DOS FERROVIARIOS AOS PETROLEIROS

A GRANDE MENTIRA MACAÉ-CAMPOS

Por José Milbs

Capitulo III

João Barbeiro tinha fama de grande mentiroso . Seu salão, num baixo de uma salinha num dos poucos hotéis da cidade vivia cheio. Não se sabe de onde ele veio Não era nativo da cidade assim como não o era um tal de Xisto Antonio Reis que toda eleição se metia a concorrer como Prefeito. Nunca chegou a ter mais de 100 votos mais era famoso junto às crianças que o cercavam e recebiam doces. Diziam que se criança votasse este Xisto seria eleito prefeito. João barbeiro também era popular. Suas mentiras eram citadas em todas as rodas. Claro que havia muitos concorrentes. Muitos motoristas de praça achavam que ele não era tão eficiente na mentira e elegeram um colega como maior. Outros barbeiros bairristas não abriam mão de seu colega Pitico como mais eficiente na arte de mentir. Para que tudo isso não ficasse sem um vencedor o próprio João Barbeiro lançou o desafio. Iria pregar a maior mentira de sua vida, Esta ele ia começar em Macaé e ia terminar em Campos. Para tanto ele tinha que tomar o trem e ir contando a Longa Mentira Macaé – Campos sem que os ouvintes deixassem de fixar-se na sua história. Alguns se propuseram a fazer parte desta viagem como observadores.

A Estação de trens de Macaé estava cheia de gente . Um sol ainda tênue cai sobre os trilhos os fazendo brilhar intensamente. Cadeiras, bancos e alguns embrulhos estão postados na beira de um grande cimentado alto onde o trem para. Este cimentado tem o tamanho ideal para as pessoas entrarem nos vagões. Um pequeno barzinho tem suas portas abertas e um senhor de meia idade chega com uma chaleira com café quente e saindo fumaças por uma abertura.

Na outra mão ele trás um grande prato com doces e salgadinhos que serão oferecidos aos passageiros que descerão para um esticar de pernas na estação. Alguns ferroviários já estão se locomovendo para uma caixa de água que tem um longo e amarelado pano cumprido que mais parece uma cobra achatada. É onde eles abastecem a locomotiva com água e esfria seu longo percurso pelos trilhos.

Este abastecimento deve demorar uns 15 20 minutos, tempo para esvaziar todo o conteúdo da chaleira do seu Petrônio e acabar com todos os doces. As famosas Mães-bentas são todas vendidas e são levadas por muitos para suas cidades. Ao longo davelha estação , dezenas de homens estão a postos para carregar malas e servir de guias a quem a cidade. No verão chega muito turista que procuram à cidade por causa de uma areia grossa e que contem monazíticas. “Falam até que consegue curar as sofridas e incômodo beribéri” uma coceira doida que da nas pernas dos que já tinham passados dos 30 anos e entrado na "casa" dos "enta".

Motoristas de praça ostentam seus reluzentes automóveis de pouco uso e muito já tem ate clientes certos. Passam os olhos nas malas trazidas pelos carregadores e abrem suas portas elegantemente para que o passageiro entre. São homens simples estes motoristas e teimam em fazer jus à profissão de relações publica da cidade. No trajeto que eles fazem da Estação de Trens até onde quer ir o passageiro é uma aula de conhecimentos de tudo que dia respeito à cidade. Falam da Lenda de uma Santa de nome Santana, das Ilhas do Francês e Papagaio e ainda, quando o tempo sobra fala sobre as figuras e o folclore da cidade; Todos fazem questão de mostrar o lindo prédio onde fica a Banda de Musica de nome “Nova Aurora” e quando se dirigem para a praia passam numa outra de nome Lira dos Conspiradores. Estes orgulhos são nativos em todas as pessoas de qualquer cidadezinha de interior.

Na Estação a espera tem o sabor do eterno . Parece que esta havendo um atraso. Santos e outros Telegrafistas mandam suas mensagens para Rio Dourado Casimiro de Abreu para se certificarem se o trem esta com atraso. Em Rio Bonito o telégrafo tinha recebido um recado que em Barão de Mauá tudo tinha saído dentro dos conformes. O chefe da Estada, com sua farda de gala esta a postos andando de um lado para outro. Até que no íntimo ele gosta destes atrasos. Todos ficam olhando seu interesse em saber do que passa e ele tem seus momentos de “holofote”. Moças estão todas arrumadas e desfilam na estação. Sabem e disto suas mães sempre contam, de muitos casamentos que começaram numa estação de trens. Ai elas ficam mais elegantes e faz tudo para despertar algum solteiro passageiro.

Ainda não se escutou o apito . Este é dado assim que a locomotiva sai de Cancela Preta e se dirige à pequena cidade. Ao longo da estação já se pode ver um grupo de pessoas comprando ingresso no pequeno compartimento de passagens que fica a esquerda de quem entra na estação. O vendedor de passagens destaca e clica a passagem com hora e validade. Ao fundo desta sala fica o Telegrafista com sua farda negra e boné lindamente colocado no cocorocó da cabeça . O chefe da estação já se sente reinando. Chegam a ele alguns funcionários e lhe diz ao ouvido algo que faz com que saia de seus lábios um brilho diferente na dentadura escondida. Ele toma conhecimento que o Expresso esta já em Califórnia e se dirige para Macaé. Dedéu , este velho chefe de estação tem lá suas pressas. Sua garganta já pede uma dose da boa pinga que ele vai engolir assim que despachar para Campos este trem que esta chegando.

Vários homens estão embolados num canto da estação . João Barbeiro está pensativo porque sabe de sua responsabilidade de mentiroso. Ao seu lado alguns homens observam o ambiente. Sabem que será uma longa viagem na cata da mais longa mentira que se tem noticia. Crianças de colo, mulheres com sacos entre as pernas, homens de chapéus de abas largas e muitos de, sobretudo branco dão um colorido especial a este aglomerado de pessoas. A maioria deve ir mesmo para Carapebus. Capelinha do Amparo ou Dores dr Macabú , As passagens para os vagões de 1 a . e de 2 a estão sendo picotados e entregue quando é confirmada a chegada do trem.

Ao longo um apito que sonoriza alegria . As pessoas se mexem de um lado para outro. As adolescentes começam a se arrumar. Cabelos e posturas são ensaiados para a preparação de um belo que pode surgir. Crianças acenam no pequeno espaço de suas mãos para o Maquinista que já se encontra todo orgulhoso na frente do cortejo dos trens. Os seus braços estão encostados na soleira da janela e podem-se ver os olhos de um brilho que só é visto nos olhares dos grandes heróis. È o seu momento Máximo. Fazendo a “grande serpente de ferro” deslizar mansa e belamente por trilhos e puxando compassadamente e harmônico o apito, este homem rude assume a liderança que tinha assumido o chefe de estação em suas passadas largas de um lugar para o outro e sabendo-se observado. Agora era a vez de outro homem assumir este lugar de destaque na chegada do Expresso na Estação de trens da cidadezinha de Macaé, norte do Estado do Rio de Janeiro.


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