Super-herois unidos jamais serão vencidos (OS VINGADORES)

Pelo visto, a fórmula de reunir os heróis da Marvel em novos filmes será aproveitada futuramente. É que “Os vingadores” (“The avengers”, EUA, 2012) bombou nos cinemas do mundo inteiro. Os cerca de 150 milhões de dólares do orçamento foram superados rapidamente. Qual o segredo do filme? Parece que os méritos cabem ao diretor Joss Whedon, que também é autor do roteiro. Stan Lee, criador dos personagens, menos de um, também é garantia de sucesso. Depois de ser reconhecido como um grande fabulador, ele se consagra agora no cinema com seus super-herois trágicos e humanos. Com Jon Favreau, Stan Lee figura como produtor executivo do filme.
Em “Homem de Ferro 2” (2010) e “Capitão América: O Primeiro Vingador” (2010), a reunião dos herois já fora anunciada. Não se trata de uma novidade, pois, nos anos de 1950, era comum a cooperação de super-herois. O próprio Lee criou o Quarteto Fantástico, que também já ganhou as telas. Todos os que participam de “Os Vingadores” também já mereceram filmes.
Até agora, Homem de Ferro mereceu dois filmes. Além das séries de animação e de episódios com artistas, Hulk já apareceu em dois longas metragens, sendo que o primeiro, dirigido por Ang Lee, foi o mais original. Thor estreou recentemente com excelente direção de Kenneth Branagh, tendo a seu lado Gavião Arqueiro/Clint Barton (Jeremy Renner) e Loki. A Viúva Negra participou de “Homem de Ferro 2”.
De todos eles, só o Capitão América, foi concebido em contexto distinto da Guerra Fria. Sua criação data de 1941, sendo seus pais Joe Simon e Jack Kirby. Seu alvo é o nazismo, e não a União Soviética ou os países socialistas. O regime nazista e a Guerra Fria terminaram, deixando seus inimigos órfãos, mas novos contextos permitem que eles voltem à ativa. Capitão América, o super-heroi nerd, para os dias de hoje, acorda de um longo sono para se juntar a seus companheiros numa luta contra Loki, que, com suas legiões, invade a Terra. O capitão está tentando livrar-se de suas vestimentas nacionalistas. Loki seria alguma alusão à organização Al-Qaeda? Pode ser. Thor (Chris Hemsworth), irmão de Loki e o mais legendário de todos, volt a aos humanos para controlá-lo. Homem de Ferro tem papel destacado no filme, embora seus poderes derivem da tecnologia. Hulk abandona seu individualismo para integrar-se a uma equipe. A Viúva Negra, ex-agente soviética, está agora em outra luta.
O que Whedon faz bem é traçar um roteiro no qual a ação não é o único elemento. Os diálogos são excelentes, sobretudo entre Homem de Ferro e Capitão América/Chris Evans (Steve Rogers). Eles arrancam gargalhadas do público, tanto quanto as lutas. O desprezo de Loki (Tom Hiddleston) por Hulk é castigado pela força bruta do monstro verde. Enfim, o filme agradou a todos: crianças, adolescentes e adultos. Inclusive à crítica. Sempre defendi que o crítico deve assistir aos filmes que vai comentar em sessão comum para acompanhar as reações dos espectadores.
Por outro lado, não se pode deixar de lado o caráter tipicamente estadunidense do filme, nos moldes de Roland Emmerich. O mais importante alvo do inimigo são os Estados Unidos, particularmente Nova Iorque. O mundo não passa de mero coadjuvante agradecido aos super-herois. O bunker do Homem de Ferro foi eleito por Loki como símbolo de sua vitória. Pepper Potts (Gwyneth Paltrow), a namorada do Homem de Ferro/Tony Stark (Robert Downey Jr.) tem papel irrelevante no filme, de longe superada pela Viúva Negra/Natasha Romanoff (Scarlett Johansson). Parece que, depois de trabalhar sob a batuta de Woody Allen, Johansson colocou sua beleza novamente a serviço de filmes de aventura.
A difícil missão de Nick Fury (Samuel L. Jackson) é reunir os super-herois e formar com eles uma equipe integrada. O individualismo norte-americano dificulta essa integração. O Capitão América discute o tempo todo com o playboy e vaidoso Homem de Ferro, que considera seus defeitos como qualidades. O Capitão América guarda resquícios de origem bem comportada.
Ao mesmo tempo, Nick Fury representa o papel do agente indisciplinado junto a seus superiores. O líder que toma decisões que desrespeitam a hierarquia, mas que acerta nos seus atos. Ele é amado pela equipe que forma. O norte-americano gosta muito de pessoas como Nick, haja vista o filme sobre o desobediente General Patton, heroi da Segunda Guerra Mundial.
Por fim, o solitário Hulk/Bruce Banner (Mark Ruffalo) não foi criado para agir em conjunto. Quando Banner se irrita, seu ser é dominado pelas emoções e pelo irracional. Claro que, no fundo, ele guarda o sentido do bem. No entanto, em “Os vingadores”, Hulk vive um papel mais controlado, em que sua personalidade animal pode ser assumida por vontade de Banner.
Seja como for, “Os vingadores” vale como entretenimento. Vejamos quem serão os super-herois a compor a próxima equipe.

ARTHUR SOFFIATI é historiador e ambientalista
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