Quando meu filho José Paulo, tinha cinco anos, pedia para contar histórias do tempo em que minha idade era igual à dele. Ele dizia que a sua "Tia Leila" do "Ana Benedita" quer saber coisas além das coisas que o escritor Tonito Parada deixou de escrever em "COISAS E GENTE DA VELHA MACAÉ".
José Paulo diz que "Toninho" Parada (ele chama de Toninho) é muito inteligente, dizendo ele que soube no Colégio. Confirmo que sim e digo que o Tonito foi meu Professor e do irmão da Tia Leila, Binho Ramalho, quando a gente estudava no Senai em 1953. Ela ministrava aulas de Fisica e Quimica para a gente.
Como José Paulo só acreditava em história que começa com ERA UMA VEZ, lá ia eu:
"Era uma vez uma cidadezinha muito bonita, que tinha uma praia de nome Imbetiba, de areia que a gente batia e caía sozinha do corpo, e que era dona de ondas esverdeadas e pedras cobertas de balsedos azulados".
Era a praia mais bonita do mundo. Tinha uma bacia natural na qual a gente se banhava. Até pouco tempo, Marquinho Brochado, Jojó, Cláudio Santos, Niltinho e Renault brincaram nela.
As tardes eram umas misturas de Sol azul e céu cinza-lilás. À noitinha, quando os sinos da matriz soavam e eram ouvidos até no Mercado de Peixes , barcos entrelaçados de gaivotas e tesoureiros saudavam pescadores que vinham do alto mar.
Nas praças, gente de idade mais que a nossa, era cumprimentada (naquele tempo se dava "Bom Dia", "Boa Tarde" e "Boa Noite").
Numa Estaçãozinha de Trens, a vida era mais movimentada que no resto da cidade. De tarde, vinha o EXPRESSO. À noitinha, vinha o RÁPIDO e, pela madrugada, num apito que sonorizava música chegava o NOTURNO.
Muita gente descia do trem. Não havia os desastrosos ônibus e, lá do outro lado da linha, onde mora "Tia Leila', não tinha casa nenhuma". Havia apenas uma casa onde morava uma senhora de nome Filhinha. Era nossa prima.
Era uma "viagem da Rua do Meio até lá". Vielas pela Chácara do Chico Lobo; pulando valas na Praça da Luz, onde foi enforcado o Motta Coqueiro que seu bisavô Emilio conheceu ; desviando de cachorros no tronco do Pé de Tamarindo, olhando a bela casa de dona Yayá Vieira; dando uma passadinha em Conceição Almeida, Izolino e tia Domingas. Enfim, era um dia de sagrada alegria para mim, menino na sua idade, contava eu para José Paulo.
Esperando o trem, sempre havia 4 carros de Praça, todos muito reluzentes. Os donos ficavam horas e horas passando flanelas até que o trem vinha. Era sempre com um pequeno atraso, o que nos dava mais euforia. Os motoristas dos carros eram pessoas muito queridas em nossa pequena e meiga comunidade. Otacílio Caramelo, que é pai do ex-marido de sua Tia Leila e que foi o primeiro proprietário do Rápido Macaense, o pai de Moadyr Vitorino, e um homem muito alegre de apelido "Papa Capim".
Uma cidade muito feliz, esta do meu tempo de sua idade, continuava com ele a minha história...
Um dia, quando que a maldade humana habitou a cabeça de um governo, desativaram os trens que carregavam a gente.
Ai, a Estação ficou triste. Nem o Seu Petrônio, pai de Ricardo e Roberto, passou mais com uma Chaleira de Café e com o prato de Mãe Benta pela Rua da Estação.
Naquele tempo, ainda não tinham inventado a garrafa térmica, que conserva mais fria que a velha chaleira de ferro...
O apito do trem cedeu lugar às buzinas e a estação ficou com cara de velho de asilo, só, pensantemente aceso e infeliz..
Quem sabe, um dia, algum menino que hoje tem sua idade,não governa o Brasil e faça voltar os trens.
E aí, como toda historinha, ela termina com José Paulo respirando profundamente.
Hoje, quando o vejo com 17 anos, alçando seu vôo de adolescente para rapaz, me veio esta vontade de escrever ...
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