Flexibilidade
Em seu estudo, sobre o currículo de matemática no ensino médio do Brasil e a diversidade de percursos formativos, orientado pelo professor Vinício de Macedo Santos, Costa analisou os documentos curriculares do ensino médio no Brasil, na França, na Espanha, em Portugal, na Inglaterra e nos Estados Unidos – nos quatro primeiros, o Estado é quem determina o que precisa ser ensinado, enquanto nos outros dois países isto não necessariamente acontece. “O que percebi foi que, exceto o Brasil, todos os outros países deixam seus estudantes escolherem seus caminhos. O nosso ‘colegial’ é genérico e inflexível, fazendo tudo igual para todos”, explica o pesquisador. Na visão dele, isto não ajuda os alunos: “oferecer tudo igual faz com que você crie o aluno entediado e o perdido. O entediado é aquele que tem muito potencial e não tem espaço para usá-lo, enquanto o perdido não consegue criar vínculos com o que vê na lousa ou ouve nas aulas”.
Muitos defensores do atual currículo têm como argumento a questão da responsabilidade de se escolher um caminho específico quando se ainda tem pouca idade. “Hoje é difícil dizer que o estudante não tem maturidade para escolher que área deseja seguir. Muitos já têm isso em mente quando entram no ensino médio. Se por acaso o estudante mudar de ideia quando estiver, por exemplo, no segundo ano do que a gente costumava chamar de colegial, não tem problema”, assegura o pesquisador. Costa defende que o currículo deve ser flexível de maneira que ele possa correr atrás do que ficou faltando – e os conhecimentos que amealhou antes não se perdem, pois são conhecimento. “Os países estudados têm formas variadas de permeabilidade entre os diferentes percursos formativos”, informa.
“Não dá para culpar só o vestibular por isso”, alerta Costa. Segundo ele, é mais barato para o Estado, pensando em políticas públicas, oferecer tudo igual para os alunos. Só que este preço ultimamente tem sido pago pela própria sociedade. “A educação que nós fazemos hoje limitará o desenvolvimento brasileiro. Não dá mais para um aluno ficar doze anos na escola e ter uma escolaridade média equivalente a cinco ou seis anos de estudo. A carreira de professor tem que ser definitivamente valorizada”, recomenda. Ele conta que estamos importando profissionais e técnicos. “É preciso que a sociedade se una para consertar isso etapa por etapa. Deve ser um projeto de Estado de no mínimo vinte anos, e tem de ser feito de baixo para cima e de cima para baixo.”
Evasão
Costa também comentou a respeito dos efeitos que o currículo brasileiro, da maneira como é construído, podem causar naquele estudante que não está interessado no ensino superior. “Uma escola assim estimula a evasão do aluno. A desistência é monstruosa no ensino médio: apenas dois alunos se formam em um grupo de dez que concluíram o ensino fundamental”, diz o pesquisador. Ele cita ainda maneiras de tentar diminuir esse problema. “Para o estudante que não pretende ir adiante, é preciso que ele receba orientação para o mundo do trabalho. Desde cedo, é necessário mostrar para ele quais suas opções: o que um pedreiro faz, o que um mecânico faz, o que um auxiliar de contabilidade faz. O país pode fazer isso: ajudar e até induzir, dependendo do caso, as pessoas a escolher uma carreira na vida ativa”, completa.
O Brasil já tem um parecer do Conselho Nacional de Educação, aprovado em maio de 2011, admitindo a flexibilidade, mas para o pesquisador, que junto com seu orientador é um dos líderes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática e Educação, “a mudança para uma escola com percursos formativos flexíveis dependerá de uma mudança da cultura escolar, de uma expansão significativa dos investimentos em educação e uma remuneração digna para os professores, que seja compatível com outras carreiras de ensino superior, a exemplo dos países que têm altos padrões acadêmicos.”
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** Publicado originalmente no site Agência Usp e retirado do site Mercado Ético.
(Mercado Ético)