As ações de
apoio ao desenvolvimento formativo dos jovens para aumentar suas oportunidades
de inclusão social, em especial na geração de trabalho e renda, também aparecem
na pesquisa, nas ações de 45% dos respondentes. "O foco na inserção no mercado
de trabalho atende a uma demanda evidente desse público, o mais atingido pelo
desemprego jovem", lembra a consultora especial do Instituto de Cidadania e
membro do Conselho Nacional da Juventude, Helena Abramo, responsável pelo Censo
Juventude.
Embora se restrinja ao universo de 80, das 101 organizações
associadas ao Grupo, na época da consulta, o levantamento aponta para as
tendências do conjunto do investimento social do setor no país. Isso porque a
Rede GIFE é considerada referência nacional na realização planejada de
investimentos no campo social.
Para saber, o setor privado brasileiro
investe cerca de R$ 5.3 bilhões por ano no campo social, segundo dados do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O GIFE representa 20% desse
montante, com R$1,15 bilhão (base 2007), enquanto o resto do investimento está
diluído em mais de 500 mil empresas.
Aprofundamento dos
dados
Entre os associados GIFE, o crescimento da atenção aos
jovens se verifica desde o Censo 2005-2006, quando ficou evidenciado que a
principal faixa etária a compor o público-alvo de seus associados foi o grupo
dos 15 aos 24 anos. Neste Censo a tendência se confirma: o grupo etário mais
visado pelas atuações é aquele na faixa etária entre 18 e 24 anos, que recebe
ações de 67% dos associados; logo atrás vêm os grupos de 15 a 17 anos (para quem
59% dos associados dirigem ações) e o grupo entre 7 e 14 anos (51%).
Caso
seja considerada a faixa mais ampla que tem sido definida como juventude (de 15
a 29 anos), 81% dos associados a têm como público-alvo."O tema juventude entrou
na agenda política brasileira na última década, com ações de movimentos sociais
e do governo. O setor privado acompanhou essa tendência, que na verdade é
mundial", afirma Helena Abramo, lembrando que o ano 1985 já havia sido
instituído como o Ano Internacional da Juventude, pela Organizações das Nações
Unidas (ONU).
No total, são quase 600 projetos ou programas voltados
especificamente para jovens, somando aqueles executados diretamente pelos
associados – ou aqueles executados por terceiros e financiados por eles. O
número total de jovens envolvidos nas iniciativas passa de 9 milhões
(9.111.731).
"O alcance do benefício é um dado complexo, pois há projetos
que beneficiam 5 jovens, há outros que atingem a 1 milhão. Isso pode ser
explicado por exemplos simples: enquanto um associado oferece bolsa de estudos
para estudantes, outro fornece tecnologias de aprendizados para um rede pública
de ensino", argumenta Helena
Abramo.
Investimento
Para atender aos 9 milhões
de jovens, os associados destinam mais de R$ 130 milhões para seus programas ou
projetos. O dado relativo ao investimento, contudo, alerta para certa
ambigüidade presente na importância atribuída à juventude neste universo: embora
o público juvenil seja eleito como foco das ações, o volume de recursos
aplicados não passa de 11,5% do volume total de investimento do
Grupo.
Segundo a socióloga Helena Abramo, as explicações para essa
questão se centram na nas diferentes estratégias adotadas pelas instituições. A
primeira está na prioridade dada ao segmento frente a outros investimentos
sociais: para 29%, ele é a base dos programas; para 39%, ele é um entre outros,
constituindo parte de programas maiores; e em 33% das organizações, esta
variação está presente em suas definições interna, em que a juventude pode ser
considerada público preferencial de alguns projetos, enquanto compõem com outros
segmentos, o alvo de outros projetos.
Além disso, também é importante
analisar que variam o montante de investimento e o público atingido entre
diferentes associados. Enquanto algumas instituições (apenas 3 dos respondentes)
investem 100% do seu ISP em programas para jovens, outras (9, ao todo) destinam
menos de 10% dos recursos para ações sociais; a proporção daqueles que investem
mais de 50% não passa de 20%.
Por que jovens?
A
maior parte dos motivos se relaciona, de um lado, 66% dos respondentes, aos
fatores que tornam a juventude um segmento populacional especialmente afetado
pela estrutura social e conjuntura histórica (peso demográfico, desemprego,
índice de violência etc) e, por outro, 63% dos associados, o papel que os jovens
podem ter na sociedade – como protagonistas de mudanças sociais e
desenvolvimento. Por fim, a percepção de que faltam políticas públicas para o
segmento é destaque em 43% das respostas.
Diferentes pesquisas corroboram
para essa visão. De acordo com o relatório Jovens em Situação de Risco no
Brasil, divulgado pelo Banco Mundial em 2007, as taxas de desemprego
excepcionalmente altas entre jovens de 16 a 24 anos resultam em rendimentos
anuais perdidos de até R$ 1,2 bilhão.
