VIVI MINHA VIDA EM ÓRBITAS CRESCENTES,
QUE ME DISTANCIAM DAS COISAS DO MUNDO.
TALVEZ EU NUNCA CONSIGA ALCANÇAR A ÚLTIMA,
MAS ESTA SERÁ A MINHA TENTATIVA.
ESTOU GIRANDO EM CÍRCULOS AO REDOR DA CRIAÇÃO, AO REDOR DA ANTIGA TORRE,
E HÁ MIL ANOS ESTOU GIRANDO.
E AINDA NÃO SEI SE SOU UM FALCÃO, OU UMA TEMPESTADE, OU UMA CANÇAO.
Escrever uma cronica/livro, onde retrataria a vida vivida, era uma sonho que sempre esteve presente na minha existencia . Se todas as pessoas tivessem este desejo e o fizessem, existir, creio que o conhecimento seria bem mais fácil, principalmente quando se tratar de algo que se pode passar para os filhos, amigos e contemporâneos.
Não pretendi nem pretendo algo que possa ocupar polemicas ou que tenha o objetivo de virar coisa grande. Acho que todos que lerem estas memórias se colocarão dentro dela e encontrarão algo de identificação com a própria existência.
De Macaé, onde vivi meus mais longos anos, busco colocar fatos havidos, gente que conheci e coisas que sei do conhecimento público.
Melhor seria se cada um de nós pudesse fazer seu próprio livro. A confrontação de um com o outro, de memórias em memórias poderiam formar a verdadeira vida da cidade e de seu povo.
Saber de avós e bisavós que o nome de Praia dos Cavaleiros vem das Cavalgados dos habitantes dos Campos dos Goitacazes e dos habitantes de Cabo Frio que ali pernoitacam, se encontravam, debaixo de uma Centenária Figueira onde nasciam as grandes trocas de Fazendas, gado, cavalos e nascentes namoricos. Meu avô Mathias Coutinho de Lacerda, numa dessas cavalgados, conheceu a familia do Francisco Lobo, casou-se com sua irmã e comprou o Airys...
Não busco as histórias de vencedores ou de possuídos pelo poder. Evitarei, na medida do possível, dar vida ou colorido aos que se agregam aos poderosos, acocorando-se e capitulando, como "capitães-do-mato," de triste vivências nos porões da escravidão. Gostaria de trazer a essência. A poeira das ruas. O calor humano. O vulto das histórias de uma cidade, não se consentra em gente são formadas nas mídias pagas dos jornais oficias que vivem das migalhas quesobram das mesas fartas dos governantes. A História de uma cidade é feita por gente do POVO , gente que pinga o suor das tardes noites do cotidiano do trabalho, que fazem da alegria dos seus sorrisos a vivenciação do belo nas esquinas tortuosas das vielas macaenses de antanho. Vielas que são iguais, nao me cansarei de frisar, a todas de todas as cidadezinhas do interior do Brasil e do Mundo...
O suor dos primeiros pescadores, dos pedreiros, dos homens que carregaram malas nas estações dos trens, dos engraxates, dos homens da rua que fazem e fizeram o folclore de todas as cidades em que vivi e que não estão diferenciadas de uma Macaé igual em todos os seus sentimentos existenciais.
Se uso nomes de pessoas é porque sinto que elas formam o harmonioso celeiro de realidades, e não poderiam ficar esquecidos numa época quando tudo se esvai como poeira na estrada cibernética deste mundo pondo, como balsedos de pedras esquecidas, suas ausentes/existências tão importantes na formação de Macaé e sua verdadeira gente.
Gente que veio de lugares distantes, de Salvador, Manaus, Belém, Ro Grande do Norte e do Sul que nos fornecem culturas e vozes diferentes e que, fazem em nosso dia a dia , a beleza da integração de raças e ensinamentos culturais e afetivos. A fatia de parida se mistura a rabanada numa inerente mistura Macaé/Salvador, com a mesma mistura que se faz presente na bisnaga pra nós e vara pra eles que se torna lindo quando pedem, nas padarias nativas 10 cacetinhos ao invés de 10 francesinhos.
Tento repor o pensamento de uma cidade nos anos em que tínhamos nossas fábricas de tamancos espalhadas por toda a cidade. Desde o "seu" Eduino Quaresma na "Rua do Colégio," até seu Pantaleão onde toda madeira vinha pelo Rio Macaé e ia sendo descarregada nas imediações da Rua da "Boa Vista". As lojas estampavam um "Tamancão" grande pendurado e outros de formato diminuto. Era o início de uma mídia publicitária tupiniquim de formato belamente comercial e nosso.
