Menino acostumado a ir para escola pública, as vezes de tamanco, as vezes de sapato. Naqueles anos 40 as escolas em Macaé eram chamadas de escola isolada, e eu estudei no Colégio de Dona Dolores Soares e depois na Isolada I. O Colégio de Dona Dolores era na casa dela mesmo.
A Isolada I era onde hoje é um posto de gasolina, em frente ao Banco do Brasil, que por sinal era a chácara de minha avó Nhazinha. Nesse colégio isolado, morou mais tarde o major Nogueira, pai de Osmar Ponta Grossa, um dos bons goleiros .
Osmar Ponta Grossa seguiu a carreira de militar do seu pai e, no Exército chegou ao posto de General sendo um dos mais jovens do Brasil a ocupar este posto. Seus irmãos Waldyr, Sérgio e Carmélia se casaram e formaram famílias em Macaé onde residem.
Nesse colégio Isolado I tinha Dona Déa Coelho como professora. Era filha de Seu David da rua Télio Barreto, um lindo senhor de cabelos brancos .Um homem bonito e alegre.Mas tarde vim a saber do parentesco com minha família através da Lindaura e tia Domingas que moravam na rua da Estação.
Eu, Sylvio Clímaco da Silva, Lenice, Francisco, Elmo Mendes, Indaiá (alguém tem noticias dessa figurinha linda que morava numa casa perto de onde morou Gildinha e Gervásio?), éramos dessa turma, me lembro, e disso Silvio Araponga não se esquece. Sylvio atualmente mora no Miramar e das informações que tenho ,via Tinoco irmão de Bijú, ele teve a vista afetada pela diabete e faz parte de um movimento de ajuda aos cegos. Sylvio sempre soube dar a volta por cima. Herdou de sua bondosa mãe a persistência pela vida e a alegria de servir...
Um dia tivemos uma aula de festas. Imagine quem era o cantor? Eu.!!! e, cantei "QUI SERÁ". era uma canção muito famosa na época. Até hoje Sylvio, ri quando lhe dirijo cantando. Fazem quase 50 anos e me recordo. Faço uma reverencia homenagem a ele, meu bom e meigo Sylvio irmão do Bonga e irmão de Léa, que casou com Elson, irmão de Adilson da Barra.
Sou Vasco por causa de Adilson Pereira. Ele morava na Barra do Rio macaé, numa casinha simples de pescadores que, ao fundo ia sair no Mara aberto do Oceano Atlantico. Eu noutra casinha simples na Rua do Meio, perto da Casa de Caridade de Macaé, onde as ondas de da Praia de Imbetiba caiam mansa e lindas as beira de nossas casas sem porteira e com visinhos.
Nas nossas tardes de idas e vindas da rua do Meio até sua casa e da casa dele na minha Adilson ia fazendo a minha cabeça para ser Vasco. Mais tarde quando encontrei no INAMPS com Walter Pereira, seu irmão mais novo, este me reafirmou ser Vasco também por incentivamento de Adilson.
Era no tempo de Barbosa, Augusto e Wilson. Ely, Danilo e Jorge... Tesourinha, Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico. Este era o time que a gente sabia de cor e colocava nos nossos jogadores de botão em jogos nas varandas e calçadas.
Adilson tinha um botão de casca de coco e eu um tirado do casaco de meu avo que a gente chamava de botão feitiço porque ele era todo cheio de esteiras saliência em seu interior. Eles sabiam levantar as bolinhas e cobrir os goleiros.
Claudio Moacyr, que mais tarde foi prefeito de Macaé, jogava botão mais seu time era o Fluminense. Todos da defesa de Claudio era de casca de coco e eles tinnham os nomes colados...
Castilho, Pindaro e Pinheiro já era o time que Levy, Roulien e Cláudio Moacyr sabiam de cor... As vezes íamos jogar na varanda da Casa de Cascalho, o time era enxertado por alguns jogadores do Corinthians e Palmeiras, com a presença de Zizinho do Bangu, Heleno do América e Leônidas...