Pelo levantamento, um em cada cinco
jovens trabalha e estuda simultaneamente e 60% dos brasileiros entre 15 e 19
anos são trabalhadores não-pagos ou sem carteira de trabalho assinada. São dados
preocupantes que terão um impacto extremamente negativo a curto e longo
prazo.
Outra pesquisa, esta realizada pelo Ipea, mostrou que cerca da
metade do total de desempregados no Brasil tem entre 15 e 24 anos. Segundo os
dados do estudo, a proporção entre o número de jovens desempregados e o total de
pessoas sem emprego no País era de 46,6% em 2005, a maior taxa entre os dez
países pesquisados. No mesmo período, no México, esta proporção é de 40,4%; na
Argentina, de 39,6%; no Reino Unido, de 38,6%; e, nos Estados Unidos, de
33,2%.
A pesquisa chama atenção também para a defasagem escolar. De
acordo com o estudo, cerca de 34% dos jovens entre 15 e 17 anos ainda estão no
ensino fundamental, enquanto apenas 12,7% dos jovens de 18 e 24 anos freqüentam
o ensino superior. "Em suma, com o aumento da idade diminui a freqüência de
jovens à educação escolar", aponta o estudo.
Esse contexto explica, pelo
menos em parte, porque os associados colocam a educação e trabalho como as
prioritárias. "Mas a discussão do trabalho é muito polêmica no país. Quanto
esses programas são capazes de impactar no segmento? O aumento da escolaridade
significa inserção no mercado?", questiona Helena
Abramo.
Avaliação
Os participantes do Censo GIFE
acreditam, majoritariamente, no impacto positivo na vida dos jovens
beneficiados, principalmente com relação a chances de acesso, retorno e
desempenho escolar e à profissionalização/capacitação para o trabalho, em alguns
casos promovendo sua inserção no mercado de trabalho.
Essa percepção
sobre a importância das ações para os jovens segue na mesma linha da avaliação
que os associados fazem do conjunto de suas ações: 55% avaliam que o impacto
causado sobre os beneficiários é positivo, e mais 36% o percebem como muito
positivo.
ISP como inovação
Para o ex-diretor
regional para a América Latina e Caribe da Fundação Kellogg, Francisco Tancredi,
os investidores sociais devem assumir o que ele chama, humoradamente, de "Escala
Tancredi de Ousadia em Filantropia" . O modelo nada mais é que uma linha
evolutiva do próprio ISP: aquela que se diferencia da prática tradicional da
filantropia pela ação estruturada, planejada, e que busca resultados
mensuráveis.
Segundo ele, existem três tipos de
estratégia:
a) o fazer o bem: "quando o investidor social tem um
trabalho comunitário nobre, mas limitado, com retorno imediato";
b) o de
inovar: "quando o investidor financia uma idéia para se tornar uma tecnologia
social inovadora, que seja eficaz para mudar uma realidade. Esta estratégia
exige certa pré-disposição para a perda. Mas, quando a idéia dá certo, é como
ganhar na loteria"; e
c) o de incidir em políticas públicas: "quando o
investimento se centra em inserir essas tecnologias inovadoras em políticas
nacionais, seja de educação, cultura ou saúde. Em que você mude sistemas
públicos".
As colocações de Tancredi levam ao seguinte raciocínio: para
os próximos passos, associados devem encaram com mais ousadia seus projetos em
juventude. "O investidor social privado deve iluminar caminhos, despertar a
sociedade para temas que não estavam em pauta. Não pode apenas remendar
situações".
Tal como Helena Abramo, ele acredita que existe um passo
importante para trabalhar com jovens, percebendo-o como agente de transformação
social. "Ele deve ser um ator político, para pensar o país que o Brasil quer ser
no futuro. Não podemos tê-lo apenas como um beneficiário de projetos de
qualificação profissional. O prisma para enxergá-lo é maior", crê o ex-diretor
do da Fundação Kellogg.
Um dos passos para isso é escutar o jovem,
acredita um dos membros do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), Rui
Mesquita, Program Associate da Fundação W.K. Kellogg para a América Latina e o
Caribe. Ele lembra da 1ª Conferência Nacional da Juventude, realizada em abril
deste ano com a participação de 400 mil pessoas, que definiu 22 políticas
públicas prioritárias para o segmento.
Legitimadas por movimentos juvenis
de todo o Brasil, além de temas como educação e trabalho, as proposições abarcam
cultura, saúde e sexualidade, participação política, meio ambiente, segurança e
direitos humanos, diversidade e políticas afirmativas, esporte e lazer,
fortalecimento institucional da política da juventude, mídia e tecnologia da
informação, drogas, cidades, família, campo, povos e comunidades
tradicionais.
"Essas demandas podem ser caminhos que os associados e, por
extensão, do investidor social brasileiro, adotem para a diversificação de seus
projetos", acredita Rui.