Desfilar de tamancos, ir para os colégios era uma mini-moda bem à època. Patacun... patacun, patacun... eram os sons emanados nos milhares de pés que iam desde a Aroeira até a Praia Campista em passeios ou mesmo a trabalho. Tiras coloridas colocadas nos tamancos, eram usadas durante o verão e nos finais de ano. Ainda não se conhecia "Panetoni" que era confundido com "Cotonetes."
Nativamente pura, a cidade não tinha os luxos que o progresso trás em sua marcha para a destruição do belo. Era uma espécie de cidade pura mesmo. Destas que brotam nas menininhas lindas de nosso interior brasileiro que estão em extinção com o advento das novelas caretas das Tvs, teimando em vender cosméticos, via globalização.
Olhar para o futuro sem falar nos seus formadores é o mesmo que olhar a "Pedra do Redondo" da Praia de Imbetiba, que se tornou apenas uma lápide fria sem vida, sem mariscos e sem forma. À existência dos homens que se fizeram presente em minha memória quero dar vida. Fazer florescer para que todos saibam o quanto de útil eles foram na importância de nossa atual existência.
Quantos de vocês que estão lendo esta minha Cronica?Livro sabem que a Prainha que fica entre a Petrobras e o Antigo Hotel de Imbetiba, se chamava Praia dos Cavalos? Era ali que os velhos que dirigiam os Bondes Macaenses Puxados à Burros, banhavam seus animais depois da longa caminhada da Aroeira até Imbetiba.
Falar dos medos, dos trovões das madrugadas e do relampejar riscando árvores nos quintais, da coragem, dos dias de sol e dos belos momentos da infância com avós e amigos faz parte de cada um. Procuro pôr os personagens que minha vida viu, olhou, conheceu, ouviu falar, amou, desconheceu ou, simplesmente, tocou.
Este é o significado que me move e me animou a escrever estes relatos que por si só forma o circulo de entendimento e conhecimento que pude sentir nos anos em que vivi junto a comunidade. Deixar para as novas gerações a curiosidade de saber onde fica a Pedra do Moleque que sempre aterrorizava os pescadores e que ceifou dezenas de vidas da comunidade pesqueira.
Por isso os leitores podem até achar enfadonho citar nomes desconhecidamente longe para cada um que lê. Acontece que se procurarem colocar, no seu próprio interior, deslocando-se mentalmente na realeza pura do que pretendo, verá que todos nós temos nossa avó, nossa bisavô, nosso avô Emílio embora estes tenham outros nomes cuja essência paterna/afetiva diferenciam muito pouca da minha.
Quantos de nós ainda tem na história de familiares o citamento de "Jorginho" Célem, pai de Waldyr? Seu descobrimento de que o verdadeiro sentido do Socialismo passava pela ternura e pelo ajudar o próximo ficou cravado em sua existência de forma cristalina. Viveu e morreu como um verdadeiro senhor das bondades. É desta forma de existência que busco retratar nestas páginas. A "Sopa dos Pobres" idealizada, servida e amada por "Jorginho" nada mais era do que a busca de um mundo igual onde todos pudessem comer e dormir com dignidade.
Tive o privilégio de dar vida ou, como querem alguns teatrólogos ou roteiristas, fazer viver personagens de minha vida real. Volto a afirmar que todos nós temos a mesma essência na genética de cada uma de nossas vidas, na individualidade. Apenas em mim brotou este desejo que torno público na cidade que vivi em que espero contribuir para melhor aperfeiçoamento de sua história no quotidiano das pessoas populares e transeuntes que se esbarraram em mim nas esquinas da vida que andei .
Ser criança, numa rua de uma cidade de interior, não tem diferença em nenhum ser humano. É tudo igual. A infância daqui é igualzinha à infância em Piripiri, Porto Seguro, Urutai, Salvador, Pindamonhangaba, São Gonçalo da Bahia, São Gonçalo do Rio de Janeiro. ou Rio Preto de Minas.
O olhar infantil, suas curiosidades e seus temores habitam todo o universo em cada ser de todas as ruas, de todas as esquinas e casas . Os olhos repuxados dos orientais recebem o mesmo brilho divino que recebe um ocidental de Rio das Ostras ou da Barra do Rio Macaé quando satisfeito em preenchimento de seus desejos.
