Belém – Graças a uma economia global em declínio, sindicatos ativistas estão do mesmo lado da ponte que os banqueiros de Wall Street. Surpreendente. Sim. Mas o interesse comum acaba aqui, quando os sindicatos começam a se preocupar se as corporações vão utilizar a crise como uma desculpa para demitir funcionários.
Falando sobre a globalização e o conseqüente
desenvolvimento dos mercados de trabalho flexíveis, Claire Courteille, da
Confederação Internacional de Sindicatos (Intuc), disse que "nós não temos uma
globalização justa se os direitos das pessoas não são assegurados. A grande
flexibilidade do mercado de trabalho só ampliou a pobreza e a escassez entre as
pessoas". Ela acrescentou que, apesar de a crise ser o resultado de mudanças
estruturais impostas pela economia neo-liberal, ela será dura para os
trabalhadores.
No painel de discussão "A Agenda do Trabalho Digno: Novas
Opções de Ação para os Sindicatos", organizada pela Organização Internacional de
Trabalho (OIT) e pela Fundação Friedrich Ebert (FFE), na quinta-feira, durante o
Fórum Social Mundial 2009 (FSM) em Belém, Brasil, líderes sindicalistas
expressaram seus medos de que as pessoas não só vão perder seus empregos, como
também que a Agenda do Trabalho Digno não será implementada.
A Agenda do
Trabalho Digno, que foi desenvolvida pela OIT há aproximadamente uma década
pedindo aos países para que se concentrassem em quatro objetivos estratégicos –
direitos trabalhistas, empregos, proteção social e diálogo –, foi aproveitada
pelo movimento global de sindicatos como uma ferramenta para melhorar as
condições de trabalho de seus associados. De acordo com a OIT, o trabalho
forçado, a escravidão e o trabalho infantil não se enquadram na categoria de
trabalho digno.
Lais Abramo, da OIT Brasil, também expressou seu medo de
que o tecido social seja afetado se uma criança tiver que trabalhar ou se os
homens perderem seus empregos devido à quebra da economia. "Existe uma
necessidade urgente de criação de oportunidades de trabalho, manter empregos e
proteger os direitos das pessoas. Pequenas e médias empresas, que costumam gerar
muitos empregos, precisam ser protegidas. Assim como os empregos verdes – que
não só preservam o meio ambiente, mas também geram trabalho – precisam ser
incentivados.
Mesmo que o conceito de trabalho digno tenha sido aceito
pelos governos, corporações, sindicatos e pela Assembléia Geral da ONU, não é
fácil vê-lo implementado. O conceito de trabalho digno também faz parte dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU (ODM), que foram acordadas pelos
líderes mundiais no início dessa década.
Bheki Ntshalinthsali, do
Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (Cosatu), disse que "os rendimentos dos
trabalhadores no PIB está caindo enquanto o das corporações está subindo. Isso
mostra que existe um problema. O que está faltando é vontade política para
implementar a Agenda do Trabalho Digno". Ele acrescentou que, mesmo em
circunstâncias favoráveis, os sindicatos dos países em desenvolvimento não
conseguem atrair os trabalhadores mais vulneráveis. "Portanto existe uma
carência de cooperativas para os trabalhadores. Aqueles que trabalham para os
setores de hospitalidade, agricultura e doméstico não conseguem atingir o ganho
mínimo de forma alguma", enfatizou Ntshalinthsali.
Apesar de os programas
de trabalho digno terem sido aceitos por muitos países, com a crise começando a
fazer seus estragos, a OIT está preocupada com uma série de indicadores
positivos referentes ao trabalho digno que vão mudar. De fato, Bismo Sanyoto, do
Movimento Mundial de Solidariedade (MMS), da Indonésia, afirmou que seu governo
apresentou o modelo de mercado de trabalho flexível para atrair investimentos e
estimular o crescimento, mas não cuidou dos direitos dos trabalhadores e nem
implementou a Agenda do Trabalho Digno.
Sanyoto tem uma outra
preocupação. "A Associação das Nações do Sudeste da Ásia (Asean) assinou um
acordo de livre comércio (ALC) com a China no ano passado e está para assinar um
outro acordo com a Índia no mês que vem. Isso vai cobrir aproximadamente mil
produtos, que terão taxas de zero por cento, e um número ainda maior de pessoas,
perto de três bilhões, sob o ALC". Mantendo isso em mente, devemos começar
imediatamente a construir uma união regional de sindicatos.
Seus
pensamentos fizeram eco aos de Carolyn Kazdin, do Sindicato dos Metalúrgicos
(USW), que tem base nos Estados Unidos e no Canadá, que, em uma discussão
anterior, mencionou como o USW lutou, atravessando as nações pelos direitos
trabalhistas. Acentuando o seu esforço, ela disse que "os sindicatos brasileiros
ajudaram na luta contra a dispensa temporária de trabalhadores pela filial da
siderúrgica Gerdau, em Beaumont, no Texas, nos Estados Unidos. Foi por causa
dessa ajuda que pudemos nos mobilizar contra a dispensa temporária de seis
meses. A companhia perdeu cerca de US$14 milhões durante esses meses, mas
finalmente reconheceu nosso sindicato".
Professor de história no Brasil,
Anízio Melo, que está trabalhando com os empregadores, trabalhadores e com o
governo na implementação da Agenda do Trabalho Digno no país, expressou otimismo
sobre o colapso do modelo capitalista e disse que isso representa uma
oportunidade para que outras nações como o Brasil, Rússia, Índia e China possam
construir um outro modelo. (IPS/ TerraViva)
(Envolverde/IPS/TerraViva)