A mão “invisível” do mercado e o barril de petróleo

No início de janeiro deste ano, a cotação do barril de petróleo (159 litros) nos mercados globalizados alcançou, pela primeira vez na história, a marca dos 100 dólares. Essa cotação, é bom que se explique, é a dos petróleos de referência: o tipo “Brent” que é uma mistura de petróleos leves produzidos no mar do Norte, oriundos dos sistemas petrolíferos Brent e Ninian, com teor de enxofre de 0,34% e que reflete os preços no mercado de Londres e o “WTI” (West Texas Intermediate), petróleo leve, com teor de enxofre de 0,3%, cuja cotação diária no mercado “spot” reflete o preço nos EUA

Dirão muitos que este recorde se deve à maior demanda de aquecimento, normal nos invernos dos países do hemisfério norte, grandes importadores de óleo, ao aumento da tensão entre EUA e Irã e no Oriente Médio em geral ou a alguma redução fortuita da produção de um ou outro país produtor.

O fato é que, em janeiro de 2002 – há 6 anos atrás, portanto – este mesmo barril era cotado a 20 dólares. Entre 2002 e 2008 a cotação do barril de óleo experimentou uma ascensão de 500%, ou algo como 50% ao ano. Não se tem notícia de alta similar em nenhuma outra “commodity” do chamado “mercado”.

Acusar o inverno no norte ou as tensões entre americanos e iranianos como causadores da alta atual é tentar esconder o sol com uma peneira. Antes do referido inverno e das tensões, o barril já valia mais de 80 dólares. Um aumento de 500% em 6 anos merece ser estudado de forma mais realista e inteligente.

Para que se forme uma idéia mais precisa da questão, vale esclarecer que o custo de produção do petróleo nos países do Golfo (Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque e Emirados Árabes Unidos) não ultrapassa 2 dólares por barril. Entenda-se como custo de produção o total de despesas incorridas pelos produtores para extrair o petróleo do subsolo e transferi-lo para um navio. Pois bem, como explicar que uma “commodity” como a soja, o café ou o minério de ferro custe na ponta da produção 2 dólares por tonelada e chegue à ponta da industrialização a 100 dólares? Como aceitar que, entre a produção e o beneficiamento, o petróleo bruto experimente um aumento de mais de 5000%? Não é possível encontrar nada parecido com os custos e os preços de nenhuma outra mercadoria, exceto, talvez, no caso das drogas ilícitas.

A crendice atual, inculcada permanentemente nos corações e mentes de maneira impiedosa, faz com que as pessoas aceitem de modo passivo que a mão “invisível” do mercado é a única ferramenta apta a alocar preços de bens e serviços - através dos ajustes da oferta e da demanda de bens e serviços - de modo justo e equilibrado.

No caso do petróleo, justamente quando a demanda cresce a oferta se reduz. Por trás deste imbroglio está o visível cartel de países produtores, a OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo e outro cartel menos visível na mídia, o cartel das grandes corporações privadas de petróleo – Exxon, Shell, British Petroleum, Elf Acquitaine, Total e outras. São exatamente essas corporações que, por concessão dos governos dos países exportadores de petróleo, produzem em parceria com empresas daqueles países o óleo a 2 dólares e o vendem a 100 dólares o barril.

Este é o tão decantado e justo mercado. Sua mão, contudo, está no bolso dos consumidores. Outros afirmam, entretanto, que o mercado é maneta!

 

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