A "Torre de Babel" não teria sentido na igualdade pura dos desejos satisfeitos em crianças
Muda-se a cor das pipas, dos muros das casas. Algumas pessoas usam chapéu; outras, bonés. Uns olham para dentro e acham, no interior, o belo. Outros a encontram no exterior. Quem pode esquecer um olhar de soslaio vindo de namorico que antevinha o falar? O Nascer do sol e o seu Porvir são iguais, como iguais são a pureza e o olhar em todas as crianças. As diferenças financeiras não são sentidas. Vive-se apenas dos nomes , dos apelidos, dos afagos que recebemos dos mais velhos e/ou das ausências ou presenças paternas e maternas.
Daí que meu propósito é pôr neste Livro/Cronica tudo que podia ser colocado e onde se pudesse sentir as iniciais de uma vida, as alegrias da formação jovem e a certeza de um adulto feliz.
"Saudade seria a portalha de onde se avistaria a tristeza?
Que seria da felicidade sem a vivencia do triste, da tristeza, da dor e do desencanto?"...
Então vamos ser tristes na saudade do que habitou em cada um de nós. Quando "catuco" o interior de minha cabeça, buscando trazer as dormidas existências, que pude ver e sentir, acho que me sinto mais lisonjeiramente confortado. Mesmo que nessa busca interior esbarre em amigos mortos, gente que fez minha vida existir um dia e que me deu tristeza numa época.
Acho que neste rebuscamento podemos refrigerar todo o nosso ser e, pondo no papel estes copilamentos, tenho certeza de que cumpro uma missão confortadora com a essência vital.
Se escrevo o que sinto e sinto o que escrevo, o realizado se fixa no objetivo maior que é ser compreendido e entendido por quantos me conheceram e conhecem.
Ao olhar um menino ou uma menina em qualquer lugar, pode-se ver que seus gestos se igualam nos gestos dos seus heróis e seus sorrisos se identificam com o sorriso universal das curiosidades e contos que eles escutam e tentam passar para os adultos e pais.
É igual, em toda a criança, o "correr" do Colégio para casa em busca de contar para a mãe , para o pai ou para um irmão ou irmã mais velha as piadas ridas nos recreios e ruas de suas idas e vindas. E fazer o velho e imorredouro "Dever de Casa" onde o Cheiro do Caderno é igual em décadas e décadas havidas e vindouras. É como a aurora eternizada no dia a dia de cada infância.
Os gritos sufocadas do interior das salas de aula, esticados para os recreios e ruas periféricas dos estabelecimento de ensino, é igual em sons e belezas em todo o universo. São vozes vindo do gritar de gargantas infantis e adolescentes que encontram, no companheirismo do dia a dia a fortaleza que os inibem com outros iguais em idade e cabeça, fortifica e unida por gerações.
O descoramento de nossos esquecimentos que, brotados e revigorados, fazem parte de sua alegria em nos "pegar" numa piada que o tempo nos fez esquecer.
"Lá vai o bobo,
das casca do ovo"...
Pena que as novelas e o dia-a-dia corrido de algumas mães e pais usem as mãos para taparem as puras perguntas e puros "O QUE É O QUE É"? que as crianças gostariam de falar com eles. Seria isso um dos distanciamentos tão decantados e vendidos por Psicólogos, de Psiquiatras de plantão nas famílias abastadas e inconscientemente repressivas?
Quer coisa mais sonora e sutilmente harmônica que ouvir na maturidada um chamamento de apelidos que estavam fechados em nossa cabeça e que se revive ao senti-lo vindo de amigos de tempos infantis? Esta e outras maravilhas é que quero e propunho neste pequeno relato que escrevo.
Creio que, ao impedir que um menino ou uma menina nos conte suas piadinhas e pergunte suas interrogações estamos cimentando um pouco de suas angústias futuras. Um "não" dito a uma criança, por mais sutil que seja a sonoridade é sempre um não. As espertezas nascem nas brincadeiras escolares e se tornam imorredouras lembranças por toda existência.
Quando minha mãe me passava sorrindo coisas de sua infância e relatava vultos que povoavam sua mente de menina, falava em "Tuiú", "Papa Lambida", "Patureba", "Maria Cachimbinha", "João- Pé- de- Bicho," "Pé- de- Porco" ou "Sai- de- Baixo"... Não era diferente de meus "Florzinha", "Turrinha", "Souza", "Papão". Pouca diferença faz dos "Mariolas", "Saçás", "Vicente- Barra- Lagoa", que povoam as alegrias dos meus filhos e netos.
O mesmo gosto em mexer com os folclores felizes dessas gerações está cristalizada em todas as crianças do mundo. Criança não tem diferença aqui ou na China. Nós adultos é que somos e fazemos a diferença com nossa indiferença em deixar que este belo seja ouvido de forma inteligível.