Contexto
Segundo o Censo
Juventude, é possível ter uma medida da amplitude e da diversidade que tem
ganhado esta questão, no plano internacional, quando a juventude entrou na
agenda de dois atores muito diferentes na sua constituição e propósito: o Banco
Mundial e o Fórum Social Mundial.
O primeiro, entre suas ações, produziu
recentemente o "Relatório de Desenvolvimento Social 2007: o desenvolvimento e a
próxima geração". O segundo, inclui, desde sua primeira edição, um espaço
especial para os jovens, consubistanciado pelo no Acampamento Internacional da
Juventude, que, na última edição no Brasil, em 2005, reuniu 35 mil jovens de
diferentes países.
No plano continental, a articulação dos países da
América Latina com dois países ibéricos ligados à sua história (Portugal e
Espanha) gerou uma série de cooperação intergovernamental, fomento e estímulo
para a implantação de uma agenda voltada para a Juventude: desde 1987, a
realização de Conferências Intergovernamentais sobre Políticas Públicas de
Juventude e a estruturação da OIJ (Organização Ibero-americana de Juventude) são
os principais marcos.
O Brasil, polarizado por uma agenda interna
diferenciada, incorporou-se a essa movimentação um pouco mais tarde, com algumas
singularidades. No período sbsequente à reestruturação democrática e ao processo
constituinte, quando se reoganizaram as pautas referentes aos direitos e às
políticas públicas, o esforço da movimentação social ficou concentrado no tema
urgente e dramática da infância e da adolescência, que pautou a implementação do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Apenas mais recentemente,
depois da segunda metade dos anos 1990, é que a "questão da juventude" entrou
efetivamente na pauta. É a partir desse período que se pode observar "a passagem
das políticas de Juventude como estado de coisas para a formação de uma agenda
pública que considera os jovens como um problema político, isto é, como objeto
especifico de intervenção do Estado", aponta o Censo.
No plano
governamental, assistimos à proliferação de organizamos gestores específicos de
Juventude nos âmbitos municipal, estadual e federal, principalmente com a
proposição e criação da Secretaria Nacional da Juventude e do Conselho Nacional
de Juventude (Conjuve), ambos definidos por decreto presidencial em 2005, além
de iniciativas no Legislativo, como a criação da Frente Parlamentar, que
desenvolve o debate sobre a elaboração de um plano nacional para o
segmento.
No que cerne as políticas públicas, o programa federal mais
significativo foi o o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM).
Executado em parceria com os governos estaduais e o Distrito Federal, por meio
dele, jovens entre 18 e 24 anos que não concluíram o ensino fundamental têm
oportunidade de elevar seu grau de escolaridade, tal como oferece qualificação
profissional voltada à inclusão social e estimula a prática de ações
comunitárias e o exercício da cidadania.
O jovem matriculado no ProJovem
recebe um benefício de R$ 100,00 mensais durante o período do curso (12 meses),
desde que cumpra as metas estipuladas e tenha freqüência mínima de 75% nas
aulas.
Segundo o secretário executivo do Conjuve, José Eduardo de
Andrade, as previsões orçamentárias para o programa ficaram em torno de R$ 4
bilhões para os próximos três anos. "Mas é uma previsão, pode não ocorrer. Daí a
importância do ISP nessas ações. Esses investidores estão na vanguarda das ações
sociais", alega.
Organizações de origem
privada
Tal como nas políticas governamentais, também foi
crescente o número de ações realizadas por diversas entidades da sociedade civil
organizada e do setor empresarial. Movimentos de articulação público-privadas,
na busca de parâmetros para programas e na criação de redes sociais.
De
acordo com a pesquisa "As fundações privadas e as associações sem fins
lucrativos no Brasil", que levantou dados sobre 275.895 entidades, em 2004,
houve um crescimento de organizações voltadas para a promoção e defesa dos
direitos (em especial das crianças e adolescentes). Promovido pelo IBGE, IPEA,
GIFE e Abong, o levantamento mostrou que esse tipo de entidade representava 16%
do total, sendo que ¾ delas foram criadas a partir de 1990.
Em 2006, o
IBGE realizou uma nova pesquisa, focada neste último conjunto, sobre as
"Entidades de Assistência Social Privada sem Fins Lucrativos" (PEAS), em que se
notou a importância do público adolescente e jovem como foco das ações: das
16.089 entidades pesquisadas no país, 51,7% desenvolvem ações que envolvem
pessoas com idades entre 15 e 24 anos; 46% na faixa de 7 a 14 anos.
Outro
estudo, este realizado pelo Ipea em 2006, diagnosticou que, entre os anos de
1999 e 2003, os jovens começaram a despontar como um grupo significativo nas
empresas que realizam ações sociais. O percentual de organizações do setor
privado com projetos para o segmento cresce de 23% (em 1999), para 39% (2003),
com foco principalmente na qualificação profissional.
(Envolverde/Rede Gife)