OBAMA E A AMÉRICA LATINA

A aposta de Barak Obama em sua política externa para a América Latina ficou clara quando o presidente dos Estados Unidos colocou sua ficha em Lula na reunião do G-20 na Inglaterra. Entre outras coisas que conversou com o presidente brasileiro, uma delas foi a suspensão do bloqueio econômico contra a ilha. Pedido de Lula. 

Que o Brasil seja encarado como principal parceiro dos EUA na América Latina não é novidade. À época da ditadura militar todo o processo golpista, toda a política repressiva era centralizada nos militares brasileiros e foi por aqui que a Operação Condor se instalou e se espalhou (junção dos aparelhos repressivos das ditaduras da Argentina, Chile, Uruguai e Brasil para o assassinato de líderes de oposição). 

E foi Nixon quem disse que “para onde se inclinar o Brasil se inclina a América Latina”. Como foi ele também que ao ouvir as denúncias de violência, tortura e crimes – mortes – praticados pelos governos militares, especificamente o governo Médice, disse que “e lamentável, mas o general Médice é um bom aliado”.

Obama tem dificuldades em suspender o bloqueio econômico contra Cuba. Há uma forte pressão do lobby contra Havana (empresários, donos de cassinos, máfias) e um número imenso de desertores cubanos concentrado principalmente em Miami.

E hoje as realidades da Venezuela, da Bolívia, do Equador, da Nicarágua, de El Salvador, do Paraguai e o próprio Brasil, que emerge com uma das principais potências política e econômica na atualidade. Pior, os Estados Unidos deixaram de ser o principal parceiro comercial do Brasil. O lugar foi ocupado pelos chineses. 

O último discurso do presidente da Venezuela Hugo Chávez fez com que setores políticos, empresariais e banqueiros dos EUA cobrassem através da mídia “providências” contra os planos do venezuelano. Chávez pretende um novo pólo político e econômico no mundo. Envolve o seu país, o Irã, todo o conjunto de países já libertos ou nesse caminho da América Latina e outros aliados naturais no processo de construção de um mundo livre da influência norte-americana, vale dizer, sujeito às crises geradas no âmago do capitalismo. E as contas pagas pela periferia. 

Ao decidir fechar a prisão de Guantánamo (base terrorista dos EUA em Cuba) e ao suspender as dificuldades para as viagens de cidadãos de seu país ao país de Fidel Castro, as remessas de valores, a sensação que Obama causa é que está tentando atender ao presidente Lula, a pressões internacionais contra o bloqueio e ao mesmo tempo dizendo aos grupos anti-castristas norte-americanos que vai ficar por aí, vai tentar enrolar o jogo sem sair do zero a zero, pois isso, na prática, não significa avanço algum.

É como se o presidente dos EUA estivesse se equilibrando numa corda bamba, enquanto vai construindo uma base política mais sólida dentro dos porões do poder. Ao mesmo tempo que faz críticas leves a Israel, anuncia a realização da manobras militares conjuntas com o estado nazi/sionista, tudo para sinalizar ao Irã que não vão “tolerar” armas nucleares naquele país. Só as deles. E a limpeza étnica promovida pelo estado terrorista de Israel – étnica e expansionista – permanece contra o povo palestino. Sobre isso nada.

Massacres semelhantes ao de Hiroshima e Nagazaki é privilégio deles e não abrem mão desse poder. Ao defender o desarmamento nuclear em discurso que fez na Europa o presidente Obama estava apenas constatando que essas armas ficarão obsoletas em futuro breve diante do poder devastador dos novos aparatos bélicos com tecnologia de última geração. Obsoletos, mas não dispensáveis.

Ao conferir ao Brasil o status de potência, ao chamar Lula de “o cara” Obama sabe também que o brasileiro tem altos índices de popularidade, que o Brasil está superando a crise econômica com danos menores que outros países com sua dimensão, como sabe que o mandato de Lula termina no próximo ano.

Uma eventual eleição de Dilma Roussef não é lá do agrado total dos homens de Wall Street, mas já não assusta tanto como Lula em tempos passados. Mesmo que o ideal seja a vitória do funcionário dos EUA José Serra. Seria a garantia da privatização da PETROBRAS – entrega total do petróleo brasileiro – e a possibilidade de implementar por aqui o que chamam de “estreita colaboração no combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas”, assim como o fazem na Colômbia, o tal PLANO COLÔMBIA, domando a nova potência e transformando o Brasil em mero quintal como no governo de FHC.

Todos esses fatores são levados em conta pelo presidente dos EUA. E serão determinantes nos próximos meses e até as eleições de 2010 por aqui. O chove não molha até que o jogo esteja definido para os próximos quatro anos, quiçá oito, na eventualidade de uma reeleição – a eleição será o caos, a reeleição o fim definitivo – de Serra.

As respostas de Obama ao stabilichement do seu país, os que de fato mandam, para plantar uma cunha na América Latina e “resolver” o que é problema para essas máfias. Chávez, Morales, Lugo, Ortega, Corrêa, Castro, o novo governo de El Salvador.

Nunca é demais lembrar que FHC foi o único presidente latino-americano a apoiar a segunda reeleição de Alberto Fujimori no Peru, no delírio de um terceiro mandato para si. O que isso tem a ver com a política externa dos EUA para a região? 

A ficha que Obama colocou em Lula pode ser um grande blefe. Como pode não ser, mas em princípio o presidente dos EUA vai tentar ver as cartas fechadas e levar o jogo por aí.

E nem poderia ser diferente. Os EUA temem que o Brasil se desgarre em demasia do antigo principal parceiro, ganhe força política e econômica tal que obrigue Tio Sam a rever alguns conceitos e revê-los para baixo. A proposta de Lula de troca, comércio, com os chineses nas moedas dos dois países está tirando o sono de Washington, do Banco Central norte-americano e de Wall Street. 

E está sendo essa a razão maior dos altos investimentos de especuladores ianques na Bolsa de Valores de São Paulo, ou seja, no Brasil (São Paulo, pelo menos até Serra e se Serra ganhar, continua disfarçando-se de estado da Federação Brasileira).

Obama percebeu que é necessário tratar com vaselina essa parte do mundo depois de oito anos de areia de George Bush. Afinal, os norte-americanos estão no canto do ringue, tomando diretos, cruzados por todos os lados, mas têm em seu arsenal de golpes o poder da destruição pela via militar. Que o digam Iraque e Afeganistão.

Que o digam os colombianos nesse nosso canto de mundo.

É necessário e é honesto que se fale, que Obama é diferente de Bush. O presidente atual dos EUA tem a correta visão do momento político, econômico e oferece aos donos dos EUA, esse o xis da questão, a possibilidade de novos caminhos para os EUA. Passam pela América Latina no conjunto de interesses norte-americanos. Como tem consciência das impossibilidades.

Nós é que não devemos nos esquecer que Obama é presidente dos EUA e vai defender sempre os interesses dos EUA. De repente, “esse é o cara” em relação a Lula pode ter significado que é preciso uma nova visão sobre o Brasil. O país continente da América Latina. Sempre dentro do campo de jogo deles, é lógico.

É por esse ângulo que Obama entende a América Latina. E ao perceber que, historicamente, os EUA vivem o período de declínio do império, Obama tenta adiar a agonia. Somos a presa da vez, só que tratados como gato de madame. A leite no pires.
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