Marina Silva entregou o cargo de ministra do Meio Ambiente no dia 13 de maio. Lula rapidamente tratou de afirmar que nada mudará na política ambiental do governo. Nada mudará no que se refere à Amazônia. Os planos do imperialismo de dominação podem seguir a todo o vapor.
Além da saída de Marina Silva, com a recente crise de grãos no USA, que acabou se expandindo para o Brasil, ampliou-se o debate sobre a preservação da Amazônia. O que os teóricos, serviçais do imperialismo, afirmavam e a imprensa dos monopólios, como papagaio, repetia era que a "comunidade internacional" estava preocupada, uma vez que uma ampliação da produção de grãos poderia deslocar ainda mais as fronteiras agrícolas para a Amazônia.
Nenhum deles falou uma palavra sobre
os crimes que a tal "comunidade internacional", apoiada pela
"comunidade nacional" de privatistas, políticos eleitoreiros, ONGs e
latifundiários cometem diariamente na Amazônia. Na verdade, com suas
análises fajutas, só acobertam os planos do imperialismo, com a
cumplicidade da gerência petista, de se apoderar da Amazônia.
Em AND 42 (Imperialismo e latifúndio devastam Amazônia)
voltamos a falar sobre o tema com o intuito de mostrar aos nossos
leitores o que está por trás de tanto alarido. Nesta edição, damos
continuidade, trazendo a série "Amazônia: desgoverno e dominação", a
qual iniciamos publicando uma mesa redonda com o Sociólogo Fausto
Arruda, o ex-governador de Rondônia e advogado Jerônimo Santana e o
Engenheiro Agrônomo Flávio Garcia.
Fausto: O desmatamento da Amazônia é apenas a continuação de
uma ação iniciada pelos portugueses quando ocuparam nosso território há
cinco séculos. A devastação da Mata Atlântica, da Floresta de
Araucária, da Caatinga e do Cerrado está ligada à sucessão de ciclos
econômicos, sempre servindo, em primeiro lugar, aos interesses
coloniais e imperialistas, ao latifúndio e ao capitalismo burocrático.
Paralelo ao desmatamento das florestas ocorreu o genocídio com os povos
indígenas nas áreas ocupadas pelas fazendas de plantação de
cana-de-açúcar, de gado, de café, de cacau, etc. A presença do
colonialismo inglês e do imperialismo ianque na construção das estradas
de ferro e na especulação fundiária deu início ao fenômeno da
desterritorialização agravado, hoje, pela compra indiscriminada de
terras por bancos e empresas estrangeiras, pelo domínio das ONGs
financiadas pelo imperialismo e pelo aluguel de florestas.
Jerônimo:
Quando o General Castelo Branco toma o poder ele cria a
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e extingue a
Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia
(Spevia). A Sudam começa a financiar gado. Depois no governo Figueiredo
disseram que o boi da Sudam estava desmatando muito. Era a ocupação da
Amazônia pela pata do boi. Então trocaram o boi pela madeira. É o
Governo quem financia o desmatamento da Amazônia. A predação da
Amazônia ocorre com a formação de pasto, criação de boi, produção de
etanol, construção de grandes represas, como Tucuruí e Xingu. É o
governo quem patrocina a destruição da Amazônia.
Fausto: Neste
processo o Estado brasileiro transferiu renda da nação a um seleto
grupo de privilegiados (banqueiros, transnacionais, oligarcas locais e
empresários do sudeste) que transformaram os estados da região em
verdadeiras capitanias hereditárias, redistribuindo as terras públicas
entre seus apaniguados que, por sua vez, criaram verdadeiros feudos nos
quais a presença do Estado (burguês-latifundiário serviçal do
imperialismo) se manifestava pela ação direta das classes dominantes,de
forma não institucionalizada. Aí foram praticados os atos mais vis
contra os índios, os nordestinos e os caboclos, tudo sob as "vistas
grossas" do estado.
