiar, "Tote", "Dandão", "Paco Paco", Jorge "Sarará", Miguel, Benedito Trinta, Mariano, Jurandyr "Revesso", Waldyr, "Zé Neves", Carlito Cruz e outros tantos que ainda citarei em capítulos que irão surgindo fazem parte de uma historia de transformação que teve início nos anos de l917 e que estão ainda dando fruto no inicio do ano 2000.
Macaé rodava em torno de um mundo bem pequeno e unido. Na Rua do Imperador morava Araken, filho de Hamilton Paes onde "Gordura" também morava e que tinha em Ailton Silva a expressão maior da liderança . Ailton transitava em todas as áreas de Macaé e seu sorriso de menino ainda mora em lembranças de muitos que tiveram o privilégio de o conhecer.
E "Byra Abreu? Pode alguém deixar de ver nos horizontes do eterno seus olhos lindos de menino? Ele habitava a Praça do Bole-bole, hoje Washington Luiz.
E "Zé Uca", com sua graciosa alegria nata? Seu pai, "seu Moura da Macaense" e dona Maria mãe também de Dodora, Ib , Lenine e Fernando? Zé Uca vinha da Rua da Praia, passava pela turma da Praça Verissimo de Mello e era bem chegado na Praça da Luz e Rua do Meio.
E o sorriso largo e puro de seu Miranda pai de "Bill", "Pau -Puro" e Webe? alguém pode esquecer? Ele nos chamava de "meninos". Era assim que os velhos ferroviários como eles e Walter Quaresma tratavam os alunos do SENAI. Nós preparando para sermos e que seriam futuros ferroviários. Passavam para nós o afeto que seria repassado por gerações. Até hoje o José Pacheco, um mais velho que nós, me chama de "menino" aos 61 anos.
Dentro do mundo de trabalho na ferrovia havia uma grande distância entre as pessoas em termo de idade e tempo de casa. Embora igualitariamente em todos os setores, como pagamento em chamada nominal no trem pagador, e outras tantas funções que exercitávamos, havia, na idade algo paternal no trato.
Era desta Macaé/Rua do Meio que eu sempre quis falar. Longe dos batuques de estacas e perto dos batuques das nossas Escolas de Samba dos Cajueiros, que não tem Caju. Aroeira que nunca vi um pé desta árvore e o Independente que teima em ressoar nos próprios batuques de nossos corações.
Esta cidade não cresceu. Ela inchou com algumas chagas que, poluindo a sua essência, ainda polui a própria essência nativa, transformando em novidades as vertentes naturais de um Rio que deveria correr para o Mar.
As tardes que banhavam o sentar descansativo de centenas de ferroviários, que se acomodavam na sombra da amendoeira do "Bar Mocambo", ainda são as mesmas. Tem o mesmo frescor dos anos 40. Apenas não recebem mais os vultos alegres, as fofocas e os fugidios momentos de encantamento onde as bicicletas eram as testemunhas e esperavam para serem tocadas até Imbetiba quando, o ultimo Buzo tocava anunciando a volta ou a ida dos trabalhadores da Estrada de Ferro Leopoldina.
Era, destas figuras que se misturaram a uma Macaé forte com produtos de filhos e netos que tiveram início nos anos 40, que me propus a escrever.
Pouca gente sabe e acho que nunca foi retratado em livros os inícios da vida dos ferroviários de Macaé no tempo dos Ingleses.Homens semi -analfabetos, pioneiros na formação de um trabalho se aperfeiçoavam na tarefa de mexer com as máquinas e ferramentas que chegavam ao ponto de dar aulas de conhecimentos a engenheiros estrangeiros que aqui vinham.
Eram das "Maria Fumaça", com seus vapores tocados a lenha, que se faziam a verdadeira historia deste pais.