Quando um jogador fazia gol de cabeça ao se cobrar um córner ou uma bola cruzada era hora de chamar pelo nome de Baltazar.Todos faziam parte das fantasias infantis que rondaram as imaginações de toda criança até a eternidade...
Ainda sobre Adilson, estudou comigo muito tempo Morava na barra, vizinho da casa onde mora hoje Maria das Graças e Aluisio Costa. Elson seu irmão se casou com Lea irmã de Paulinho, Sylvio Araponga e Bonga. Elson eu revi no PT e na Associação de Ferroviários Aposentados nos anos 90 onde juntamente com Mazinho filho de Dandão, Naná, Lauro, Walter Quaresma ,Tinoco deu "Novos Rumos" as lutas sindicais de Macaé.
Aí vai a música. Que cantei nos meus 8 anos e que Sylvio, hoje com deficiência visual, ri alegremente quando de minha voz escuta e relembra....
Qui será
Da minha vida sem o seu amor
Da minha boca sem os beijos seus...Qui será
Da minha alma sem o seu calor...Qui será
Da luz difusa do abajour lilás...
O encabulamento que cora a face da gente nesta idade de sonhos e realidades que não voltam é comum a todos os tempos que tem criança de l1 ou 12 anos. Faz parte da criação que nenhuma tecnologia irá exterminar. Podem fazer filmes de sexo em horário infantil, massificar em campanhas globalizadas, mais jamais será apagada da infância os momentos de seu primeiro amor nascido nos bancos escolares.
Na Escola Isolada dei os primeiros passos na vida meio livre, era uma forma de ir para casa sozinho. Atravessando vielas e becos na Macaé do meu tempo de menino na rua.
Ainda não tinha a casa do Antonino Curi e uma Vala cortava a cidade com seus caminhos feitos pelos passos humanos seguidos por uma carreira de grama certinha como se cortada fosse por máquinas. Era a marca de uma estradinha que ia da rua Agenor Caldas até a rua da Igualdade passando pela rua do meio e sacramento;
Pois bem, nessa vala tínhamos um amigo o Grebe. Nunca mais soube dele Pergunto por Grebe a Biju Tinoco, ele não soube dizer nada.
São pessoas que ficam gravadas na ,mente e que não se pode deletar. "Zé Relaxado", Orlando "Landinho" Pereira que aos 84 anos neste inicio de Século tem uma das mais lúcidas e rápidas memórias que se tem notícia. "Landinho" era ajudante de Caminhão do "Zé" de Moura Santos e detalha com minúcias fatos macaenses que ele conta como se tivesse um computador instalado em sua mente.
Por detrás de uma barba por fazer, um sorriso desdentado e um olhar de menino ele anda pelas nossas ruas com seu radio de pilha demonstrando o final de uma geração de negros que com sua morte ficaremos sem ver. "Landinho" perambula, fala, recorda e sorri como uma flor que nos encanta em seus momentos de beleza e odor...
Às vezes a gente ia em Ramialho fazer pião, ou mesmo nos Cajueiros conversar com o sapateiro "Fubeca", que jogava futebol igual ao que Garrincha jogaria nos anos 70. Ramialho fazia Piao Roxinho, de madeira que nunca eram quebrados nas rodas. Os de tabibuia, comprados nas lojos nao resistiam. Se partiam ao meio.
Conhecemos "Biriba", "Têca", "Alfredinho" Arley, "Padaria" , "Sinhô", Benoni, e Oséas os melhores jogadores de futebol que Macaé já teve.
Discutíamos, em nossas noites, debaixo das árvores, sentados nos troncos do "Pé de Mija-Mija" e sob luar belo, quem tinha maior força no chute se "Bené", "Biriba" ou "Sinhô"... Nunca descobrimos. Uma coisa sabíamos: nenhum perdia pênalti. "Tadeu", "Elminho" e "Bibinho" sempre achavam que "Biriba" jogava melhor que "Padaria". "Bill" discordava e "Rubinho" dizia ser "Fubeca" Numa coisa todos nos tínhamos uma unanimidade. Sinhô era o mais elegante de todos... Um pela força que era "Bené" e outro pela maestria que era "Biriba". Ou pela malandragem de "Fubeca" as nossas discussões caminhavam e varavam tardes noites.
