Volto a morar no sítio VISTA ALEGRE de propriedade de minha mãe. Foi muito difícil à mudança. Sair do centro da cidade, com tudo em volta e cair numa "Casinha Branca de varanda um quintal de mato verde", é poético mas não é lá confortável.
Deixo a Rua Visconde de Quissamã onde vivi durante 24 anos. Foi uma mudança radical nos costumes. Aqui tudo é diferente. Ao invés do barulho dos carros do prédio de 10 andares e suas buzinas mal educadas, pássaros cantam ao amanhecer e pombas revoam na casa ao cair da tarde.
Sinto que sítio é algo muito além do paraíso. E divino. Ontem, ao acordar pelas 6:30 horas fui até o quintal. Após o pru... pru. pru... Do chamamento à Galinha e ao frango que devem começar minha criação, fui saudado pelo "Pretinho" um cachorrinho que nunca foi embora do sítio apesar de não ter ninguém lá. O balançar de seu rabo e a meiguice de seu olhar de ternura me faz entender da frase de um colega cronista que disse preferia um cachorro amigo a um amigo cachorro.
Bem ao centro do terreno, sacudindo penas molhadas, um Tiziu, uma Cambaxirra e um Sanhaço dão boas vindas à chuva que cai. Parece que eles, no silêncio que barulhenta os grandes ensinamentos do universo, sentem, no gotejar do outono que tudo ainda não está totalmente perdido. Parecem dizer, na linguagem dos pássaros: O SONHO NÃO ACABOU...
Olho em redor da grama que plantei no ano passado. Bailam felizes seus brotos. São saudações da natureza a chuva que cai mansa, compassada, com integração. Colho as amoras molhadas pela chuva que cai. Seus galhos, que antes eu podia colher frutos para alegria do neto João Pedro estão mais altos. Quase não os alcanço. João Pedro cresceu, ficou pesado e os galhos estão longe de minha mão. "Digo para ele que as amoras "lá de cima" são para os passarinhos". Ele aceita minha alternativa...
À minha frente, folhas de Flamboayans e Acácias que plantei na época da Contra Cultura parecem me dizer clara e abertamente: "Não disse?... Voltou... Bem feito". Ninguém pode dizer desta não beberei.
Curvo-me diante do encantamento que a natureza irradia. Volto aos anos 70 e começa a formar-me dentro do lacrimal pequena partícula do choro.É-me difícil até corresponder ao agrado de "Pretinho" e teimo em não ver o arrulhar do casal de pombos no pé de abacate. Foi muito mais forte a lembrança dos dias alegres da contra cultura, dos Hippies, das noites das viagens de ácido e das catanças dos cogumelos de boi e de galinha.
Na minha velha mente cansada de tantos pensamentos, vieram à tona as pessoas da Paz e Amor, das exposições de pulseiras nas calçadas da Rua Direita e das felizes noites em volta das fogueiras no Lagomar. Pensei chorar. Era uma gota de lágrima que, caindo do rosto, foi de encontro às gotas da chuva criadora, misturando-se e indo servir de alento a pequenas gramas que estavam precisando de água para continuar a vida. Amalgamaram - sc minha lágrima e a chuva. Juntas formaram substâncias para a transformação de novos seres na relva.
Vêm em minha retina as andanças na Praia do Forte. Os nados até os "Tocos", as idas e vindas até a "Pororoca", as pescas de "Muriongos", "Guris" e "Sardinhas" no Cais do Mercado.Revejo minhas caminhadas e os banhos e mergulhos nas águas límpidas do Rio Macaé no Cais do Mercado de Peixe.
As sementes dos Flambyaians que caíram no final de novembro, pedindo à chuva que veio no final de dezembro, onde pequeninas mudas brotam, já neste outono. A terra molhada é saudada pelo Sol que se mistura a chuva dando a entender que esta ali para contrabalançar o nascimento das plantas que revigoram a vida e prova a existência do belo.
Volto ao Sítio e desta vez para sempre...
Do SENAI quem não se lembra? Era mesmo ESCOLA FERROVIÁRIA 8 -1 SENAI. A história conta e, dela participa meia cidade de Macaé, que não havia ensino de melhor qualidade. Eu, particularmente, guardo as melhores e mais felizes recordações.
Minha turma tinha 36 alunos que mais tarde, com a entrada de Telmo no 2° ano ficou com 37. ÉRAMOS 37 colegas e hoje somos 37 amigos.
