Esta data é iniciativa do vereador soteropolitano Luís Monteiro da Costa, porque em 1938 o compositor Ary Barroso (1903-1964) exaltou a Bahia no samba: “Na baixa do sapateiro eu encontrei um dia/A morena mais frajola da Bahia/Pedi-lhe um beijo, não deu/Um abraço, sorriu/Pedi-lhe a mão, não quis dar, fugiu/Bahia terra da felicidade/Morena, eu ando louco de saudade/Meu Senhor do Bonfim/Arranje outra morena igualzinha pra mim/Oh! Amor, ai/Amor bobagem que a gente não explica ai, ai/Prova um bocadinho, ô/Fica envenenado, ô/E pro resto da vida é um tal de sofrer/Ôlará, oleré/Ô Bahia/Bahia que não me sai do pensamento/Faço o meu lamento, ô/Na desesperança, ô/De encontrar nesse mundo/Um amor que eu perdi na Bahia, vou contar/Ô Bahia/Bahia que não me sai do pensamento...”.
Como Ary Barroso era mineiro radicado no Rio de Janeiro e compôs tal samba sem nunca ter ido à Bahia, o vereador legislou pondo como Dia Nacional do Samba a data da primeira vez que o compositor visitou Salvador, dia 02/12/1940. Apesar do Dia Nacional do Samba só ter sido instituído oficialmente pelo governo federal em 1963. Embora seja belíssimo clássico o samba Na Baixa do Sapateiro tem letra influenciada pelo livro de 1933 Casa Grande & Senzala, do polímata Gilberto Freyre (1900-1978). A partir de tal livro foi propugnada a miscigenação da população brasileira através da chamada ideologia do embranquecimento que tornaria o Brasil um país antropologicamente ´moreno´.
Não, no que o Brasil sempre foi, o 2º país – o 1º é a Nigéria na África – em população com cor da pele preta ou de negros/negras. 68,53% conforme a Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD) do IBGE de 1976. O que não foi compreendido pelo compositor Chico Buarque quando compôs a bela obra musical de 1980 intitulada Morena de Angola. Afinal, conforme ensinou o marxista Trotsky (1879-1940) no livro Literatura e Revolução: “O compromisso dos poetas e artistas (inclusos sambistas e atletas esportivos) não é com o politicamente correto. Mas, sim produzir obras de excelência na qualidade, as quais quando ocorrem entram para a História, podendo ou não ajudar em sua transformação”.
O fato é que não existe na sociedade reconhecimento sobre a excelência do gênero musical Samba enquanto Arte e Cultura genuinamente brasileiras que não deveriam estar dissociadas da política educacional imprescindivelmente a ser praticada com excelência na qualidade em todos os níveis pelo estado brasileiro e de forma universalista. Isto é, praticada obrigatoriamente de forma pública, gratuita e com direito iguais para todos e todas. Haja vista, a propaganda de vezo populista do governo federal de ´pátria educadora´. A despeito de que, sem sectarismo, reconhecer-se que a presidenta Dilma (PT) acertou quando instituiu através da Lei 12.624 de 09/05/2012 a data de 17 de outubro enquanto Dia Nacional da Música Popular Brasileira.
*jornalista – no Rio é torcedor da Portela, foi um dos fundadores em 1975/6 do Grêmio Recreativo de Artes Negras e Escola de Samba (GRANES) Quilombo e em 1978/9 da extinta Sociedade Cultural Apóstolos do Samba - em Macaé foi diretor de Relações Públicas da escola de samba campeã em 1982 Princesinha do Atlântico.
