Em doze de abril de 85 o Brasil perdia a sua poetisa mais sensível, mais  autêntica e mais verdadeira: Cora Coralina. Estamos em abril e é difícil não  lembrar de Cora, difícil não falar dela, difícil não reler os seus poemas. Eu  queria escrever uma crônica em homenagem a ela, a grande poetisa do Brasil, mas  não gosto de falar de perdas e acabei não escrevendo. E eis que me deparo com o  texto de Cissa de Oliveira, minha vizinha lá no portal da nossa amiga Irene  Serra do Rio Total: "Um Doce para Cora Coralina". Como não lê-lo e  não aplaudí-lo? Além de falar de Cora, ela fala dos doces da doceira de mão  cheia que ela era - e eu acabo de voltar da serra gaúcha, onde mora minha  sogra, que faz doces fantásticos de figo, de pêssego, de marmelo, de morango,  no fogão à lenha, não aquele de barro e pedra, como o de Aninha, mas à lenha,  também. E então chego a sentir o gosto do doce de laranja.
  Então cá estou eu, para agradecer à Cissa por lembrar de Cora e para me juntar  à homenagem tão merecida.
  São trinta anos de ausência da Aninha da poesia forte e despretensiosa, poesia  que transmite a sua mensagem de amor à terra e à natureza, ao ser humano e à  vida. A verdade é que Cora continua viva, cada vez mais viva nos seus poemas e  na sua prosa. E no sabor dos doces que a Cissa me trouxe à boca.
  A poetisa maior da casa velha da ponte, em Goiás publicou seu primeiro livro  aos sessenta e sete anos: "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias  Mais". Depois vieram "Meu Livro de Cordel", "Vintém de  Cobre - Meias Confissões de Aninha", "Estórias da Casa Velha da  Ponte", "O Tesouro da Casa Velha da Ponte", "Os Meninos  Verdes", "A Moeda de Ouro que um Pato Comeu". Essa, a obra que  transformou Aninha no ícone da poesia brasileira que ela é hoje.
  Em 2001, foram encontrados cerca de quarenta poemas inéditos de Cora, durante o  trabalho de reconstituição de seu acervo. Esse material foi transformado em  livro e foi publicado pela Global, editora que publicou quase todos os títulos  de Cora. O livro é "Vila Boa de Goyaz" e os poemas que o compõe  exaltam a cidade de Goiás, onde a poeta nasceu. Ela fala da Goiás que conheceu  no início do século passado, das ruas que mudaram de nome, mas não mudaram de  jeito, da linguagem impressa em cada toque dos diversos sinos existentes na  cidade e fala, também, da casa velha da ponte. Um canto de amor à cidade de  Goiás.
  Foi-se o corpo singelo da grande poeta e da grande mulher-menina (ou  menina-mulher?), mas a poesia viva ficou. A poesia que é o coração, a alma de  Aninha, a nossa Cora Coralina eterna, que continuará viva para sempre nos  versos e na prosa que ela deixou.
  Dos inéditos encontrados de Cora, tomo a liberdade de transcrever aqui  "Coração é terra que ninguém vê", pois não dá pra falar de Cora sem  ler uma criação dela: "Quis ser um dia, jardineira / de um coração. /  Sachei, mondei - nada colhi. / Nasceram espinhos / e nos espinhos me feri. //  Quis ser um dia, jardineira / de um coração. / Cavei, plantei. / Na terra  ingrata / nada criei. // Semeador da Parábola... / Lancei a boa semente / a  gestos largos... / Aves do céu levaram. / Espinhos do chão cobriram. / O resto  se perdeu / na terra dura / da ingratidão // Coração é terra que ninguém vê / -  diz o ditado. / Plantei, reguei, nada deu, não. // Terra de lagedo, de pedregulho,  / - teu coração. // Bati na porta de um coração. / Bati. Bati. Nada escutei. /  Casa vazia. Porta fechada, / foi que encontrei..."
 Sobre o autor: Luiz Carlos  Amorim é Coordenador do Grupo Literário A ILHA em SC, com 34 anos de atividades  e editor das Edições A ILHA, que publicam as revistas Suplemento LIterário A  ILHA e Mirandum (Confraria de Quintana), além de mais de 50 livros.
Sobre o autor: Luiz Carlos  Amorim é Coordenador do Grupo Literário A ILHA em SC, com 34 anos de atividades  e editor das Edições A ILHA, que publicam as revistas Suplemento LIterário A  ILHA e Mirandum (Confraria de Quintana), além de mais de 50 livros. 
    Foi eleito a Personalidade Literária de 2011 pela Academia Catarinense de  Letras e Artes e ocupa a cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras. Foi o  representante de Santa Catarina no Salão Internacional do Livro de Genebra, com  o lançamento de 3 obras suas, participação na antologia Varal do Brasil e com a  divulgação de escritores que não puderam ir, com a revista Suplemento literário  A ILHA.
Editor de conteúdo do portal PROSA, POESIA & CIA. e autor de 29 livros de  crônicas, contos e poemas, três deles publicados no exterior. Colaborador de  revistas e jornais no Brasil e exterior, como Jornal do Brasil, Diário de  Notícias, Correio do Povo, Folha de Pernambuco, O Estado, de Fortaleza, A  Noticia, Noticias do Dia, Folha de Pernambuco, Roraima em Foco, Folha do  Espírito Santo, etc. – tem trabalhos publicados na Índia, Rússia,  Grécia, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Cuba, Argentina, Uruguai,  Inglaterra, Espanha, Itália, Cabo Verde e outros, e obras traduzidas para o  inglês, espanhol, bengalês, grego, russo, italiano -, além de colaborar com  vários portais de informação e cultura na Internet, como Rio Total, Telescópio,  Cronópios, Alla de Cuervo, Usina de Letras, etc. 
Http://luizcarlosamorim.blogspot.com

 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  




