Embora tenhamos sido espalhados por toda a sorte de atividades, quando nos encontramos existe uma forte comunicação que leva a um passado de Recordações e peripécias infantis.
No SENAI a gente entrava com 13 anos e saia com 15. Até a minha turma todos eram aproveitados pela Estrada de Ferro Leopoldina. Depois os espalharam pelo Brasil. Alguns foram para S. Paulo: muitos para o Rio e a maioria para Arraial do Cabo, mais precisamente na Álcalis.
Até hoje não entendi por que a Leopoldina deixou de absorver-nos. Conversei um dia com Lula, quando de sua estada em Macaé. Estávamos sentado sós em uma mesa e Lula disse também ter sido aluno de um SENAI. Também não entendeu esta perda. Prometeu rever isso se ele fosse eleito Presidente. Naquela época eu era dirigente do partido.
No SENAI haviam profissões como Carpinteiro, Ajustador-torneiro, Torneiro, Caldeireiro, Ferreiro, eletricista e Soldador. Eu era Ajustador Torneiro com estágio de primeiro ano cm Torno e Caldeiraria. Ter sido aluno-aprendiz de Seu Rubens (bom cabelo) na Caldeiraria, de Wilson Santos e seu Antonio (Garfante) na Ajustagem, de Seu João (Gordo) na ferraria, de Waldyr (Bicudo) na Carpintaria, Mozart Leão e seu Orlando na Tornearia e ter Higino e Amaral como instrutores chefes foram etapas que marcaram todo o afetivo de minha geração nos anos 50.
Nossa turma era: "Binho" Ramalho Tônico Soutinho - Hélio Caetano "Meu de Fé" - Adilson - Paulinho Loureiro - Vilmar "Pé de Tábua" - Paulo Fernandes - Walmir "Galo" - "Perinho" Assis. "Bebeto"Bacellar - Jorge "Jornaleiro" - Walter "Gordo" - Neri Cezar - José Luiz "Nervosinho" - Hugo - Cemi - Lacy - Wallace "Marujo" - José "Grosso" Manhães- João Batista "Fanhoso" - José Bastos "Ciri" - Joamir - "Amaralzinho" - Hugo- Reinaldo - Edno Barcellos - "Leíca" (Auleir) - Alcenor - Laurely - Maury Vianna - Ivan "Coruja" Drumond - Aroldo Marins - Tinoco - Telmo "Bacurau" - Aryzinho - Jonas Moreira e Roberto Marotti.
Walter Araújo morava nos Cajueiros. Era uma espécie de Xerife do bairro. Foi ele quem me introduziu lá. Quem não fosse pela sua mão, dificilmente era bem chegado na turma dos cajueiros. O mesmo na Aroeira com "João Fanhoso," na Barra com Nery Cezar Pinto ou no centro com Hugo, Bacellar e "Perinho".
A turma que vinha do interior como Edno (Quissamã), Alcenor, Marotti, "Meu de Fé" e Laurely era obrigada a curtir as gozações "Jornaleiro" era a porta para que se forjassem grandes amizades.
Gente simples como Lacy tinha trânsito em todas as áreas do nosso mundo. "Fazia parte dos sorrisos que brotavam de Maury, "Alvinho", Joamir e "Amaralzinho" que não entravam nas 'brabas" mas concordavam em tudo. Até torciam para que tudo desse certo.
Cemi, Bacellar, Hugo, Neri, Reinaldo, Telmo e "Pingüin" formavam com "Perinho" e "Jornaleiro" o que seria a "gang" da época. "Desde inventar machucados com martelos para irem aos curativos de dona Olga, passando pela expropriação das braçadeiras de "Zé Grosso" até serem proibidos de freqüentarem a 'Oficina Geral" e tomar banhos nos chuveiros que caiam águas torrenciais e diretas. Muitos destes tiveram que sair antes do término do curso.
Esta semana estive com Reinaldo e Roberto Marotti e os mesmos gostariam de marcar um encontro dos ex-alunos. Falavam até cm formar uma Associação dos Ex-alunos do SENAI. Uma boa idéia que passo para todos. Seria até uma maneira de, além das alegrias que o fato iria consolidar, uma hora para homenagear os que partiram como "Marujo",Telmo, "Pé de Tábua", Hugo, Aroldo, "Walter Gordo", João Batista (Fanhoso), Laurely, Auleir e "Binho Ramalho".
Seria até uma maneira de incentivar a volta de uma luta pela criação dos SENAIs em nossa moribunda E.F. Leopoldina.
< anterior | índice | próximo > |