Saúde que cabe no bolso

O que você faz com a casca de inhame, melancia, banana? Na maioria das vezes essas e outras partes dos alimentos não são aproveitadas e vão diretamente para o lixo. Na inventiva cozinha do projeto Favela Orgânica todas as cascas, talos, folhas entre outras partes que compõem as verduras, legumes e frutas são aproveitadas de forma integral. A ideia surgiu em março de 2011 quando Regina Tchelly, coordenadora e idealizadora do Favela Orgânica, começou a participar de um projeto que tinha acabado de chegar na Babilônia/Chapéu Mangueira, a Agência de Redes para Juventude, coordenado por Marcus Faustini e patrocinado pela Petrobras, que atua em seis comunidade com UPP.
Regina é cozinheira e moradora do Morro da Babilônia, no Leme, há oito anos. Sua motivação para esse projeto surgiu a partir do desperdício que via nas casas em que trabalhava. “Sempre quis ser uma cozinheira diferente. Meu desejo, desde sempre, foi de compartilhar e trocar informações e receitas criativas e, que esse conhecimento não ficasse apenas em uma casa, ou em um restaurante, mas que essa troca de experiência circulasse entre as pessoas que se interessam por culinária”, contou Tchelly, que adora inventar novas receitas, como o yakisoba de casca de melancia, croquetes de casca de inhame e torta de talo de taioba.

 

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Favela Orgânica trabalha com o ciclo do alimento, aproveitando-os integralmente. Aquilo que é normalmente jogado fora aqui é aproveitado. As sobras viram compostos que vão para o adubo e do adubo volta para o alimento. Uma forma sustentável e econômica de manter uma boa alimentação. O projeto oferece gratuitamente oficinas na comunidade e tem como seu público-alvo as mulheres e mães da comunidade. Divido em três frentes: gastronomia; permacultura; consumo e desperdício; o Favela Orgânica vem contribuindo e modificando a realidade alimentar das famílias da Babilônia/Chapéu Mangueira.
Desde setembro de 2011 todas as terças e quintas a partir das 19h as aulas ministradas por Regina acontecem na Associação de Moradores, na Escolinha da tia Percilha, na Babilônia. Shirley de Almeida faz a oficina de gastronomia e acredita que com essa experiência tem se alimentado muito melhor. “Minha vida está mais saudável, minha filha Nayara tem se alimentado melhor. A gente aproveita mais o alimento desperdiçando menos”. Outra ação do projeto é a horta que será construída na praça onde fica a Associação de Moradores e na creche Babylônia. O blog com as receitas também está em processo de finalização.
Os benefícios da boa alimentação

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Alimentos saborosos e com baixo custo. Saúde que enche os olhos, nutre o corpo e não pesa no bolso. Foto: Arquivo pessoal

A maior parte dos fatores de risco de morte e adoecimento tem relação com a alimentação. O baixo consumo de frutas, verduras e legumes estão associados a várias doenças como câncer, doenças cardiovasculares e obesidade. Fora a boa alimentação, o tabagismo e o sedentarismo, que está muitas vezes ligado a uma alimentação não adequada, estão associados a fatores de risco.
Fazer uso de temperos naturais, comidas leves e menos produtos industrializados melhora essa relação de risco. A nutricionista Jorginete Damião do Instituto de Nutrição Annes Dias alerta para os benefícios de uma boa alimentação. “Uma alimentação saudável além de prevenir doenças ajuda a melhorar a expectativa de vida. Se a gente investir na promoção da alimentação saudável a gente pode esta revertendo esse quadro de doenças crônicas da população como diabetes, hipertensão”, pontua a nutricionista.
Em geral a gente tem uma cultura de desperdício muito grande que pode chegar a 30%. Ou seja, 30% do que compramos é facilmente jogado fora. Quando o Favela Orgânica propõem usar as cascas, talos e folhas na alimentação, o projeto acaba ganhando uma dimensão econômica. “Por isso não é que as cascas são mais nutritivas, às vezes as cascas têm nutrientes diferentes, mais fibras, ou nutrientes tão bons quanto os dos alimentos. A questão é que por hábito a gente acaba jogando fora e não aproveitando esses nutrientes. A lógica é aproveitar o alimento como um todo” conclui Jorginete Damião, que acredita que para a economia doméstica esses 30% desperdiçados faz a diferença não apenas no bolso, mas também na alimentação saudável.

* Publicado originalmente no site Observatório de Favelas e retirado do Mercado Ético.
(Mercado Ético)

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