Desde Macaé, passando por Campos dos Goitacazes, indo a Cachoeira do Itapemirim, Vitória e Bicas, em Minas Gerais, homens e mulheres aqui aportaram e fizeram suas vidas nascerem. Filhos serem criados.Igual aos homens do Petróleo nos anos 80. Macaé é a única cidade do mundo que tem uma mistura tão acentuada e forte em sua genética. Desde a Ferrovia ao Petróleo esta mistura é a real motivação de aqui ter um povo extremamente cordial e universalmente feliz.
Nos anos 30 e 40 uma vala longa servia de banheiro coletivo onde, acocorados em tábuas e tijolos, os primeiros ferroviários viram nascer esta cidade no progresso da via férrea. Nos anos 80 os luxuosos banheiros na descoberta do petróleo não diferencia o objetivo comum da nova formula de progresso. Mudou-se o método mais o objetivo é o mesmo: cumprimento das necessidades fisiol´gicas.
Muitos que hoje, em luxuosos e cheirosos banheiros, são filhos daqueles desbravadores que tiveram, acocorados a uma vala fedida, a coragem de dar os primeiros passos para esta caminhada que se aproxima do fim.
'No Balcão do "Mocambo" não se vê mais seu Nicomedes com suas alegres risadas. Temos apenas que nos confortar com a ida de Gilberto para o balcão da "Taberna da Praia" onde ainda se pode recordar entre outros os velhos papos dos anos 50. Gilberto, "Dodô", Nilcemar "Mamá", "Nensinho Cauby" e Assis "Gozado", ainda são remanescente do autodidata que se esvaem nas escaídas de uma cidade que, some a cada tacada encaçapada, na história da existência e no ultimo gole de um chope gelado.
A rua da Praia, cercada de Manacás, escondia os mal pagadores que, para não passarem na rua Direita e serem cobrados, davam a volta por "detrás dos pés de Manacás" com destino ao cinema e a Boa Vista. Quando neguinho via algum se dirigindo para lá já gritava, em risos altos e terrivelmente mal aceitos: "Já vai, heim?
Ainda sinto o cheiro da maresia que vinha nas ondas de Imbetiba com peixes pulando sobre ondas e indo até a praia, pegos com as mãos. Não acreditam? Pois eu mesmo já apanhei muito peixe com as mãos nas pedras rodeadas de mar em Imbetiba e na pedra dos Cavaleiros onde hoje, as crianças do Projeto Botinho do corpo de Bombeiros, se reúnem.
Quando algum Ferroviário mais elegante vinha pedalando uma Monark com aros cromados falavam aos cantos: De bicicleta "Novinha em Folha heim":? Até hoje não sei o porque desta frase "Novinha em Folha".
Quem gostava muito de desfilar com uma Monark colorida e,que acendia luzes ao toque mágico do freio na mão esquerda, era Lamanda e Maury "Loucura de Maio".
A ferrovia marca o início de uma transformação profunda na cidade nos anos 30, 40 50. Não só pela cultura que se misturava como pelo casamento com gente nativa. Miramar, Cajueiros, Aroeira, Imbetiba e Praia Campista foram as semeaduras destas misturas de sangues, vindo dos trilos das velhas locomotivas nas transferências de gente de toda a parte.,O que acontece, hoje, com a Petrobrás, na mistura de gente e raças foi, iniciada com a ferrovia.
Num canto de mesa, a velha Rumba sonoriza rastejante e assume o ambiente das recordações:
"Um dia.
Uma vez lá em Cuba,
dançando uma rumba,
disseram que eu era.
E, o breque repetia em todos os ouvidos que viviam a época:
"Escandalosa
Escandalosa"
E todos iam ia assobiando e cantarolando com destina as Oficinas de imbetiba a espera do Buzo do Meio Dia. No auditivo o som da Radiola do Mocambo.
Macaé ganhou com tudo isso a forte raça que desponta nos anos 2006 com belas e opulentas cabeças nascidas destas transformações. As misturas iniciadas no final do Século com a chegadas dos Petroleiros, fortaleceram ainda mais a vertente sanguínea de nossa formação nos próximos 20 anos. São homens de todas as cidades do Brasil outros do exterior que chegam a cidade e se amalgam as nossas culturas nativas.Trazem suas histórias e Lendas, seus filhos e filhas que com os nossos formam a cultura que não se encontra em lugar nenhum do Brasil.