Jerônimo: O interesse em
manter esta situação é tão grande que eles criaram mais de 30
ministérios e esqueceram-na. Em 1978, eu apresentei um projeto criando
o Ministério da Amazônia, com sede na Amazônia, aproveitando o pessoal
de lá. O Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é todo de São
Paulo, ninguém conhece a Amazônia.
Fausto: Temos aqui um exemplar da Revista Jurídica Consulex,
edição n° 267, de fevereiro de 2008. Nela encontramos um artigo do
Coronel Miguel Daladier Barros, no qual ele denuncia a ação do
imperialismo através das ONGs com vistas a cercear aos brasileiros a
soberania sobre a Amazônia. Entre as várias declarações de
representantes do imperialismo, tanto ianque como europeu, que o
articulista reproduz, destaco aqui duas. A do Ministro do Meio Ambiente
do Reino Unido, David Miliband, que se refere a uma privatização
completa da Amazônia, alegadamente, para preservar a floresta como uma
proteção contra as emissões de dióxido de carbono que, supostamente,
estariam provocando o aquecimento global. Segundo o articulista "a
sugestão, feita numa conferência sobre mudanças climáticas em
Monterrey, México, no final de setembro de 2006, envolveria a aquisição
de grandes áreas da floresta amazônica por cidadãos e grupos privados,
de modo a formar uma vasta área protegida cuja administração seria
confiada a uma comissão internacional"
A outra é uma
declaração do Conselho Mundial de Igrejas Cristãs que expediu entre
1991-1992 as seguintes diretrizes aos seus missionários sediados no
Brasil: ‘a Amazônia, cuja maior área fica no Brasil, Colômbia e Peru, é
considerada por nós como patrimônio da humanidade. A posse dessa imensa
área pelos países mencionados é meramente circunstancial’. E ainda: ‘É
nosso dever garantir a preservação do território da Amazônia e de seus
habitantes aborígines para o desfrute das grandes civilizações
européias". Eu vejo nestas duas declarações a síntese do que vem
ocorrendo na Amazônia derivada do caráter semicolonial do Estado
brasileiro, cujas forças armadas constituem-se em sua coluna vertebral,
assegurando a subjugação nacional. Nada em contrário, portanto, pode-se
esperar da política do gerenciamento de Luiz Inácio para a Amazônia.
Jerônimo: A
Amazônia não tem uma lei que a proteja. É colonialismo. Eles dizem que
estão preocupados com a Amazônia, mas o entreguismo é tanto que ao
invés de criar mecanismos para que ela seja nossa, criaram o
arrendamento de florestas. É uma lei de florestas para predar, não é
para preservar.
Flávio Garcia: Quem esteve à
frente do processo de planejamento no Ministério do Meio Ambiente,
junto com a Marina Silva, foi o Imazom (Instituto do Homem do Meio
Ambiente da Amazônia), que patrocinou o projeto de concessões
florestais. Há uns dois meses eles romperam com a Marina, e estão
contra o desmatamento, mas ninguém sabe o motivo. Parece que eles
descobriram que o MMA estava fazendo um projeto pra vender mesmo a
Amazônia, mas ainda é preciso pesquisar isso. A grande questão é que
antes eles eram a favor disso.
Flávio: A Holanda é o país que mais pesquisa sobre florestas
no mundo. A Holanda, o Japão e a China estão comprando tudo que podem
na Amazônia. Então existe um problema sério do capital europeu contra o
chinês. A China e a Índia tem quase a metade da população do mundo, mas
não têm madeira nem minério. O Japão tem a tecnologia, aí você imagina
onde vamos chegar. A mídia ainda não se definiu se, nesse processo de
disputa, vai ficar com a China ou com o USA.
Fausto: Com
certeza os monopólios de comunicação se definirão por quem pagar mais.
É provável, também, que cada nação imperialista crie sua área de
influência na imprensa brasileira a partir da aquisição de participação
acionária nos veículos, como já vem ocorrendo, "por baixo dos panos". A
China, com suas pretensões imperialistas, tem desenvolvido uma
agressiva política em busca de fontes de matérias-primas, buscando,
assim, desbancar o USA, a Europa e o Japão. Sua estratégia, entretanto,
não traz nada de novo: financiar projetos de construção e modernização
de infra-estrutura rodoferroviária e portuária, para o escoamento das
mercadorias de seu interesse. Daí sua briga pela saída para o Pacífico.
