Os Tavares, os Silvas, os Almeidas, os Pratas
e a HISTÓRIA DE MACAÉ.

José Milbs de Lacerda Gama


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ECILA

Foi nesse ambiente que aos 8 anos Ecila viveu na rua da Boa Vista. Lá foi onde Pastora, Brandina, Albertina, Dona Elisa Diniz, parentes e amigas fizeram a vida ter um sentido mais ameno na perda de Mathias Coutinho de Lacerda. As passagens das boiadas indo para a fazenda de Chico Machado deixava a rua da Boa Vista com um cheiro de fazenda e o sol que fazia brilhar a passagem do Rio Macaé no fundo do quintal tinha a beleza límpida de suas águas cristalinas. Alguns pescadores estendiam suas redes e caniços na pesca de lindos robalos e robaletes que salpicam ao vento ameno que banhava as horas tranqüilas desta cidade ainda menina e virgem.

Este casarão onde Ecila nasceu é onde hoje mora a família de Geraldo Franco, filho de Jayme Franco, onde se podia, ainda numa Macaé que morre a cada dia que seu passado se esvai, deliciar-se com um dos bolinhos de trigo mais gostosos que comi. Jayme com sua candura de uma Macaé bela, que ele representava, esperava Geraldo nas madrugadas e fazia para ele e seus amigos este presente dos deuses. As idas minhas nesta casa estava longe de saber que ali tinha residido minhas descendências e minha mãe tinha nascido. Até hoje me pergunto se Jayme tinha este conhecimento.

Um dia em que passeava com minha mãe Ecila pelas ruas de Macaé, numa de suas vindas, ela foi desfilando os locais de sua infância.

Na rua Direita falava das pessoas de seu tempo ainda rua solitária, sem calçamento, empoeirada, sem iluminação e docemente bela e afetiva.

Dizia de seus colégios quando passamos nas cercanias do forte Marechal Hermes, Lembrava de seu namoro com meu pai Djecyr nas tardes de baile tocado a manivela, recordava com brilho infantil no seu olhar octogenário e límpido, as serenatas de Manduquinha.

Seu colar de belas fantasias reais teve uma parada brusca quando ela avistou a casa onde morou na Rua da Boa Vista. Em segundos pediu que parasse e, abrindo a porta de meu Chevetinho 85 azul, foi entrando na casa como se dona dela ainda fosse.

As pessoas que estavam na sala como que , sem lá como, revendo a sem conhecer responderam seu alegre cumprimento e ela, como uma criança de 80 anos correu pra um quarto e foi taxativa:

"Foi aqui , meu filho, se dirigindo a mim, num olhar de menina, foi aqui que eu nasci. Em poucos segundos estávamos todos conversando sobre a Velha Macaé de seu tempo com as reminiscências de Bicuda Grande, Airys, Conceição de Macabú e Carapebus. Ela falava em Pastora, Brandinha, Albertina, dona Elisa e em seu Valfredo, Ael, Eliete e Ilma. Eu, ainda complementava sua fala, dizendo que uma das meninas de Brandina tinha se casado com um simpático Português de nome António.

As recordações iam se transformando em falas e ela perguntava por Tiúca, António, Dayse e Lygia. Não esqueceu nem de Gustavo que eu nem sei se ainda vive.

A forte relação de minha mãe com Macaé era tão intensa que em São Paulo, de tanto ela citar fatos e gente desta sua infância e adolescência tinha o afetivo apelido de Baronesa de Macaé.


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