Foi o presidente Franklin Delano Roosevelt quem deu a partida para 1964, em seu encontro com Getúlio Vargas para definir a participação das forças armadas brasileiras, agregadas às norte americanas e especificamente na campanha da Itália, na 2ª. Grande Guerra e foram os supostos bombardeios de navios brasileiros por submarinos alemães que trouxeram o presidente dos EUA ao Brasil e com ele bases militares norte-americanas, a principal delas em Natal, no Rio Grande do Norte.
O retorno dos militares da FEB - FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA - trouxe também o germe da "democracia" nos moldes norte americanos e a deposição de Vargas, em 1945 foi consequência disso. Na campanha da Itália, o oficial de ligação entre os brasileiros e os norte americanos o general Vernon Walthers, mais tarde diretor da CIA, adido militar no Brasil em 1964 e seu contato era com o marechal Castelo Branco, primeiro presidente do golpe.
Os golpistas não contavam, no entanto, com as sucessivas derrotas eleitorais dos candidatos da antiga UDN - UNIÃO DEMOCRÁTICA NACIONAL - principal partido da direita e antro, por sua maioria, dos defensores da american way life.
A volta de Getúlio Vargas ao poder com impressionante consagração popular em 1950 reforçou a posição dos golpistas e atos como a criação da PETROBRAS, a decisão do então ministro da Trabalho João Goulart, que aumentou o salário mínimo em 100%, provocando forte reação militar (as forças armadas brasileiras foram e são ligadas às elites econômico e financeiras) e o episódio da tentativa de assassinato de Carlos Lacerda por um dos guarda costas de Getúlio por pouco não traz 1964 para 1954. Só não conseguiram o intento como consequência do suicídio do presidente Vargas.
Derrotadas novamente nas urnas em 1955 (o mandato presidencial era de cinco anos) com a eleição de JK e Jango como seu vice (as eleições de presidente e vice eram distintas) tentaram impedir a posse de Juscelino, no que foram impedidos pela reação do marechal Teixeira Lott e, finalmente, em 1960, a UDN ganhou com o Jânio Quadros, um bêbado com vocação ditatorial e que acabou renunciando sete meses depois.
A crise que se seguiu à renúncia de Jânio, em agosto de 1961, na tentativa de impedir a posse do vice, João Goulart (havia sido reeleito, ao contrário do presidente o vice tinha o direito à reeleição) e o fato de Jango estar na China em missão oficial, provocou a imediata reação do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, em 1964 e culminou num grande acordo, as forças armadas estavam dividas e Jango tomou posse sob o regime parlamentarista com Tancredo Neves como primeiro-ministro.
Jango formou inicialmente um gabinete de conciliação nacional e partiu para recuperar os poderes presidencialistas, fato que aconteceu em 1963, quando iniciou um grande programa de reformas estruturais, chamadas reformas de base (agrária, ttributária, urbana, etc) e políticas estatizantes.
Já era forte o movimento golpista através da ação de organizações financiadas pelos EUA (O IBAD - INSITUTO BRASILEIRO DE AÇÃO DEMOCRÁTICA), todas voltadas para derrotar o governo nas eleições legislativas de 1962 e fomentar a reação de grupos de direita em contrapartda a organização popular através do movimento estudantil, sindical (é criada a primeira central sindical do País, o CGT - COMANDO GERAL DOS TRABALHADORES à frente o deputado e líder sindical Clodesmith Riani). Sob a batuta do embaixador norte-americano Lincoln Gordon e do velho conhecido general Vernon Walthers - adido militar - aliados aos grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros, com a cumplicidade de boa parte das forças armadas, consumou-se o golpe, Jango foi deposto e o Brasil vive até hoje à sombra da boçalidade dos militares e seus aliados.
Exílios, torturas, assassinatos, de adversários, cassações políticas, presença em golpes militares em toda a América Latina, entrega de riquezas nacionais, um Brasil moldado à feição dos EUA, durou até 1984 com a eleição de Tancredo Neves (pelo voto indireto) para a presidência (não chegou a tomar posse, faleceu antes), tudo isso permanece em boa parte escondido dos brasileiros, e a democracia que temos não significa que estamos livres do golpismo hoje sob a forma da mídia de mercado, de governos fracos desde FHC, num processo político e econômico que abandonou a ideia de um projeto Brasil para inserir-se no processo de globalização, que Mílton Santos, o notável geógrafo brasileiro chamou de "globalitarização" , ou seja a globalização pela forma das armas e essas a serviço do sistema financeiro, vide a União Européia.
O golpe de 1964 foi uma ruptura do processo democrático, covarde e boçal, que cortou o avanço do País e a perspectiva real de sermos a potência mundial que sonhamos e desejamos.