O Casamento de deu no distrito de Quissamã, na fazenda de nome Santa Francisca onde meu bisavô era administrador. Até pouco tempo eu tinha muita curiosidade deste fato e ele foi esclarecido por minha mãe Ecila em l999 quando lhe perguntei sobre o casamento de "Nhasinha" e Mathias.
Daí foi que fiquei mais preciso da fecunda amizade que minha avó tinha por Ruben Almeida e Francisco Almeida Pereira. "Chico" Almeida era um dos proprietários da Fazenda onde tem uma capela local da celebração do casamento.
Um fato que muito marcou minha infância era quando ia a casa de dona "Santinha", esposa de Joaquim Santos na rua Pereira de Souza.
Era uma senhora de fino trato que me deixava feliz em vê-la conversar com minha avó "Nhasinha". Almoço, café da tarde era onde eu gostava de ir.
Mais tarde quando dirigia ""O REBATE soube que ela era avó de Cláudio Upiano Nogueira Itagiba meu amigo e redator e mãe de meu padrinho o médico Moacyr Santos.
Acho que os afetos macaenses se atraiam muito no tempo em que a cidade engatinhava no progresso.
Mathias levou consigo duas filhas, Doca e Ondina de seu primeiro matrimonio com a irmã de "Chico Lobo", como já me referi.
Durante o período de viuvez confidenciou que tinha dois filhos naturais de um seu relacionamento com uma mulher negra. Estes meninos chamavam-se Mário e Zélia, que mais tarde vieram a ser educados por "Nhasinha" a pedido da mãe dos menores.
Além desse casal , Mathias Coutinho de Lacerda disse que tinha tido mais filhos durante o período de viuvez de seu relacionamento com duas senhoras de Conceição de Macabú. Estes meninos se chamavam Benedito. Ambos levavam seu sobrenome Lacerda.
Claro que a existência desses filhos naturais sempre acompanhou a vida de minha avó, que se referia a eles com afeto. Benedito Lacerda cresceu e entrou para a Leopoldina e foi um dos responsáveis para eu ingressar no SENAI, já que eu era seu sobrinho e ele me olhava sempre com carinho.
Era uma pessoa meiga como meiga era "Morgadinha" sua esposa. Durante a minha juventude eu tive Benedito sempre por perto, me dando bons conselhos e carinhos quer na Leopoldina, quer no Fluminense, onde ia com amigos. O outro Benedito seria o músico que foi morar no Rio de Janeiro. Tocava flauta.
Quanto ao "Benedito Flautista",não tenho confirmação de seu parentesco com meu avô. Embora ele tenha se casado com uma senhora de nome Ondina, tendo vindo em minha casa para conhecer minha avó, acho que a filiação com meu avô ficou longe devido ao pouco contato que tiveram com ele.
Mathias Coutinho de Lacerda nunca mentiu para Alice Quintino de Lacerda, daí o forte laço de carinho que norteou suas vidas durante o tempo em que se fizeram casados e que se estendeu na própria viuvez de Alice Quintino de Lacerda por longos 33 anos.
Nos primeiros anos de vida comum, Nhasinha morou na "Fazenda Airys" de propriedade do casal.
Meus bisavós continuaram em Capelinha do Amparo. Alice e Mathias viviam sua nova vida em Airys, uma das mais lindas fazendas de Macaé no início do Século.
Para se ter uma idéia da dimensão do poder que exercia Mathias Lacerda na região, historiadores de Conceição de Macabú citam até hoje a Fazenda do Airys como marco de divisão em suas histórias.
Era dessa fazenda, que mais tarde Alice Lacerda vendeu, por não poder cuidar, que se extraiam as madeiras que eram levadas pelo Rio Macaé até a cidade com o mesmo nome
Um fato que me marcou foi quando eu perguntei, já menino , porque ela vendeu a Fazenda do Airys já que era um coisa deixada por meu avô e que podia ainda estar com a família. Ela disse que dentre outras coisas foi porque não tinha um filho varão para tocar a fazenda.
Sendo uma cidade pequena onde todos se conheciam, não era muito difícil as comunicações sociais entre os moradores. Seu Mathias, conhecido como Capitão Mathias, além de respeitado homem de negócios, era influente na vida da comunidade. Com ele, Júlio Olivier, Custodio da Silva Jr., Bento Costa Jr., José Miranda Sobrinho., Henrique Daumas, Antenor Tavares, Chico Lobo, Cezar Mello, Laffaiette Vieira e tantos outros participavam das grandes decisões políticas e sociais dessa época .
Mathias Coutinho de Lacerda assim como Custódio, Júlio Olivier e José Miranda Sobrinho, eram vereadores na década de 20 e seus nomes constam dos anais dessa casa legislativa . Todos são nomes de ruas .
Ainda não haviam sido feitas as reformas da Rua da Praia e o Amanhecer Macaense era beirando o encontro do Rio Macaé com o Oceano Atlântico, numa bela imagem fornecida pelos encantos dos raios do sol com o estrondoso e aconchegante encontro do Rio com o Mar.
A Pororoca tinha o sabor mais que perfeito e vinha com cheiro de maresia e odor de peixes frescos.
Ao sentir a proximidade do encontro dessas duas divindades, os Robalos saltavam em mergulhos frenéticos e as Sardinhas saiam em lindas correrias em busca do amor livre e feliz com seus pares. Robaletes, Muriongos, Cirys, Peixe-Espada, pequeninas Piabas e algumas Ostras nativas se assanhavam em passeios que faziam brilhar suas escamas em harmonia com o Sol que, saliente e alegre dava seu toque de coloração ao ambiente.
Havia quem afirmasse que via os peixes saltitar em belas investidas, de um lado do rio para o outro do lado do mar.
Essa integração Natureza, Mar e Terra teve seus dias terminados com o progresso e a reforma da rua da Praia que criou barreiras de cimento entre o belo e o feio.
Barcos grandes e com gente de formatos estranhos e vozes misturadas com sotaques diferenciava os nativos que, sentados nas beiradas das calçadas, via o tempo que passar.
Muitas espécies de peixinhos morreram desacostumados com os paredões erguidos. Pulavam, batiam com o corpo na cimentação vendo a morte chegar em seguidos sofrimentos.
Seria o auto-sacrifício da espécie ante tão desumano e triste ação humana? Já se podia antever, nessa época, o que seria a história de uma cidade tão vilipendiada num futuro não muito distante, em suas belezas naturais.
Bom seria que Mota Coqueiro, ao invés dos 100 anos eternizasse a lendária praga. Assim muitas de nossas belezas ainda estariam sendo vistas.
Quer destino pior que teve a praia de Imbetiba invadida e destruída pela descoberta do Petróleo no final da década de 70?
Quem andava nas ruas empoeiradas e lindas nesse início de século XVIX sabia da natural beleza que emanava de suas ruas esburacadas longe do fedor das descargas de automóveis e carretas
Tinha o cheiro saudável dos suados bois e cavalos que eram comuns desfilarem em ruas e vielas.
O Bom Dia dos cavaleiros era ornamentado pelos sorrisos alegres das senhoras que enfeitavam a passarela com suas cadeiras no decorrer das ruas mal dimensionadas e belas.
Ainda não haviam os apitos dos trens dos ingleses e Macaé dormia sua história em noites de embalos infantis. Sonhos doirados na verdadeira e original realidade.
Milhares de pirilampos davam beleza as noites com seu piscar belo e natural...
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