Carregamos a formação boa ou má de nossos próprios caracteres e deformações adquiridas. Passar nossas informações distorcidas e escamoteadas é cortar prematuramente o brotar de uma flor, o nascer de um gato o cantar de passarinhos.
A alegria de uma menina ou de um menino em sentir- se livre, fugindo do alcance raivoso perseguido nas ruas e vielas por um dos personagens, que são seu folclore é igual em toda criança. Já sentiram ou presenciaram o grito de "ganho de guerra" brotado do interior de uma garganta de menino quando "mexe" com um desses personagens de rua? Sabem aquilatar o quanto para ele tem em importância, receber a corrida e se sentir livre para noutro dia voltar a catucar o personagem? É a sublimação da bondade do mal que não revive na essência do saber do belo. É a certeza da vivencia linda das infâncias eternas.
Os palavrões que escutam entram com a sonoridade do vencer, do ganhar, do feliz. É algo que transcende o real e se fixa no terreno da conquista. Chamar "Maria- Pé- de- Porco" e vê-la sair correndo com seu guarda -sol em riste na busca de onde veio a voz é uma realidade comum a toda criança esteja em que cidade estiver. É da essência infantil esta Maldade Divina.
Quem sabe o significado da frase - "Esta criança é da pá virada".? Quem explica o seu conteúdo psicológico na formação de sua fala? Eu não sei. Sei que escutei muito essas palavras em ressonante "Cabrunco" que também nem sei de onde veio e que só se escuta em Macaé e seu distritos.
"Cabrunco" vinha sempre junto com topadas. Dizem que "menino da pá virada" é aquele que sempre faz mais estripulias que os outros. E "Cabrunco"? termo que nem sei até hoje o que é. Onde você escuta a frase "deu comédia"? É coisa nascida em Macaé, nas nossas ruas e que se espalhou por aí.
"Boca-de-Latiff", que correu mundo, e a frase "Deu Comédia" não se sabe como nasceu ou quem espalhou. O fato é que comédia não se dá. Se faz e, "Boca de Latiff" ficou tão usada em minha geração ,como ficou uma época anterior, a frase "Mãe- de- Nagib".
"Tava jogando sinuca,
uma nega maluca me apareceu..
tava com um filho no colo
e dizia pro povo que o filho era meu..."
Esta musica foi cantada na Hora do Calouro, numa pré-rádio onde o animador Thiers Pereira de Azevedo dava prêmios de bonecas de pano, carrinhos de paus, pipas e sandálias ofertadas pelo tímido comercio local. Djecila ganhou uma boneca cantando "Nega Maluca". Therezinha, Clyce, Cléa e Mazinha fizeram coro na platéia. Não sei se ela ganhou por ter cantado no ritmo ou se o fez por ser vizinha do Thiers. Fato é que estas belezas interioranas desta cidade ainda devem existir em algum belo lugar de nosso país.
Essas essências são de Macaé e de suas ruas empoeiradas. São essências nossas que tinham que vir para o conhecimento público. Cada leitor deveria desligar um pouco da televisão, das caretices das reuniões sociais e procurar catucar seus personagens infantis e pó-los ao conhecimento de filhos e netos. Deixar que as histórias sejam contadas virtual é transformar mentes em robôs.
Meu "Papão" feliz é igual ao "Mariola" de meu filho como foi o "Tuiú" de minha mãe. A vida não se diferencia. A vida é um eterno repetimento. Crescemos e nos afastamos dessas preciosidades. Trazer de volta as nossas lembranças e passá-las para novas gerações seria o formato de uma fortificada essência que todos deviam fazer.
Pé de Anjo, Kátia- Pé-de-Porco, Nenen -Pé de- Bicho, Pé-de-Valsa, -Pé- de-Pato, Wilmar- Pé-de- Tábua e Pé-15-pras 3, são alguns dos carinhosos apelidos de muitos pés que, não pisam mais nas nossas ruas empoeiradas mais que dançam formosamente elegantes nas nossas recordações e gestos de alegres reminiscências.
Das puras noites entardecidas...
Guardo as pequenas gotas em lembranças...
Que saídas uma a uma em forma de letras
Formam a imagem viva das sombras escondidas...
E porque elas refletem o nosso belo o nosso ser existente.
Que lindo ver, com a primavera que chega, meus filhos colhendo as jabuticabas, os araçás e as acerolas por mim plantadas num sítio que se encontra cercado de firmas e gente barulhenta. As amoras, as ameixas amarelas chegam com o brotar da primavera no mês de outubro se misturando as verdes flores que bailam ao vento de final de inverno. fazendo com que os galhos das amendoeiras se encostem nos pés de goiabas e cocos se encolhendo, aos troncos, a fim de virarem estercos no mês de janeiro.
