Foi um grande espetáculo midiático – mas não se pode afirmar que tenha sido bom jornalismo – a cobertura da guerra contra o narcotráfico nas principais emissoras de TV.
Com apoio de blindados da Marinha, a Polícia Militar, tendo à frente o Batalhão de Operações Especiais, que se celebrizou como o Bope do cinema, ocupou a favela que havia mais de uma década servia como quartel-general de uma das principais facções do crime organizado no Rio.
Foram muitas horas de tiroteios intermitentes entre os criminosos e os cerca de 600 policiais e fuzileiros navais, mas, ao contrário de confrontos anteriores, a população apoiou a iniciativa de ocupar a região.
As autoridades tomaram o cuidado de manter no ar um serviço informativo pela internet, combatendo também nas comunicações e reduzindo o efeito dos boatos. A imprensa atuou com liberdade e as imagens colhidas pelas câmaras viajaram pelo mundo.
Mas há controvérsias: uma nota emitida através do Twitter pelo comando do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio, na tarde de quinta-feira (25/11), registrava que a transmissão ao vivo da operação, a partir de helicópteros da Rede Globo e Rede Record, ajudava os criminosos a entender o espectro da operação policial, facilitando sua estratégia de defesa.
Adiantando o expediente
A Record chegou a responder ao comunicado, afirmando não ter recebido qualquer informe de restrição por parte das autoridades. Nas emissoras do Grupo Globo, tanto nas imagens quanto nos comentários notava-se clara tendência a valorizar os policiais do Bope, transformados em heróis na série de filmes intitulados Tropa de Elite, do diretor José Padilha.
A coprodução do segundo filme da série chegou a ser disputada entre a Record e a Globo, mas Padilha acabou abandonando a parceria com a Record, que ainda tem os direitos de exibição do filme original.
Como nos grandes conglomerados de mídia os interesses jornalísticos costumam se misturar aos interesses políticos e comerciais, não é de se estranhar por que os comentaristas convocados a acompanhar a cobertura dos combates tenham repetido tantos elogios ao Bope e evitado se estender sobre a truculência policial e a corrupção, que ajudam os traficantes a manter durante tantos anos milhões de cidadãos sob sua tirania, e não apenas no Rio de Janeiro.
As primeiras cenas de Tropa de Elite 3 certamente foram tomadas pelo Departamento de Jornalismo da Globo na quinta-feira.
(Envolverde/Observatório da Imprensa)