HILDEGARD ANGEL E A HISTÓRIA

Uma exposição sobre Zuzu Angel vai mostrar a história do País sob a ditadura militar. Está sendo organizada por sua filha a jornalista Hildegard Angel e estará no Itaú Cultural em São Paulo em primeiro de abril, data do início da barbárie. Uma das personagens mais determinadas e corajosas. Zuzu.
Em duas oportunidades recentes Hildegard Angel, Hilde, chamou  atenção do Brasil com sua coragem e sua persistência na luta que foi de Zuzu e Stuart, seu irmão, como de sua cunhada, vítimas da estupidez dos golpistas.
Na primeira delas alertou para o “cheiro de 1964” ao falar sobre a justiça canhestra de Joaquim Barbosa e muitos de seus pares.
A segunda chegou no dia 28 deste janeiro sobre o caráter perverso e malévolo dos que criticam o ex-deputado Jose Genoíno e convoca jornalistas e intelectuais a virem a público defender uma das vítimas de Barbosa.
Hildegard Angel está para a história recente do Brasil como uma de suas mais importantes e destacadas lutadoras das liberdades e da justiça. Tem ao seu lado Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia do Rio, a manter vivo o espírito de Hélio de Almeida, preservando longe dos tentáculos fascistas uma entidade histórica.
Eis o último e perfeito texto da jornalista para o momento que vivemos.

"BRASIL ENTRA EM CAMINHO SEM VOLTA: QUE PARIS TENHA MUITOS APÊS CHARMOSOS PARA ACOLHER A TODOS OS OMISSOS

Recebo diariamente comentários carregados de ódio contra José Genoíno, que me abstenho de publicar até por vergonha de seu teor, vergonha pelo desequilíbrio e o descontrole dos remetentes. A falta de discernimento, querendo atribuir a este homem combativo todos os males do país. Daí que a prisão não basta. É preciso a morte. A imolação final. A cruz.
É preciso a volta das torturas. Da ditadura. Este, o subtexto das tantas mensagens enviadas. A que ponto essa mídia manipuladora, essa pseudo esquerda democrática, esse suposto “centrão” levaram o nosso país! A que abismo a omissão daqueles que poderiam se posicionar, protestar e agir, está levando a nossa Nação.
A quanto estamos chegando com o silêncio dos nossos formadores de opinião influentes, nossos artistas politicamente conscientes e articulados. Os intelectuais, pensadores, jornalistas de porte.
São tão poucos os que ousam falar, se manifestar. Um, dois, três, quatro ou cinco. A pasmaceira, a imobilidade, o acomodamento prevalecem. O Brasil que pensa e raciocina está congelado, em estado de letargia. Os com bagagem intelectual, política, de memória, conhecimento histórico e político para se manifestar se calam. Certamente envelhecidos, provavelmente acomodados, talvez acovardados, quem sabe desesperançados.
Os jovens de nada sabem. Não viveram a História recente do país. Não lhes deram a chance de saber. Lhes sonegaram o conhecimento nas escolas sobre os fatos. O patriotismo caiu em desuso. Os sonhos globalizaram. Soberania virou palavra empoeirada que se encontra no sótão – se é que ainda existe sótão -, dentro de algum baú – se é que há baú -, no interior de um papel amarelado, se houver ainda alguma folha de papel sobrevivente nessa era digital.
Os velhos sábios não falam. Se calam. Voam para Nova York, refugiam-se em Paris. Precisamos dos velhos, imploramos aos velhos. Falem, reajam! Não é questão mais de uma posição partidária, trata-se de uma postura de Soberania brasileira, de Pátria, de Estado de Direito.
Triste ver crescer sobre nosso Céu, nossos tetos, nossa alma, nossos ambientes, nossa consciência, a mancha escura da obtusidade, do receio da livre manifestação, do silêncio, do embrutecimento coletivo. Do medo.
Quando eu me vejo, aqui, escolhendo palavras para não resvalar num erro, num equívoco, num excesso que me possa custar a liberdade ou que me valha antipatias graves, retaliações, sinto a gravidade do momento que estamos vivendo.
Quando uma única cidadã de bem não respira a liberdade, a Pátria não está mais livre.
Quem permitiu, por omissão, inoperância, ambições e conveniências políticas que o Brasil caminhasse para trás, chegando a tal retrocesso de consciência, a ponto de apagar os méritos de sua própria História e ao extremo de aclamar a vilania de seus opressores, ainda vai se arrepender demais. Pagará alto preço por isso. Estamos entrando num caminho sem volta. E que Paris tenha muitos apartamentos charmosos para acolher a todos os valorosos omissos.
Perdoai-os, Senhor, por sua omissão!"

Que o exemplo seja seguido, a convocação seja atendida e uma primeira engatada para recobrarmos o caminhar para a frente. Hildegard Angel é caminhante viva e pujante de nossa história.

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