Ainda não é um consenso que as emissões de gases do efeito estufa resultantes das atividades humanas são um dos principais fatores que impulsionam o aquecimento global, e, até por isso, não existem grandes estudos sobre quais seriam os benefícios de cortá-las drasticamente. Tentando acabar com essa lacuna, pesquisadores britânicos e alemães se uniram e chegaram à conclusão de que um maior controle sobre a liberação de gases traria ganhos imensos para a sociedade.
Publicado na edição atual do periódico Nature Climate Change, o novo estudo aponta que impor limites severos às emissões poderia evitar entre 20% e 65% dos efeitos negativos das mudanças climáticas até 2100.
O trabalho, conduzido pela Universidade de Reading em parceria com o Met Office, Tyndall Centre, Instituto Postdam e contando ainda com o apoio de outras universidades, destaca que fazer as emissões atingirem seu máximo já em 2016 – e não em 2030 como sugerem as estimativas atuais – e a partir daí reduzi-las em uma taxa anual de 5% adiaria as piores consequências do aquecimento global e traria grandes benefícios para a produção de alimentos e para o combate a enchentes e secas.
“É claro que reduzir as emissões não evitará todos impactos das mudanças climáticas, mas nossa pesquisa mostra que essa decisão pode nos comprar tempo para fazer com que as construções, os sistemas de transportes e a agricultura sejam mais resilientes ao aquecimento global”, explicou Nigel Arnell, diretor do Instituto Walker para Pesquisa Climática da Universidade de Reading.
No caso da produção de alimentos, por exemplo, se nada for feito, a cultura mundial do trigo pode ter sua produtividade reduzida em 20% já em 2050. Porém, se os cortes de emissões forem adotados, visando manter o aumento das temperaturas em 2°C, essa queda de produtividade só seria vista em 2100. Assim, teríamos tempo para implementar novas tecnologias que exerçam um papel decisivo para evitar que isso ocorra completamente.
“Cortar as emissões nos dará tempo para nos adaptarmos. Podemos conseguir várias décadas a mais para trabalhar do que teremos se nada for feito. Nosso estudo é bastante otimista nesse sentido, mostrando que se quisermos podemos reduzir de forma significativa os impactos das mudanças climáticas nas pessoas”, completou Arnell.
Ainda segundo o estudo, políticas de redução de emissões evitariam que até 68 milhões de pessoas sofram com a escassez de água já em 2050, e que até 161 milhões saiam do cenário de alto risco de enchentes.
“Podemos evitar muitos dos piores impactos das mudanças climáticas se trabalharmos juntos para manter as emissões baixas. Esta pesquisa nos ajuda a quantificar os benefícios de limitar o aquecimento global em apenas 2°C e mostra como é vital que os países se comprometam nas negociações climáticas da ONU e garantam um acordo com poder de lei até 2015”, afirmou Edward Davey, Secretário de Estado para a Energia e Mudanças Climáticas do Reino Unido.
A pesquisa considera que sem políticas para as emissões, as temperaturas médias subirão entre 4°C a 5°C até o fim do século, colocando quase um bilhão de pessoas em um cenário de pouco acesso à água e 330 milhões sob o risco de inundações.
Acesse o estudo na Nature Climate Change.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)