Jornalismo Mauricinho do "Folhão"

Eu realmente estou um pouco estarrecido com o comportamento da Folha de São Paulo no que se refere ao trágico episódio que aconteceu comigo e que já é do conhecimento de todos (pelo menos dos que freqüentam esse blog). Uma pá de jornalistas ficou no meu pé assim que saí da UTI no afã de conseguirem a primeira declaração minha sobre o ocorrido. Eu me neguei a atender quem quer que fosse por vários motivos. Porque estava muito cansado (entendam que levei três tiros e ainda quebrei o braço esquerdo tendo que me submeter a duas cirurgias sendo que uma delas durou 9 horas – quer dizer, fiquei mesmo entre a vida e a morte e segundo me disseram, muito mais pra lá do que pra cá), entupido de remédios, o que me dificultava o pleno entendimento do que estava acontecendo e em terceiro lugar, não tinha o menor interesse que a imprensa fizesse um freak-show dessa história toda (muito dolorida pra minha família e pros meus amigos). Não quero ser conhecido como o Dramaturgo que reagiu a um assalto e levou três tiros. Quero sim ser conhecido como o Dramaturgo que escreveu mais de 50 peças e que trabalha exaustivamente não só como escritor, mas também como diretor, ator, sonoplasta, iluminador, e que ainda encontra tempo pra cantar numa banda de rock. É pelo meu trabalho que quero ser lembrado quando estiver bebendo em algum boteco do céu, e não porque reagi a um assalto e levei três tiros. Então não tinha o menor interesse de dar entrevista nenhuma. E evitei o máximo que pude. O jornalista Lucas Neves da Folha (Ilustrada) me procurou e eu disse pra ele esperar, que ia dar entrevista pra ele e pro Estadão no mesmo dia, sem procurar privilegiar nenhum dos dois. Afinal o Estadão tem dois jornalistas que são meus amigos e pra quem eu jamais recusaria qualquer declaração: Beth Néspoli que acompanha o meu trabalho com a maior atenção desde 1.997, inclusive às vezes fazendo críticas que eu discordo e com quem inclusive me sinto à vontade pra discutir essas criticas e o Jotabê Medeiros que é simplesmente meu amigo de juventude, de jogar futebol juntos e de namorar a melhor amiga da minha namorada. Pra vocês terem uma idéia, o Jotabê foi o primeiro cara que escreveu uma crítica de peça minha no jornal, isso quando ele era ainda estudante do curso de Comunicação Social na UEL (Universidade Estadual de Londrina). Não tinha como negar entrevista pra nenhum deles. Então combinei com o Lucas Neves que iria dar entrevista pra ele no mesmo dia que concedesse a entrevista pro Caderno 2. Esperei o Jotabê marcar o dia que ele queria, e ficou decidido que seria quarta-feira da próxima semana (dia 20/01). O Lucas se dizia pressionado pela editoria da Ilustrada que fazia questão de soltar a matéria primeiro e com exclusividade. Respondi que não tinha nada a ver com isso e que só daria a entrevista no mesmo dia do Estadão. Eu não tava interessado em dar entrevista. Ele é que tava a fim de me entrevistar.
 
