O crime não compensa

Eleição mostra que deputados identificados com o desmatamento perderam votos. É sinal de que o eleitor quer ver o meio ambiente debatido no segundo turno

Tom Jobim já dizia que o Brasil não é para principiantes. Enquanto os analistas se dedicam a explicar o resultado e a especular sobre o rumo que Marina Silva irá tomar diante da disputa entre Serra e Dilma no segundo turno, o Greenpeace acredita que é mais do que hora da questão ambiental – justamente a que catapultou a senadora no cenário político brasileiro – encontrar seu lugar entre os temas prioritários da agenda nacional, acabando com a síndrome de que político que fala em meio ambiente perde votos. Marina teve 20 milhões de votos.

Dilma e Serra não podem mais fugir do tema. Para além do que fazer em saúde, educação, segurança e emprego, que são alvo das promessas dos candidatos, o Greenpeace defende que há assuntos dentro da pauta ambiental que precisam ser priorizados no plano de governo de um futuro presidente da República.

O primeiro deles é a compatibilização entre a expansão da agricultura e a garantia da preservação das nossas florestas. Num país com mais de uma centena de milhões de hectares abandonados e outros tantos desmatados, dizer que é preciso desmatar mais para continuar plantando é repetir o velho mantra de que a destruição da natureza é o passaporte para o desenvolvimento.

Assim, a tentativa de acabar com o Código Florestal no Congresso Nacional, que conta com o apoio de setores dos mais diferentes partidos, incluindo o PT e o PSDB, é o primeiro tema que exige da sociedade uma atenção imediata. Qualquer dos dois candidatos que não deixar clara a importância do código para a proteção de nossas florestas vai se comprometer não com o futuro, mas com um Brasil atrasado.

Outro assunto fundamental é o que fazer para que o Brasil assegure o crescimento da sua economia sem sujar a nossa matriz de geração elétrica, baseada principalmente em fontes limpas e renováveis. Não bastasse o fato de estarmos aumentando a geração de energia a partir de fontes sujas, embarcamos na aventura do pré-sal sem medir os impactos ambientais e econômicos dessa opção.

Ela vai dobrar as nossas emissões dos gases de efeito estufa e certamente atrasará o esforço que o país precisa fazer para não perder a corrida tecnológica pela busca do combustível limpo e renovável que vai fazer o mundo se mover no século 21.

O candidato presidencial que decidir ignorar as questões ambientais daqui para a frente corre sério risco de entrar em choque com o eleitor. Se algum deles duvidar disso, basta estudar o que aconteceu na eleição para Câmara dos Deputados. Em todo o país, deputados identificados com a causa ruralista e que combateram o Código Florestal nos últimos meses, defendendo a anistia para desmatadores, viram emagrecer seu cabedal eleitoral ou simplesmente não foram eleitos, caso de Valdir Colatto (PMDB-SC).

Aldo Rebelo (PCdoB-SP), líder da ofensiva contra o Código Florestal, angariou o dobro de fundos mas perdeu 47 mil votos em relação a eleição de 2006. Abelardo Lupion (PMDB-PR), outro ruralista empedernido, foi eleito. Mas não por seus próprios méritos. Teve que se valer da força eleitoral de sua legenda. Com os deputados identificados com a defesa de nossas florestas aconteceu exatamente o contrário. Rebeca Garcia (PP-AM) teve 64 mil votos a mais do que na eleição passada. Ivan Valente (PSOL-SP), de 83 mil votos em 2006, saltou para 189 mil em 2010. O eleitor deu um recado. Ficar a favor do crime ambiental, definitivamente, não compensa.
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