Os Tavares, os Silvas, os Almeidas, os Pratas
e a HISTÓRIA DE MACAÉ.

José Milbs de Lacerda Gama


7

DESENCARNAÇÃO

Aos 7 anos passei a ver um novo mundo diferente daquele em que habitavam figuras tão lindas de se ver.

Mirnes Lobo, um dos mais renomados estudiosos da doutrina Kardecista, e que participou do passamento de Adelayde, disse, no inicio deste século: foi a primeira pessoa que ele tinha visto desencarnar e que pedia para sair da matéria com uma convicção incrível e declarada do dever cumprido".

Segundo Mirnes, ela pedia que retirasse do seu quarto a sua filha "Nhasinha" que estava, com choros e tristezas, não deixando que ela fizessa a passagem..

Tão logo minha avó "Nhasinha" se retirou ela pediu vela, fechou os olhos, sorriu e partiu...

Maria Angélica, irmã de Pierre Tavares da Silva Ribeiro chamava Adelaide de "Mãe Dona".

Pierre conta que quando veio, ainda solteiro, de Conceição de Macabú para Macaé, foi recomendado por seus pais que ele tinha duas primas em Macaé a quem deveria procurar. Eram "Nhasinha" e "Santa". Pierre veio, procurou "Nhasinha" e, juntos fizeram uma pensão onde dezenas de pessoas que vinham estudar em Macaé ficavam: Segundo o próprio Pierre, esta pensão ficava na rua da Praia.

Moacyr do Carmo Rodrigues, vindo de Bom Jesus do Itabapoana, Wilson Fadul e Glorinha eram alguns dos meninos da época que ali ficavam.

NHASINHA

Quando Alice Quintino da Silva, filha única de Seu Emílio, de "Mãe Dona", casou-se com o fazendeiro Mathias Coutinho de Lacerda , uma grande família estava se unindo. Ele, oriundo de Cabo Frio, filho dos Lacerdas de Araruama e Rio Bonito. Ela dos Silva de Seu Emílio e mais os Tavares , os Pratas e os Almeidas da Dona Adelaide. Nessa mistura de gente se forjaria, mais tarde, os braços genéticos de uma geração de pessoas que o autor está inserido.

Alice conheceu Mathias quando de uma visita que o fazendeiro fez ao sitiante Emílio, numa compra e venda de cavalos. Moça bonita, ela conquistou o coração de Mathias, que na condição de viúvo declarou ao seu Emílio suas intenções de casar com a linda Nhasinha, que nessa época tinha um pequeno namoro com um comerciante de Quissamã.

Ela não tinha ainda sabido das conversas havidas com seu pai e o Mathias. Estranhava muito o seu Mathias, um senhor mais ou menos l8 anos mais velho que ela, sempre estar, ao visitar seu sítio, de conversa com ela. Tinha até uma ligeira rejeição ao Mathias que, com o tempo. foi lhe conquistando a atenção ao ponto de lhe confessar as suas vontades, Já sabido pelo seu pai Emílio e sua mãe Adelaide que após conversarem com "Chico Lobo" e "Santa", que conheciam Mathias e, recebendo dos mesmos as boas referencia,

Não imaginam que, mais de 100 anos depois fariam parte da historicidade de nossa região. Abrindo espaço para que uma nova história se fizesse nesta cidade Macaé, aumentando e criando um geração de ilustres e nativos descendentes. O pai de meu bisavô Emílio também negociava com cavalos Dele é o tronco dos "Ribeiros", "Silvas" e "Tavares" que se espalharam por Capelinha do Amparo, Paciência, Macabuzinho, Quissamã e periferias.

MACABUZINHO

Das suas origens de "Macabuzinho", isso tudo nos idos de l800, época em que eles , os pais de Emílio e vovó Adelaide, residiam nessa localidade. Minha bisavó me dizia que seus pais eram contemporâneos de Mota Coqueiro que tinha umas terras em "Macabuzinho" e que por não quererem aceitar a imposição do pai de um seu sitiante, que sabia de seu romance com uma filha. Eles pediam parte da fazenda. Mota Coqueiro então mandou matar toda a família, pondo fogo na casa deles. Diziam que a mulher de Coqueiro, homem de muitos escravos, tinha também um romance em Campos onde ficava muito tempo.Como se trata de informação vindo de gente que viveu a época, dou credibilidade e afirmo sem medo de erros que Mota Coqueiro foi o autor do assassinato de uma familia em Macabuzinho.

.Minha bisavó sempre dizia isso e detalhava os fatos sempre que era perguntado.

Os pais dela vivenciaram todo o desenrolar dos acontecimentos e afirmavam que foi ele quem mandou matar a família do homem. Ele tinha mesmo mandado matar os seus sitiantes, pois além de não ter que dar nada para eles como deveria ter que dar, pois diziam que a moça estava grávida dele. Sua mulher em Campos ameaçava tomar a fazenda. Ele era rico e violento, além de amigo de gente do Govêrno.

Voltando a história dos meus avós. Namoro, noivado. Nhasinha então se casa com o fazendeiro Mathias. Antes, ele diz ser pai de 2 meninas de um casamento em viuvez, com uma irmã de "Chico Lobo", também proprietário de terras na "Bicuda Grande".

Essas duas meninas se chamavam Leonor Lacerda e Ondina Lacerda.

"Chico Lobo" por coincidência, era casado com "Santa", prima irmã de "Nhasinha".

As afinidades familiares foram um impulso muito bom para que o casal pudesse começar suas vidas. Interessante frisar que naquela época era muito comum as pessoas casarem por influência familiar e, por coincidência Macaé, Conceição e Carapebus eram quase uma família.

Dificilmente Seu Emílio iria permitir sua única filha "Nhasinha" casando com alguém que não pertencesse a comunidade e, ainda mais, viúvo. "Chico Lobo" também negociava com cavalos, uma prática muito comum em Macaé, Quissamã, Carapebus e Conceição nos idos dos anos l800 a l900.

Era salutar as crianças, sentadas ao redor dos mais velhos escutarem suas andanças a cavalo por Cachoeira de Macaé, Rocha Leão, Rio Dourado, Macabuzinho, Quissamã e mesmo Campos e Cabo Frio. Eles iam sempre em busca de negociações de cavalos e terras e traziam lindas novidades e ficavam horas conversando sob o luar ou mesmo a luz de lampião.

Como não havia comunicação outra, essas eram as verdades que circulavam em toda a comunidade.

"Chico Lobo" e "Santa" tiveram uma forte influência na decisão do casamento de Mathias Coutinho de Lacerda e Alice Quintino da Silva . Dácio, Mirnes, "Joca", "Pitico", Penha mais duas meninas eram filhas de "Chico Lobo" e "Santa" que sempre eram figuras que povoavam meu mundo infantil com colocações dos mais velhos com fotos e fatos havidos em suas vidas.

Macaé no final do século XVIII era uma cidade habitada por genéticas Carapebuenses, Quissamaenses e Macabuenses.

Todos se conheciam e a presença de Mathias Coutinho de Lacerda na comunidade era uma aceitação aos seus dotes de homem probo e de grande envergadura moral, social e financeira.


< anterior índice próximo >

 

Jornal O Rebate