Os Tavares, os Silvas, os Almeidas, os Pratas
e a HISTÓRIA DE MACAÉ.

José Milbs de Lacerda Gama


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O entardecer do Século XIX

No início do Século, precisamente em 1915 nascia um menino que viria se chamar José Milbs, numa homenagem dos pais Mathias e Alice. Era o nome de uma santa, sacada na folhinha do Sagrado Coração de Jesus.

Santa Milburgenes deu origem ao nome Milbs, a alegria de Alice e Mathias foi interrompida pela doença de nome crupe, que dizimava vidas no início do século em cidades do interior. José Milbs morreu aos 2 anos.

Uma catástrofe que o acalento dos amigos e a fé de Alice não conseguia sepultar. C om o tempo nova gestação veio criar novas alegrias e esperanças ao casal,

Mathias sempre dizia que tinha de deixar um filho homem para CUIDAR OS NEGÓCIOS DA FAZENDA. Das compras e venda de animais e, a maior das preocupações que era o transporte de madeira pelo Rio Macaé que cortava a fazenda Airys de ponta a ponta.

Em l919 nascia Ecila, uma nesga de tristeza, pois queriam, no íntimo, que viesse outro menino. Tudo bem, Ecila foi crescendo sempre ouvindo histórias, se relacionando com a morte e ausência presente de José Milbs. Sempre que sua mãe Alice ia a igreja era sempre rezando, orando pela alma do seu anjo desaparecido.

Não demorou muito tempo e o Mathias teve que ir ao Rio para exames de rotina. Era vereador e amigo do presidente Feliciano Sodré, Governador da Província do Rio de Janeiro.

Aceito o convite e tinha sido nomeado juiz da Comarca. Não chegou a tomar posse.

MATHIAS MORRE AOS 64 ANOS

A tarde ainda recebia os ventos frescos vindos das ilhas quando o apito do trem dos ingleses avisava que estava para chegar o Expresso.

Uma pequena multidão aguardava na estação, cabisbaixa, a longa espera. Num vagão agregado aos normais da rede ferroviária vinha um que tinha uma diferenciação dos demais.

Em Rocha Leão e em Rio Dourado tinham colocado uma bandeira negra avisando que o Capitão Mathias, vereador dos mais íntegros de Macaé, estava sendo levado para sepultamento. No horário certo o trem deixa aos cuidados de amigos e parentes o corpo embalsamado do homem que viria a ser o avô materno deste que escreve estas memórias.

Dona Nhasinha nunca tinha tido tanta dor. Se não bastasse a perda de José Milbs, tendo a filha Ecila com apenas 8 anos e ela tinha que perder o ente amado.

O homem que a havia feito conhecer o verdadeiro amor. Morria ali, não o pecuarista Mathias Coutinho de Lacerda, morria a eternidade, morria ela no seu mais sofrido dos sentimentos, o da perda total.

Não fosse sua força, sua tenacidade e saber que tinha uma menina de 8 anos para criar, achava que não resistiria. Ficou Alice viúva com uma imensidão de terras sem que pudesse ter ânimo para cuidar.

Viúva com duas enteadas jovens e uma filha de oito anos, sem um varão para cuidar da grande fazenda do Airys.

A noite ao deitar e embalar o sono sagrado da filha Ecila, Alice tinha forças para segurar suas lágrimas.

Agora rezava e orava por dois entes Mathias e José Milbs. Já tinha em sua companhia seus pais Emílio e Adelaide, que juntavam forças para o triste e prematuro golpe.

Ecila via todo esse sofrimento, embora muito jovem , pensou: "quando eu me casar, tiver um filho vou colocar o nome de José Milbs e dar a minha mãe essa alegria".

Ecila povoava de alegrias a vida de Nhasinha que além de ter as responsabilidades de cuidar dela, ainda cuidava de seus pais Emílio e Adelaide, com uma idade já avançada.

As correrias de Ecila no casarão da rua da Boa Vista, onde morava, eram alguns momentos onde Alice podia se deixar esquecer da imensa saudade que lhe torneava a mente.

Ecila, menina muito levada e esperta, tomava todo o tempo das preocupações dos velhos. Ora na casa de Pastora, vez por outra na casa de Brandina e Albertina, ou mesmo na de dona Elisa Diniz. O tempo ia passando belamente feliz nestes anos de dor e felicidade.

O casarão da rua da Boa Vista, que dava fundos para o límpido e imponente Rio Macaé estava sempre cheio de amigos e parentes que vinham em visitas diárias e felizes.


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