Nossa sociedade de consumo erigiu um altar ao automóvel e fez dele seu maior sonho de consumo. O automóvel deixou de ser uma utilidade para vencer as distâncias e passou a ser objeto de desejo, especialmente das classes médias. Vítima da propaganda que associa ter um carro ao sucesso na vida, o consumidor dedica boa parte de seus esforços para incorporar a seu patrimônio um automóvel, mesmo que usado. Depois descobre que a prometida liberdade de ir e vir é em muito limitada pelo excesso desses veículos nas ruas de nossas metrópoles e conclui conformada que há mais carros nas ruas do que espaço para sua circulação.
O que também não é dito ao consumidor é que o automóvel moderno é u’a máquina retrógrada, defasada e ineficiente, envolvida por uma carroceria em que predominam alguns itens de conforto e segurança que objetivam mascarar o fracasso tecnológico escondido sob a tampa do compartimento do motor.
Seu motor é um exemplo perfeito de ineficiência energética ou de “desengenharia” (perdoem o neologismo). O motor dos carros de hoje incorporou, em mais de um século, muito pouco ou quase nada no que afeta o seu rendimento mecânico. O rendimento de qualquer máquina é a relação entre a energia tornada disponível e a energia de fato usada para produzir trabalho. Nas máquinas térmicas, como os motores dos carros, podemos calcular a energia tornada disponível a partir do calor liberado pela queima do combustível Contudo, uma grande parte desta energia se perde como calor para o meio ambiente e por atrito. Apenas para se ter uma idéia, o rendimento dos motores a gasolina, álcool ou gás natural varia na faixa de 24 a 28%! Ou seja, um motor de automóvel desperdiça ou joga fora entre 72 e 76% da energia liberada pela queima do combustível. Se um litro de gasolina custa hoje algo como R$ 2,50, a cada litro consumido R$ 1,80 são gastos inutilmente. Vamos a um exemplo real: se um veículo consome, em média, 1 litro de gasolina a cada 12 quilômetros percorridos, numa viagem entre Rio e São Paulo – cerca de 400 km – um carro consumirá 34 litros a um custo total de R$ 85,00. Desse total, R$ 64,00 serão gastos inutilmente, em função da ineficiência dos motores..
O rendimento dos motores diesel é maior que o dos motores a gasolina porque o diesel é queimado numa temperatura superior. Portanto, uma parte maior do calor pode ser empregada para produzir trabalho útil. Na média, o rendimento dos motores diesel dos caminhões, locomotivas ferroviárias e fábricas fica na faixa de 32 a 38%.
Poderíamos pensar que o motor a jato dos modernos aviões, que funciona em tão altas temperaturas e possui poucas partes móveis, tem um alto rendimento, mas isto não é verdade. O motor a jato libera gases de combustão a temperaturas muito altas, o que acarreta uma grande perda de calor e, portanto, energia. Seu rendimento é equivalente ao dos motores a gasolina, isto é, cerca de 24 a 28%.
No mundo de hoje já há motores capazes de levar um artefato espacial aos confins do Sistema Solar ou mesmo além. A partir desses dados, soa estarrecedor que, num mundo de tantos avanços tecnológicos em tantos segmentos, a indústria automobilística tenha se provado tão indolente, defasada e incompetente para produzir motores mais alinhados com o atual estágio de demanda de nossa civilização
Finalmente, lembre-se sempre: ao ligar o motor de seu carro, você estará acionando uma das máquinas mais burras em uso ainda hoje. E mais, neste momento, você estará desperdiçando R$ 75,00 em cada R$ 100,00 gastos em combustível.