Nos colégios, Públicos ou Particulares os meninos e meninas buscam fortalecer o vínculo de uma nova cidade que, saída do ciclo da Ferrovia, entra no ciclo do Petróleo com o fortalecimento de um novo afetivo entre seus descendentes.
Assim como nos anos 30 e 40, a nativa e pura Macaé recebeu os velhos ferroviários, ela hoje, nos anos 2000, recebe e se mistura com velhos Petroleiros que fazem revigorar o sentimento do amor universal que faz a cidade crescer. Novos bairros são formados com habitantes que chegam em busca de trabalho onde iniciam a troca de informes culturais e aprimoramento da nossa cultura nativa.
A gente fazia nossos "Barquinhos" de folhas de jornal ou de cadernos deixados, a correr, por entres pingos de chuvas em beiras de calçada.Ficavamos observando para ver onde iam nossos sonhos tão belamente vestido neste paraíso que só crianças e velhos podem ver e sentir.
Eu morava na rua do Meio com minha Avó Alice Quintino de Lacerda, meus bisavós Emílio Quintino da Silva e Adelaide Bastos da Silva, meus pais Ecila Maria de Lacerda Gama e Djecyr Nunes da Gama e minha irmã Djecila Maria de Lacerda Gama. Ivan Sergio, meu irmão caçula ainda nao havia nascido nos anos 40.
Esta rua depois ficou sendo rua doutor Bueno não sei nem porque. Era preferível que continuasse sendo rua do Meio. Teria melhor entendimento e sentido.
Acho que deve ser algum destes que chegam e somem da vida da comunidade ou quem sabe pai ou mãe de algum vereador de uma época qualquer.
Tem uma passagem engraçada sobre este nome de rua Dr. Bueno. Nos anos 80, Bueno Agostinho foi candidato a prefeito. Bueno sempre foi uma pessoa engraçadíssima e de fina inteligência. Um dia eu me encontrei com ele numa roda de eleitores. Afirmava com veemência que era ele o homenageado. Embora ele sendo do PDS e eu, ainda acreditando no PT, fui chamado e tive que confirmar, sob seu olhar rígido e algumas catucadas em minhas costas.
Era melhor que fosse ele o homenageado.Pelo menos este Bueno sentia as poeiras de nossas ruas e a gente sabia quem era.
A rua da "Poça", do Sacramento e a do Cemitério eram as únicas que davam acesso a Imbetiba nos primórdios da Leopoldina. Walter Quaresma, Tinoco Keller, Sebastião da Silva Rosa, Rubens Patrocínio, Lucas Sardinha, Theodomiro Bittencourt , e Aristóteles Mello, irmão de minha mãe de leite Nilza Mello Keller, me diziam que estas ruas eram os caminhos que os levavam até a Imbetiba. Troncos, pássaros, flores silvestres eram os seus companheiros nas caminhadas soturnas de idas e vindas ao trabalho ferroviário.
Vez ou outra um encontro com algum pescador, que vinha dos arrastões e os cumprimentos em madrugadas frias, esquentavam novos relacionamentos macaenses nos anos 30 e 40 e 50.
Uma espécie de trilhas por entre troncos e árvores. Tudo feito com o andar humano. Daí que quando se fez as ruas, e estas eram 4, somadas a Rua da Igualdade. Por isso é que a doutor Bueno é a rua do Meio.
Estes senhores ferroviários, alguns distante do outro em posições político/ideológicas, foram os pilares da formação e forjamento de uma cultura macaense. A ferrovia, com eles e com outros que no decurso de outros relatos vou tentando lembrar e retratar, impulsionaram a região e misturou uma infinidade de raças que, espalhadas por toda a comunidade, estão representada por filhos, netos e bisnetos destes desbravadores.
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