As pipas, os namoricos, o primeiro beijo, tudo não muda. Nós é que mudamos por força de nossa própria burrice e embrutecimento.
Vamos encontrar nomes como "Mariazinha", "Cotinha" "Doca", "Tonho Lepra","Roulien Baliongo", "Elso Pudin", "Diabo Azul e Branco", "Tonito", "Dedéu". "Dodô Comedor de Pão", "Biriba", "Pingo", "Itinho Cabeludo", "Zé Mengão" e outros que bailam nas histórias das infâncias macaenses.
Quem não teve suas " Marias" e seus "Zé- do- Tostão" em formas tão afetivas e puras nas infâncias? Quem nega a existência alegre do "Professor Souza", "Papão" ou de "Patureba"? Esta trilogia genial e alegre marcou minha geração na "Rua da Estação", Velho Campos, "Rua do Meio", "Rua da Poça" e Cajueiros.
O Esbarramento numa esquina e poder ouvir de Armandinho Solon suas histórias quando jogava no Flamento, Racing, Vasco, Madureira e Penharol. Poder ver o velho desportista, já com quase 80 anos, deliciar-se nas contagens de seus gools feitos nos anos 30 com seus passes magistrais para Lulu e Sá. Armandinho, mesmo jogando nos maiores clubes do mundo nunca esquecia suas peladas na Praça da Luz onde iniciou sua vida no futebol.
Busco o real num mundo realmente adormecido em cada um de nós que, na busca do nada, num social que nos poe viseira tentando encobrir a existência pura nos jogando e arremeçando para o engodo do nada. Esquecemos que tudo não passa de um Por de Sol ou de uma Lua que sempre voltam apesar de nossas presenças distantes de seu mundo astral.
Não tenho e nunca tive pressa em colocar estes escritos no prelo. Penso ate que poderá ser colocado por meus filhos ou netos que o prefaciaria e o venderia como único bem deixado em toda a minha existência. Preferi po-lo no virtual, gratuitamente acessado.
Que bom se cada pai, que junto as conversas sobre carros, casas, terrenos e contas bancárias, deixassem para seus filhos sua própria existência forjada e cimentada em uma conversa dos quotidianos das infâncias vivida ou retratando-a numa cronica.
Pensei em deixar alguns espaços de páginas em brancos para serem escritas por quem gostasse de faze-los aos filhos e amigos.
Acho que deveria ser uma obrigação passar estes informes tão sutilmente vindos de dentro do nosso ser vivente.
Se alguma coisa for esquecida é porque se trata de minha memória. Que seja entendida como tal. Muitas pessoas serão repetidas outras esquecidas. Algumas delas, como dizia minha bisavó, quando faziam alguma estripulia, não merecendo os doces que vinham ao cheiro do fogão lenhado: "Você não fez por onde." Cai a frase em quem eu por ventura deixar de citar ou comentar.
E assim será com aqueles que não mereceram fazer parte destas memória. Foram deletados ou simplesmente "não fizeram por onde merecerem fazer parte dela".
A vida que pretendo revigorar nestes personagens falam de uma Macaé nossa. Acho até que pouco falarei de gente e personagens recentes. Até porque isso deve ficar para outros memorialistas que vivenciarem estes últimos anos e que por certo um dia estarão sendo retratados e apensados a este meu memorial.
A mistura dos ferroviários com os nativos que fizeram nascer vários bairros serão fortalecidos e retratados na mistura de petroleiros com nativos e descendentes de ferroviários. È deste sangue, forjado no amor entre as pessoas que vem a força desta cidade que perdoa as ingratidões e as maldades de uma elite que vai se esvaindo no decurso desta mistura. Os verdadeiros sangue vermelho do amalgamento ferrovia/nativos e petroleiro apaga de vez o sangue "azul" dos esploradores de pobres e escravos de triste memória na vida colonial de nossa velha Macaé.
Quero falar de uma cidade nossa e a que sempre achei existir apesar de ter viajado por outros lugares e tendo vivenciado outras realidades.
Não busco criar diferenciação de existências outras que não sejam a própria existência das ruas, dos becos e das praças onde pisei e vi pisar gente de minha gente.
Para mim a lembrança de Ruy Figueiredo Borges, meu amigo de noitadas, tem a mesma reflexão afetiva que Carlos Eduardo Motta, Levy Corrêa da Silva, Félix do Mercado, "Nensinho Cauby" "Dunga da Boa Vista", "Itinho Cabeludo", Marquinho Brochado, Zé Clímaco ou Aristóteles Mello.