Engraçado que quando a gente estréia alguma peça e precisa de divulgação, é o mó trampo pra conseguir uma matéria. Aí se instaurou a fogueira das vaidades. Mauricio Stycer do Caderno Cotidiano da Folha me telefonou querendo uma entrevista. Bem, Me recusei, pedindo pra ele esperar e que talvez mais pra frente a gente pudesse conversar (eu já tava comprometido com o Lucas e o Jotabê e sequer conheço o Mauricio Stycer. Não via nenhum motivo pra dar entrevista pra ele, ainda mais na frente dos outros dois. Até concederia uma entrevista pra ele, desde que ele tivesse um pouco de paciência), o que deixou o Mauricio bem irritado. Aí uma jornalista do Globo on line me ligou e conversou rapidamente comigo por telefone (não foi exatamente uma entrevista – respondi quatro perguntas informalmente pra ela por telefone). Foi o suficiente pro Mauricinho Stycer ficar ainda mais puto comigo (parece que ele não conseguiu falar comigo depois). Foi aí que a Folha de São Paulo começou a me ferrar com todo o poder que eles detém. Primeiro soltaram uma matéria podre no dia 14 de janeiro (“Bortolotto faz de blog palco para falar de crime”), não assinada onde eles simplesmente copiaram trechos de textos que escrevi no blog. E qualquer estudante do primeiro ano de jornalismo sabe que excertos de um texto fora de contexto podem prejudicar e muito o real entendimento do pensamento do autor. Mas foi exatamente o que eles fizeram. No final da matéria escreveram: “Procurado pela Folha, Bortolotto não deu entrevista”. Como assim, porra? Eu tinha entrevista marcada com o Lucas Neves pra quarta-feira (dia 20) que vem (o mesmo dia que marquei com o Jotabê). O que acontece é que eles queriam que eu desse entrevista pra eles antes do Estadão. Eu não aceitei e eles ficaram putos comigo. Aí no dia 15 saiu outra matéria mais podre ainda, essa assinada por um tal de Fábio Victor onde ele faz questão de enfatizar que a polícia estava dando prioridade pro meu caso. Notem as aspas: “Segundo a Folha apurou, por determinação do alto escalão da Secretaria de Segurança Pública, uma equipe inteira do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), onde corre o inquérito, está mobilizada para cuidar do caso. São nove investigadores, cinco escrivães e um delegado. A unidade, responsável por investigar crimes contra a vida em sete bairros da região central da cidade, teve de suspender os 130 inquéritos sob sua responsabilidade para elucidar com agilidade o caso de Bortolotto.
Desde o início, o governo do Estado tem dedicado atenção especial ao episódio. O governador José Serra visitou o dramaturgo no hospital.”
 
Em primeiro lugar, que culpa tenho eu disso? Eu pedi alguma atenção especial pro meu caso? Que eu saiba, o Governador esteve mesmo me visitando no hospital, mas eu tava em coma induzido. Não cheguei a conversar com ele (não conheço o governador pessoalmente) e não pedi nenhuma atenção especial pra mim. Conversei sim com o Kassab que foi lá na UTI com sua assessoria e conversou comigo, mas foi uma conversa informal onde eu também não pedi nada pra ele. Não tenho essa cara de pau. Fui bem educado pelos meus pais. Foi até engraçado porque uma das enfermeiras me julgando um cara muito importante por estar recebendo visita do prefeito, pediu que eu intercedesse junto a ele a respeito do décimo quarto salário dela. E agora eu pergunto: Fui eu que convidei o Kassab a me visitar?
 
Mas agora vem o pior. Olhem só esse outro trecho da matéria: "Ocorre que, ao ser confrontado com o suspeito no último dia 8, quando também depôs à polícia, Bortolotto se revelou incapaz de identificá-lo como o autor dos disparos. Alegou que estava muito bêbado naquela madrugada para conseguir apontar quem quer que fosse como o responsável.
 
No entender de policiais, o real motivo de Bortolotto ao se dizer inapto seria o fato de ele ser conhecido no submundo da praça Roosevelt, além de saber que, nesse universo, a delação é tida como imperdoável.

Procurado, Bortolotto não quis dar entrevista".
 
