Consumo colaborativo e sustentabilidade

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O consumo colaborativo pode ajudar a aliviar o trânsito e, por consequência, o meio ambiente em cidades como São Paulo. Foto: Photostock/IPS

Definido pela revista Time como uma das dez ideias capazes de mudar o mundo, o consumo colaborativo se impõe, seja como troca, aluguel ou venda, como uma nova ferramenta de desenvolvimento.
Rio de Janeiro, Brasil, 14 de janeiro (Terramérica) – Ainda conhecido por poucos no Brasil, o consumo colaborativo surge no mercado de bens e serviços das grandes cidades como uma forma de atuar com mais consciência em um momento em que o mundo debate formas de se reinventar para enfrentar a severa crise econômica e ambiental. A expressão foi cunhada no começo da década passada nos Estados Unidos para identificar uma alternativa que surgia ao modelo de consumo excessivo e desenfreado que caracteriza a sociedade desse país desde a década de 1980.

Trata-se de um mecanismo para compartilhar ou permutar aparelhos eletrônicos, livros, roupas, calçados, instrumentos, móveis e, inclusive, bicicletas e até automóveis, os quais podem ser alugados por um período curto. Esta prática de consumo se soma à atual demanda de ações sustentáveis com a tecnologia. Quanto mais avançarem os novos meios, mais fácil será realizar buscas na internet e escolher serviços, afirmam seus defensores. A revista Time definiu, em 2011, o consumo colaborativo como uma das dez ideias capazes de mudar o mundo.
A nova tendência está entrando timidamente no mercado brasileiro. Em 2011 foram criados os primeiros portais na internet de consumo colaborativo, tendo como iniciativas pioneiras o BuscaLá e o DescolaAí. “Este modo de consumo é uma forma extremamente consciente e importante para o futuro do planeta, e pode ser trabalhado de diversas maneiras, como troca, aluguel ou venda de qualquer produto”, explicou Leilson Duarte, um dos três sócios do BuscaLá.
Nas plataformas de trocas o interessado procura pelos produtos que necessita e informa o que pode dar em troca. A partir do momento em que uma oferta e uma demanda se identificam e se complementam, o sistema coloca os dois usuários em contato. “Permutar um produto que não se usa mais por outro que se precisa é uma forma de deixar de consumir produtos novos, evitando, assim, a produção de outras peças, o que também evita o acúmulo de lixo”, explicou Duarte em entrevista ao Terramérica.
Duarte, que estudou as novas tendências na Europa e nos Estados Unidos antes de desenvolvê-las no Brasil, contou que o objetivo do BuscaLá é promover o acesso a um produto e não a sua posse. “O importante não é ter uma câmera fotográfica, mas poder fazer fotos; não se precisa ser dono de uma furadeira, mas ter uma à mão quando necessário”, afirmou.
“O BuscaLá tem como aliadas de grande destaque as redes sociais, principalmente o Facebook e o Twitter, que alcançam um crescimento surpreendente a cada mês”, ressaltou Duarte. Esta plataforma recebe 150 mil visitas mensais e oferece mais de 40 mil produtos, que são oferecidos pelos próprios usuários registrados. “Nossa expectativa é que seja o maior site de consumo colaborativo do Brasil. Além de fazer bem ao bolso de todos que o compartilham, é uma forma de preservar os ecossistemas e evitar o gasto desnecessário e desenfreado que vivemos atualmente”, enfatizou.
Por sua vez, o DescolaAí é um site que oferece objetos de aluguel, como livros, discos, vídeos e jogos. Para cada transação são cobrados R$ 2 de cada usuário. Com este portal, “você ganha dinheiro e ainda ajuda o planeta, evitando que os outros produtos sejam fabricados mediante a extração de novos recursos naturais”, anuncia o site, cujo slogan é a sustentabilidade do mercado.
O consumo colaborativo serve de inspiração para jovens empresários em busca de novos modelos de negócios simples e acessíveis, sem exigir elevados investimentos nem grandes conhecimentos administrativos. É o caso do empresário Felipe Barroso, de 34 anos, que em seu momento se mudou de Curitiba para São Paulo, a fim de investir em um modelo de negócio criativo que se afastasse das fórmulas convencionais. Desta forma, criou em 2009 a empresa Zazcar, que aplica o sistema de carsharing, expressão inglesa que significa compartilhar automóveis.
“Encontrei-me na internet com este modelo de negócios que implica compartilhar automóveis. O mais interessante é que promove a redução da quantidade de veículos nas ruas”, destacou Barroso. Sua empresa, com sede em São Paulo, decidiu apostar em um sistema simples de aluguel de automóveis 24 horas por dia, sete dias por semana, por um breve período. Após três anos de funcionamento, passou de apenas dez veículos e 74 clientes registrados para 60 carros e quase dois mil clientes.
Na última década, 1,2 milhão de novos automóveis ocuparam as ruas paulistanas, cujos engarrafamentos de vários quilômetros chegam a paralisar a cidade nos horários de pico, segundo o Departamento Estadual de Trânsito.
“Os clientes se registram pelo próprio site, ou por telefone, e obtêm um cartão e podem acertar o horário e o dia que necessitam pelo mínimo de uma hora e o máximo de sete dias. A empresa se encarrega da manutenção e do combustível”, explicou Barroso. Em agosto de 2012, um estudo feito pela Zazcar concluiu que, para cada automóvel da empresa, seis eram retirados das ruas. “Cerca de 25% de nossos clientes venderam pelo menos um de seus carros”, contou.
O sistema de carsharing é a prova de que há espaço e potencial para o crescimento deste modelo de consumo colaborativo. Barroso afirmou que o faturamento anual da empresa aumentou 180%. “Os usuários aderem cada vez mais ao sistema. No começo houve uma certa resistência dos consumidores, mas o “boca a boca” motivou muita gente. A receptividade foi unânime”, destacou.
Este sistema favorece muitos motoristas que percorrem até 12 mil quilômetros por ano e são a maioria dos proprietários de automóveis. Segundo Barroso, é possível economizar entre R$ 500 e R$ 800 por ano. “Este modelo está começando, e tem potencial para crescer, mas ainda falta evoluir mais no consumo colaborativo a partir dos bens dos próprios usuários. Tende a evoluir a partir das novas tecnologias, que permitem à pessoa se conectar com outras de uma maneira simples. Assim, se facilita a busca, as compras e os serviços”, ressaltou. Envolverde/Terramérica

* A autora é correspondente da IPS.
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

(Terramérica)

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