Cada um teve a sua presença nas ruas empoeiradas de Macaé e se cumprimentaram um dia nas andanças que não fazem mais. Quem pode esquecer as gargalhadas de Ronald de Souza e Carlos Tinoco? A timidez de Amilton irmão de Amildes Andrade e o forte roncar da voz melodiosa e inteligente de Milcélio? E o andar tranqüilo de Ricardo, Roberto, Marlo e "Marquinho" Cure vindo dos papos alegres e exclusivamente macaense d a praça da Prefeitura?
Macaé tinha o sabor das noites mal dormidas em encontros esquinais com Humberto do Ônibus, Mário Barbosa, Arley e Andrade onde, sobressaia as piadas alegres de Marcos Cure e as curiosidades marcantes de Gilberto Curi. Onde poderá ter, senão por nossas historias, as gaitas naturalmente aprendidas de Humberto e Rosemar? Macaé morre e nasce a cada dia num redemoinho de fatos e histórias do quotidianos mil. As histórias e os resmungos de Milton Monteiro e o fim do Império que ele criou e viu desabar da "noite para dia". Ouvir suas lamúrias e faze-lo entender o progresso que chega é ver sair suas tristezas e voltar da senti-lo menino da rua do meio. Milton tem uma passagem curiosa com o autor. Quando do lançamento do meu primeiro livro "Cabelos Brancos" eu o procurei para adquirir um exemplar. No corre-corre de sua vida ele me disse que na tinha tempo pára ler. Hoje o tempo lhe sobra e pacientemente eu tive tempo para ouvi-lo e retrat-lo no livro. Faz parte da gangorra da vida estas estravagantes passagens.
Alguém ainda lembra de Alcione com sua pose e conversa longa? Que seria de nosso passado jornalístico sem a verbosidade inteligente de Elso Mussi com suas "Passadólicas" referencias a uma cidade que nasceu nas páginas do nosso "O REBATE"?
Gostaria de por este livro/cronica no ar nas antes que minha geração toda deixasse de fazer história. O meu objetivo que estes relatos servissem para recordações de quem tem 50, 60 ou 70 anos em alegres reflexos com netos e filhos, passando senão minhas histórias, mais outras que, esquecidas por mim, pudessem servir para abrir arquivos mentais empoeirados de velhos amigos, nas ausências sentidas das Cadeiras das Calçadas Macaenses.
Se "alguém quiser que conte outra" seria este meu objetivo principal.
Em cada um que se acharem citados ou esquecidos poderia por uma vírgula, um parágrafo, um texto que anexado a este, o tornasse alegre e desse um colorido as explicativas de cada um dos leitores com seus próprios descendentes. O contar de coisas que vi e que vimos nos dias de nossa existência nesta cidade que já teve bondes de burros, "ladrão de apenas galinhas", ruas empoeiradas e Cadeiras nas Calçadas na Avenida Ruy Barbosa. Vou deixar algumas páginas em branco para que sejam preenchidas e ampliadas por quantos se acharem no direito de fazê-los. Outorgar direitos a história de cada um é uma faculdade nativa a mente de cada escritor. As anotações se tornam voláteis na medida que escrevemos quando flui a determinação de fazer relatos.
.... Seria as memórias o filete das eternidades
Que rebuscadas, sentidas, revividas e lidas...
Colocassem a gente no entender de um tudo?
Seria a o Saber a bondade das eternas buscas esquecidas?
A felicidade que brotava da fala do Ricardo Salgado e sua simpática esposa dona Diomar nos levando para ver as condecorações de suas competições em torneios de Cavalos e a alegria de seus filhos Roberto, Renato Ricardo e Rogério ao vê-los contar as proesas fazem parte de uma historia de marcas jamais apagadas das mentes macaeses.
Que cada amigo meu, cada contemporâneo abra o seu próprio Livro e o faça ser lido por quem precisa saber de nossas histórias e vivências. Muitas coisas e "causos havidos" serão engraçados. Outros nos levarão a saudade como da morte de Sérgio Italiano", Iberê, Roldão, Ailton Silva, Miguel Felix, "Filhinho Monteiro", "Pedrinho" , Ereny, "Itinho Cabeludo", Flaubert Machado, Cláudio Moacyr, "Turrinha", Paulo Barreto, Beto Calil e outros. Mais tudo isso é pouco em razão do que objetivo.
