Nos últimos anos, a Amazônia apresentou as maiores taxas de desflorestamento tropical no mundo. Nesse contexto, a situação da avifauna foi analisada pelo biólogo Miguel Ángel Quimbayo Cardona, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da USP. Ele comprovou que existem diferenças significativas de riqueza de espécies de aves entre as áreas de manejo florestal e entre dois períodos de amostragem em seu estudo.
O manejo florestal é composto por diretrizes que servem para reduzir os danos e facilitar a regeneração e integridade da Amazônia Brasileira. No estudo de doutorado Efeitos do manejo florestal na estrutura da avifauna na floresta Amazônica de Paragominas (Pará), o biólogo avaliou o manejo e mudanças na estrutura da avifauna na floresta Amazônica de Paragominas, no Pará. Foram registradas 235 espécies de aves nas áreas de manejo florestal. “As informações coletadas mostram que a resposta da comunidade de aves a esses fatores de modificação da estrutura foi imediata”, diz o pesquisador.
Cardona afirma que a área de manejo florestal com maior riqueza de espécies e abundância de grupos funcionais foi a área explorada em 2000, contraste evidenciado com a área não explorada, que teve a menor riqueza e abundâncias de grupos funcionais. “Esta área parece ter essa característica em acolher as espécies devido ao fato de não ter muitos limites com outras áreas de exploração e limita ao sul com a floresta matriz, que envolve a área de manejo florestal Rio Capim, tendo mais capacidade de suporte para as espécies afetadas pelas atividades de manejo florestal”, explica.
O trabalho mostrou que as espécies do interior da floresta, que requerem cavidades de árvores para ninho, e os grupos funcionais insetívoros, insetívoros de sub-bosque e nectarívoros-insetívoros de sub-bosque foram os mais afetados pelo manejo florestal, especialmente na área não explorada que teve atividades de pré-exploração e a área explorada em 2003 que foi afetada por distúrbios naturais antes da amostragem de campo. “A resposta a esse distúrbio natural por parte da comunidade de aves na área explorada em 2003 foi similar à área não explorada. Ou seja, o comportamento da avifauna tem um padrão semelhante quando acontecem fatores de modificação antrópicos ou distúrbios naturais”, conclui.
O estudo, orientado pela professora Teresa Cristina Magro, do Departamento de Ciências Florestais (LCF), avaliou a comunidade, a riqueza e a abundância de espécies e de grupos funcionais de aves na Amazônia. Mediante observações diretas e identificações auditivas em pontos fixos, foi amostrada a avifauna em seis áreas de manejo florestal, sendo cinco exploradas em diferentes anos, 1997, 2000, 2003, 2006 e 2009, e uma não explorada. As amostragens de campo foram desenvolvidas nas temporadas de seca e chuva.
Degradação do meio ambiente
Cardona explica que a degradação da floresta se dá por várias razões, como a atividade pecuária, a extração de madeira, os incêndios e os efeitos da fragmentação e da formação de bordas. “Historicamente, as explorações madeireiras foram desenvolvidas com técnicas convencionais, que geralmente produzem danos tanto na floresta quanto no solo”, afirma.
Segundo o pesquisador, a heterogeneidade do hábitat e a diversidade estrutural são os fatores mais importantes que determinam a riqueza de espécies em florestas nativas. “Quanto maior for o nível de extração de madeira, mais significativas serão as mudanças apresentadas pela estrutura da floresta e, consequentemente, maior o impacto da exploração sobre a avifauna”, explica.
Segundo o pesquisador, a degradação do hábitat, a interrupção do deslocamento dos animais e das interações ecológicas entre os organismos são impactos diretos da exploração madeireira sobre a fauna silvestre, que depende da floresta. Por isso, durante os últimos cem anos, para avaliar detalhadamente os efeitos da exploração madeireira e das interferências antropogênicas no ambiente, pesquisadores têm observado a avifauna. “Devido a sua taxonomia bem estabelecida, que faz com que a maioria das espécies possa ser identificada facilmente em campo, a disponibilidade de informação biológica e ecológica de grande parte das espécies e a sensibilidade às mudanças específicas na estrutura da floresta, no microclima e na composição, as aves apresentam-se como um instrumento importante nesse processo”, avalia.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
(Agência USP)