Flávio: Nessa briga toda, nenhum dos
governadores da Amazônia se posicionou contra esses interesses de
dominação. O Acre está calado. Está saindo tudo de graça por causa da
Lei Kandir. Os minérios saem todos de graça. O João Paulo Capobiani era
o diretor da Diretoria de Florestas, do Ibama. Ele foi denunciado há
pouco... A idéia dele é que as empresas que desmatam, no Acre, adquiram
as Florestas Nacionais.
As Florestas são 50 mil, 100 mil
ha. Há Florestas do município, do Estado e da União e nos três níveis
se pode alugá-las, além do que eles podem criar florestas.
Fausto:
Também Flávio, você está querendo demais. Estes governadores foram
eleitos a partir de articulações com o latifúndio de velho e novo tipo,
com o capitalismo burocrático e com o imperialismo. Na verdade, os
governadores da região estão lá para garantir esta dominação. O caso do
Acre é talvez o mais escrachado, abra o site do Cebraspo [www.cebraspo.com.br]
e veja o trabalho da pesquisadora Nazira Camely, está tudo lá, a
articulação da Marina e dos irmãos Viana com o imperialismo.
Jerônimo:
É um festival de lobistas o que existe no Brasil. É uma riqueza sem
tamanho que eles estão entregando. O "Lulismo" está disputando
campeonato com FHC. O FHC entregou a Vale do Rio Doce e o Lulismo
entrega a Amazônia. Ele está entregando as florestas. A Marina Silva é
a rainha das ONGs. Agora o Greenpeace diz que combate o desmatamento.
Não tem um deputado que combata, mas tem o WWF, o Imazon — fala com
ironia.
Jerônimo: Neste momento embargaram a concessão. O General
Rondon disse que Rondônia é um conglomerado mineral e é o que está
valendo ainda. Você tem a cassiterita, o ferro, tem o garimpo na área
Roosevelt, cheia de diamantes, que saem contrabandeados.
Flavio: Na
verdade, pediram o embargo da concessão da Floresta do Jamari porque o
Amorim é contra a divisão das Florestas Nacionais em poucas áreas. O
que ele contesta é a forma de divisão.
Jerônimo: Em
Rondônia a situação é mais grave ainda porque é um projeto da Globo,
envolvido com o Cassol. Ele manipula as empreiteiras, todas dele, o
agronegócio dele, madeira dele, não tem nada que não seja dele.
Rondônia virou uma fazenda dele. O Amorim montou um frigorífico em
Jiparaná, ele domina Ariquemes, ele é um tipo que topa tudo. Vejam só,
são os desmatadores que fazem campanha para conservar. Eles mesmos não
conservam. Os babacas dizem "vamos conservar", mas eles vão desmatando.
O Diário da Amazônia sai todo dia e não publica nada. Nada da
depredação da Amazônia. A Folha de Rondônia é do Expedito Jr. e do
Cassol. O Estadão do Norte é outro porta-voz dos grileiros.
Fausto:
Essa tática é velha. Mas, o que é mais grave em Rondônia é o banditismo
oficial caracterizado pela distribuição do poder entre uma gama de
aproveitadores. Eu vejo isso como o maior exemplo do apodrecimento do
velho Estado brasileiro e, consequentemente, da urgente necessidade de
uma profunda mudança nas estruturas de nossa sociedade. Além disso,
temos a disputa dos grupos de poder que pugnam por se apoderar da
máquina do Estado. Aí vem a "Operação Arco de Fogo" e o governador
madeireiro monta uma campanha na imprensa venal para desviar a atenção
da Polícia Federal contra os camponeses pobres. O banditismo oficial
atribui suas "qualidades" aos camponeses que são as vítimas maiores da
exploração e da opressão praticadas pelos latifundiários incrustados em
todas as esferas de poder daquele estado.