Pretender voltar as Cadeiras nas Calçadas.. fazer voltar, mesmo que sejam na utopia das nossas interioridades, para contas as próprias existências vividas. Haveria no mundo coisa mais linda que as Cadeiras nas Calçadas das Ruas empoeiradas de Macaé? Revi esta beleza numa cidadezinha de Minas de nome Rio Preto onde morava minha filha Aninha. Pude sentir que a beleza existe igualzinha em Salvador BA relatada na pureza de uma voz suavemente compassada vindo de Ângela Rocha. Nas cidadezinhas da Bahia ainda existe estas belezas estendidas por ruas imensas de conversas longas e criativas.
Quando esbarro em gente que me lê em jornais e pedem que escreva algo a energia do ser determinante vem em forma de ordens e faz com que a volta ao computador se faça suavemente feliz.
Ontem foi ao fundo do sítio rever a nascente que tenho. As chuvas de final de outono e princípio de primavera encheram o lago que as pessoas teimam em chamar de brejo. Nem sabem eles que, debaixo de uma cor amarelada de uma água de chuva se esconde uma limpidez que permanece intocada a milhões de anos neste local onde moro. Ao passar pelos pés de Ipês amarelos fui colhendo cachos de sementes que espalhei por toda extensão do Lago.
Um simpático vento, vindo do mar dos cavaleiros e da lagoa de imboacica, fez com que suas tenuas sementes se espalhassem por um raio de terra de modo que devem brotar em breve. È uma resistência aos meus visinhos das multinacionais que continuam a aumentar a cada dia milhares de container de galões de óleos negros. Ao alto ainda pude ver, no filete de sol que bate nas águas do lago, alguns filhotes de rãs e sapinhos que contracenam com lindas borboletas cinzas, brancas e amarelas que, sempre em duplas voam por dentre árvores e gramas esverdeadas.
Alguns piões das firmas olham e devem me achar muito louco. Não devem estar acostumados a ver,em plena zona de empresas de petróleo alguém espalhando sementes de Ipês e espantando mosquitos para servirem de alimentos para sapos e peixes.
Tudo que busco a aqui tentado relatar, fazem parte de um acervo existente em minha própria introspecção. Posso cometer alguns esquecimentos. Afinal estou passando dos 60 anos e, mesmo assim sinto o ser revigorado a cada pulsar de pensamento que coteja me obrigando a relatar novas memórias.
Vejo hoje que tudo na vida se resume num elo fraterno de gerações. Sentir saudade de meu tempo? Confesso que mais ou menos. Preencho com a beleza dos tempo de minhas netas que serão iguais ao tempo das netas dela.
Por viver o presente não consigo esquecer o passado nem me preocupo com o que as pessoas chamam de futuro.
Estou escrevendo estas notas deste parágrafo no dia l4 de maio de 2000 primeiro dia das mães que estou passando, aos 60 anos, sem a presença e sem a voz de minha mãe. Triste ? Mais fazer o que? faz parte do "show" da vida estes acontecimentos que a vontade humana não pode mudar.
Chamei meu filho mais velho Luís Cláudio, li para ele este parágrafo, pois sei que ele tem muita preguiça e não iria ler estas memórias todas, não resisti e chorei internamente sem me deixar ver no choro, pela ausência da avó dele que tanto o amou em vida e tinha nele o mais meigo e brincalhão de todos os netos que lhe dei. Ele acariciou meus cabelos e se foi também triste e saudoso. Foi até o quintal de onde voltou com algumas Pitangas que me ofertou.
Gostaria de pedir desculpas a quem me lê se às vezes volto e falo de repetidas cenas de vida e não tenho o cuidado de rever e retirar.
É que com o advento do computador, de onde escrevo, estas coisas se tornaram fáceis. Hoje em dia é fácil ser escritor e relatar fatos, deletando e emendando outros.
Às vezes fico pensando em Machado de Assis, Augusto dos Anjos e Máximo Gorghi que tinham que fazer suas belas criações em "Pena de Galinha" e em longos e intermináveis dias e dias. Hoje e fácil escrever, tudo se modernizou, deleta aqui, corrige ali pôe uma virgula acolá, aumento textos, etc....
O engraçado de toda a criação da linguagem que o Escritor transmite para o papel não tem o mesmo tamanho que podia ter a leitura para o que vai ler. O leitor tem que busca entende-lo na medida de seu próprio entender.
A gente não consegue parar no parágrafo que deveria ser um ponto final e nos estendemos no curso de algo que sublima nossos desejos de expor o sentimento que nos toma conta. Por isso é que, por mais enfadonho que se pareça minhas dissertavas, elas chegarão, por certo ao bom final.
Assim é que espero ser no decurso destas memórias e fatos narrados.