Mais tarde, quando num mergulho ia me afogando na praia de Imbetiba, fui salvo por um irmão de "Biriba". Apelidei ele de "Salvador" que sempre que o via nossos cumprimentos eram uma eterna .revisão do acontecido. Era o António. Ate hoje Sidney "Peixe Rei" me cobra uma lembrança deste ferroviário que, me vendo afogar no terceiro e derradeiro mergulho fatal, pulou da Pedra do "Rodrigo" e me pegou já moribundo.
Foi daí que meu medo de nadar se firmou com mais veemência e os pesadelos noturnos se acentuaram com maior agressividade.
Os Cajueiros era um prolongamento da rua do Meio. Velhos moradores, os Sardinhas, Tibira Vianna pai de Maury, Seu Pinto, pai de Lucimar, Heitor Paes. Almir que veio a se casar com a irmã de Suênio. Ë um bairro de formação nitidamente ferroviário. Uma mistura de cores e peles lindas se formavam a cada ano e eram vistas nas verdes ondas da praia de Imbetiba em seus finais de semana.
O banho de mar era uma obrigatoriedade e nos fins de semana se podia ver, saindo das ruas e vielas que levavam até a Imbetiba, centenas de jovens belas seguidas por outras que vinham passar verão em Macaé.
A cidade ficava cheia nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. Os carnavais eram os melhores do Estado do Rio. Clubes, como o Fluminense, Ipiranga, Tenys, Palmeira, Americano, Atlético e Reis tinham freqüência garantida em 4 noites super cheias. As ruas eram tomadas pelas escolas de Samba saídas dos bairros.
O Independente da Rua do Meio, o bloco dos Cajueiros faziam disputas que eram acirradas e disputadas nas ruas e becos. Cláudio Pinto, filho de Monclar, sobrinho de João Pinto e Titinha estudou todos os meandros do Samba e se tornou um conhecedor profundo...
O Tenys desfilava com dois blocos o "Azul" e o "Branco" onde se destacava a figura inesquecível e folclórica de José Passos Jr. que, deixava de ser um sisudo Farmacêutico para assumir o folião. "Juquinha" que com sua simpatia e irreverência era sempre uma constante presença organizativa e alegre.
O velho Abraão Agostinho funda um clube perto de nossa casa. Esquinas da Igualdade com Júlio Olivier e lhe dá o nome de "Clube Atlântico". Funcionava onde mais tarde, na parte térrea, seu Lima teria a "Padaria São Jorge" onde Lazyr e Mouzart se fizeram nosso...
Durou pouco tempo o clube Atlântico, como duraria pouco o clube que "Dermeval do trailler" fundaria no Bairro Visconde com o nome de "Rodo". Suas ausências foram se juntar ao "Palmeiras" e o "Reis" que também deixaram histórias nos Cajueiros. As boas coisas, dizem, duram pouco. De uma coisa eu tenho certeza. Muitos namoros e casamentos foram iniciados no "Atlântico" de "seu Abraão" e no "Rodo" de Dermeval.
O Sol ainda teimava em ficar nas tardes e seu fim de inicio de noite era um vermelho moreno nas casas do Morro do Carvão onde habitava o alegre líder comunitário Lealdino Magalhães. Era uma espécie de homem que servir com carinho todos os moradores. O Viaduto, onde tinha sua residência não parava de ser visitado por todos que o admiravam e recebiam dele o afetuoso sorriso e a voz compassada e firme. Seus filhos se espalharam por toda a cidade e Lealdino,que chegou a ser vereador e líder tinha o carisma que falta e some em nossas andanças por um tempo de beleza que se extingue.
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