Essa data é 29 de setembro de 1949, quando em uma manifestação do movimento “O petróleo é nosso”, então proibido pelo governo e realizado na bacia do Macuco, em Santos, ocorreu o assassinato pela polícia do ensacador e membro do PCB Dioclécio Santana. Veio a se somar às vítimas, aos que tombaram pelo país inclusive misteriosamente, lembra Monteiro Lobato, por dizer que existia sim esta riqueza subterrânea redentora – um dos primeiros mártires btasileiros.
Foi aqui, na terra do Centro de Defesa do Petróleo, fundado localmente em 21 de fevereiro de 1949 - na data da conquista de Monte Castelo, presidido pelo Expedicionário Aldo Ripasarti após forte repressão obrigando a desistências. Ao contrário, foi a atitude de coragem de muitos militantes ideológicos anônimos que possibilitou a grandeza da descoberta da expansão do petróleo no mar e, agora, da camada de pré-sal. Multiplicando várias vezes a capacidade de produção brasileira desde a descoberta em 1939, em Lobato, na Bahia - homenagem casual.
Esta é uma descoberta que embora tenha sido feita como antevisão de um padre italiano décadas antes da sua descoberta, a milhares de quilômetros, nada tem de metafísica, senão no aspecto simbólico. O primeiro homem que viu - da Itália - as tremendas reservas de petróleo do Mato Grosso, escreve um artigo na página dois do número inicial do “Jornal do Petróleo” de 1937, foi o fundador da Congregação Salesiana, D. Bosco, hoje São João Bosco, em 1883, em um sonho 56 anos antes da descoberta.
A ausência no debate santista do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, que teria valiosa contribuição, foi compensada pela do engenheiro Osires Silva, ex-ministro e presidente da Petrobras e da Embraer, mais o presidente da Associação dos Engenheiros a Petrobras, Fernando Siqueira. Que fez um retorno aos tempos do que chamou o maior movimento social do país, nos anos 40, chamado “O petróleo é nosso”, aliás, criado por integrantes do PSB.
Santos, que de cidade portuária será cidade petroleira, como afirmou Osires Silva, observamos nós perdeu uma década por apenas ironizar, durante muito tempo, a descoberta do petróleo em sua bacia marítima - não estimulando a formação de mão-de-obra. No país, já não haverá tempo para formação dos técnicos necessários, cerca de 40 mil, para esta imensa operação, muito menos em Santos. A falta foi de visão e compromisso e não de verbas, repetindo nossa tragédia histórica.
O país viveu a mesma situação há 60 anos, perdendo por este motivo a corrida com os Estados Unidos, que antecipou a sua descoberta do petróleo em 1859 por George Bissel, que já o pesquisava desde 1853. E que um ano depois já tinha 174 poços abertos.. A Venezuela entra no mercado em 1922. O Brasil iniciou esta história um ano antes dos Estados Unidos, em 1858, quando o Marquês de Olinda concedeu a José de Barros Pimentel o direito de extrair betume em terrenos situados ao lado do rio Maraú, na Bahia. Todos os países a América do Sul já o exploravam, mas aqui a ordem era que ele não existia.
Descoberto finalmente em 1939, a prospecção foi atrasada ao máximo, como descreve seu maior incentivador Monteiro Lobato - o que antecipou sua existência em seus personagens infantis, como no livro “O poço do Visconde”. Denunciando a lerdeza proposital, imposta por interesses norte-americanos, dos dirigentes do antecessor da Petrobras no setor. Era o Conselho Nacional de Petróleo, dirigido por Fleury da Rocha, de triste memória, no livro “O escândalo do petróleo e do ferro” – preso por isso. Em 1938, durante o Estado Novo, o Estado Maior das Forças Armadas elaborou um depoimento levantando a necessidade de uma política para o petróleo e propondo o monopólio estatal – que só viria em 1954 com a Lei 2004 criando a Petrobras.
A questão que se apresenta é quantos anos serão precisos para alcançarmos os níveis de progresso popular e avanço social decorrentes desta conjuntura – e sua necessária alternância dos níveis de progresso alcançados pelos centros do capitalismo mundial em função dessa apropriação energética. Que não poderá ser de uns poucos e nem de desperdício deletério dos bens naturais. Não há espaços no planeta para uma China igual aos Estados Unidos com seus automóveis e tecnologias. Precisaríamos de dois planetas, 2,5 se o Brasil igualar-se. Essa visão catastrófica é, entretanto, redentora: ou promovemos o progresso popular ou outro não nos servirá, apenas de túmulo da história.
As ideologias chamadas utópicas outrora tomam forma concreta, mesmo porque os processos de consumo exigem-se modificados, com sua incorporação igualitária pelas camadas populares. Inclusive para disciplinar a ocupação dos espaços e seu usufruto em termos sustentáveis, na instauração de um sistema econômico impregnado de sentido de justiça que atenda a cada um segundo sua necessidade, na contribuição segundo sua capacidade.
*Paulo Matos
Jornalista, Historiador e Bacharel em Direito
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com