Se a cor de cada sol ..de cada luar...
Se a cor do belo, do sentido... do amado...
Se todas as coisas tivessem o odor que nos faz sentir...
Seria como sentir da cor do sol?.
Ao longe uma cigarra cantava sua canção se despedindo da vida. Todo encantamento era como se a natureza se contorcesse para deixar nascer, sob o saimento do sol, uma linda noite de luar. Cai a tarde na Rua do Meio.
Antes disso, no entanto, ainda se podia ouvir, nas passadas largas e alegremente felizes onde o sorriso deixava passar por entre-dentes reluzentes e brancos dos velhos transeuntes, cumprimentos meigos, em vozes que a gente conhecia mesmo no escuro do entardecer, que deixava sombras por entres galhos secos de frondosas árvores que começavam a receber e agasalhar pássaros ninhando-se em recolhimentos eternos.
Enquanto isso, meninas brincam de ciranda, cirandinha em rodas vivas imortais, e de vozes que ficaram seladas na eternidade. Quando elas viam, uma quantidade de meninos que as rodeavam, esqueciam a ciranda e, sentadas, começam a brincadeira do passa-passa que era um anel onde quem ficasse com ele, sempre um menino, era o preferido para o namorico.
"Carniça" para esquentar as canelas e "Pique de Esconde- Esconde"...
"O Anel que tu me deste era de Segunda mão.
Era folheado a ouro
quem vendeu foi Salomão.
O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou....
Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar...
vamos dar a meia volta,
volta e meia vamos dar"
Depois nós meninos íamos jogar "Papão", "Triângulo", fazer Pipas e boleávamos -com elas - feitas de meias ou jogar botões em varandas e salas enceradas. A enceradeira, que "fazia para lá e para cá" Podiam se observar músculos serem esticados. Eram aqueles escovões que, ovais em seu formato tinha o peso de uns l0 quilos que a gente sofria para empurrar e que, os mais velhos empurravam numa boa. O sentimento de desejo de um dia poder mover esta coisa, que fazia brilhar as tábuas da sala e dos quartos, era um troféu que todo menino e menina de 4 a 7 anos tinham na cabeça em desejante espera.
"Cai Cai balão, cai cai...
aqui na minha mão. Não vou lá, não vou lá, não vou lá.
Tenho medo de apanhar."
Meninas mais cedo para casa e pela manha vôos de Tizis, Cambaxirras avisam que ainda tem Papa-Capins ou Coleiros nos quintais e cercanias.
As vózes vindo, uníssonas, das profundezas sonoras da audição, chegavam com a sinfonia de grupos de crianças que já tinham voltados das escolas. As blusas brancas das meninas e os fardões amarelos dos meninos traziam no ar algumas destas belezas exteriorizadas no cantar:
Por detrás daquele morro,
tem um pé de Manacá..
nos vamos casar e vamos pra lá...
Era a repetida que tinha ressonância em toda Macaé como se houvesse uma corrente levando da rua do Meio, aos Cajueiros, ao Viaduto, Aroeira, Barra e Glicério. As mesmas musicalidade rompiam os ares como se fossem levadas por passarinhos ou ventos. Revoadas humanas de meninos/meninas pássaros pondo ao vento as milhares de vozes de outras tantas em tantas quanto foram e eram essas infâncias.
A comunicação chegava dentro dos colégios, entrava pelas ruas e vielas e saiam das vozes infantis com um mesmo desejo e um só objetivo. Formar a socialização das infâncias no forjamento de suas belezas.
E, "O anel que tu me deste era de 2ª mão" entrava nas vielas e becos. Onde em qual lugar senão mas profundas abas das recordações se pode criar, através dos sons, vozes tão sutilmente harmonizada no belo existencial?
"O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou".
Não tinha nada de pouco nem muito de se acabar romperia o eterno;.romperiam séculos e séculos.
Rever as infâncias:
Quis falar da minha que é igual a muitas nas poeiras da rua onde nasci, do Sol; das Peladas; das Cirandas e dos "Dorme- Dorme- dormideiras." Estas nasciam e se criavam nos cantos dos muros mal pintados e de aconchego sereno.
Quis fazer junto um poema das eternidades das noites das eternas infâncias que são de todos nós iguais no tempo e até mesmo em intensidade. Não consegui fazer este poema. Deixo a poesia para os poetas. Assim falo apenas das lembranças na imaginação de cada um. Dos tempos de outrora que tecem em meu coração a rede de saudade, vivificando a cada pensamento a alegria gotejante dos momentos passados, brincados, vividos. e eternizados nos olhos infantis de minha alma.
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