Vamos deixar uma coisa bem clara. Em primeiro lugar, eu não aleguei que estava bêbado. Eu estava realmente muito bêbado e toda a rapaziada que tava no bar sabe disso e infelizmente não consigo identificar ninguém. Adoraria identificar pelo menos o cara que atirou em mim, mas não posso fazer isso e correr o risco de condenar algum inocente. Pra vocês terem uma idéia do meu estado etílico, até alguns dias atrás eu podia jurar que o cara que atirou em mim e que eu derrubei no chão, estava usando camiseta branca. Vendo o vídeo do circuito interno dos Parlapatões, percebo que o cara está usando uma blusa verde. Em resumo, que espécie de testemunha confiável eu sou? Aí a matéria ainda afirma que os policiais disseram que eu estou com medo de denunciar os caras e sofrer represália. Quer dizer então que eu não tenho medo de enfrentar um cara armado que vem pra cima de mim, mas agora eu tô com medinho de denunciar o cara? Ah, qual é, porra? Vamos deixar uma coisa muito clara, pelo menos no meu blog onde ninguém pode distorcer as minhas palavras. Eu não tenho medo de ninguém. Nunca tive. Eu sempre fui kamikaze e quem me conhece, sabe disso. E digo isso sem nenhum orgulho, porque eu acho sinceramente que eu devia ser mais cuidadoso comigo mesmo. Mas infelizmente eu não sou, até por isso vivo me metendo em encrenca e me ferrando. Se eu pudesse identificar o cara, eu o faria, mesmo porque não interpreto isso como delação. O cara atirou em mim, porra. Eu não sou bandido e não vivo sob código de bandido. Mas eu não sou leviano a ponto de acusar alguém sem ter certeza. E isso definitivamente eu não vou fazer. Vou ficar o resto da minha vida na dúvida se incriminei um inocente. Eu prefiro levar um tiro e acabar com essa merda de uma vez. Acho bem mais digno. Se antes eu já não tinha medo de morrer, agora então eu tenho muito menos. Descobri que morrer é simplesmente não mais existir. Fiquei dois dias em coma induzido. Não é nada demais. O ruim mesmo é ficar por aqui vivendo sem dignidade. E que história é essa de submundo da Praça Roosevelt? Eu sou um escritor e ator. Eu não faço parte de nenhuma gang. Meus amigos são todos escritores, atores, músicos e simpatizantes de artes em geral. Ninguém ali é bandido. Que merda é essa de vir dizer “que nesse universo a delação é tida como imperdoável” ? Eu não faço parte desse universo, Fábio Victor. Eu sou escritor e ator. Sequer conheço algum traficante na área, simplesmente porque sequer eu cheiro cocaína. Então de que merda de submundo que eu sou? E depois ainda o Fábio Victor volta a dizer que “procurado, Bortolotto não quis dar entrevista”. Caralho, eu já tinha prometido pro Lucas que ia dar entrevista pra ele no mesmo dia do Estadão. Porque a Folha de São Paulo tem que ser tão mimada assim? Porque eles acham que são os melhores e que tem que ter prioridades sempre? O que é que acontece?
 
E uma coisa eu tô tentando entender até agora. Foi essa matéria de merda que o Bressane elogiou? O que tá acontecendo com você, Bressane?
 
E aí vem a cereja do bolo. O Mauricinho Stycer no blog dele comentando a matéria do amiguinho Fábio Victor diz que ela levanta uma questão fundamental. Notem as aspas: “a do peculiar privilégio deste caso sobre os demais” Volto a perguntar: Que culpa eu tenho? Não pedi nenhum privilégio. Não conheço o governador José Serra e não conhecia o prefeito Kassab até ele entrar lá na UTI e vir falar comigo. E depois disso, ainda não nos tornamos grandes amigos, não vamos jogar nenhuma partida de squash no final de semana.
 
E o Mauricinho continua provocando no seu texto : “e aborda um tema muito sensível e delicado, que é a dupla violência que Bortolotto, como outras vítimas, pode estar sofrendo: a do assalto em si e, depois, a do medo de represálias se ajudar a levar o criminoso à prisão”.
 
Caralho, tudo o que eu queria era colocar esse merda que atirou em mim na cadeia e esse mauricinho fala uma merda dessa? Eu vou repetir pela última vez: Não consigo identificar sequer o cara que atirou em mim simplesmente porque estava muito bêbado e foi tudo muito rápido. Tinha um outro lá que eu lembro praticamente porra nenhuma. Quanto aos outros dois assaltantes, não me lembro sequer de ter visto eles. Só fiquei sabendo que eram quatro depois que acordei do coma no hospital. Sei que dois entraram intimando e achei que podia lembrar pelo menos do cara que atirou em mim, mas depois que vi o vídeo, percebi que minhas parcas lembranças não valiam merda nenhuma.
 
E o Mauricinho Stycer termina assim o seu brilhante texto: “Em sua primeira entrevista à televisão, ao programa “Metropolis”, da TV Cultura, o dramaturgo refletiu sobre o impacto que o assalto está tendo em sua vida e como poderá se refletir em sua obra, mas não comentou os fatos relacionados à noite do crime”
 
Mauricinho, eu vou gritar no seu ouvido pra ver se você entende, falou? EU NÃO COMENTEI NADA SOBRE A NOITE DO CRIME PORQUE A REPÓRTER NÃO PERGUNTOU SOBRE ISSO E ACERTADAMENTE, DEVO DIZER, AFINAL É O PROGRAMA METROPOLIS E QUE EU SAIBA, O PROGRAMA METROPOLIS É UM PROGRAMA DE CULTURA E NÃO UM PROGRAMA POLICIAL.
 
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