Bicicletas defendem seu lugar na selva

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Juan Longueiro vai para seu trabalho se exercitando com a Ecobici. Foto: Emilio Godoy/IPS
O transporte em bicicleta começa a impor sua marca na Cidade do México.
Cidade do México, México, 8 de outubro de 2012 (Terramérica).- Juan Longueiro, de 56 anos, usa a bicicleta do sistema Ecobici três vezes por dia, para ir e voltar do trabalho e fazer exercício no central Paseo de la Reforma, na Cidade do México. “Me parece um bom serviço. Uso pela manhã e à tarde para ir ao escritório, e ao meio-dia para me exercitar”, disse ao Terramérica este funcionário da Secretaria de Educação Pública que se inscreveu em setembro no Sistema de Transporte Individual Ecobici, executado pelo governo da capital desde 2010.
Já são 32.500 usuários que realizaram cerca de 4,7 milhões de viagens. Em setembro, a administração municipal estendeu o serviço ao bairro de Polanco, no oeste, passando a contar com 168 estações e 2.380 bicicletas nessa região e no centro da capital, de aproximadamente oito milhões de habitantes. Contudo, o êxito apresenta muitos desafios, como incluir mais zonas populares e conseguir uma promoção mais ativa da bicicleta como meio de transporte.
A Ecobici “ajuda a mudar a percepção com relação à bicicleta, e isto é muito importante”, disse ao Terramérica a presidente da entidade não governamental Bicitekas, Areli Carreón. Para ela, o “questionamento” é sua viabilidade futura. “É preciso ver se chegará a outras regiões” de menor renda, acrescentou.
Para usar uma Ecobici é preciso se inscrever e pagar uma taxa anual equivalente a US$ 30. Isto dá direito a uma quantidade ilimitada de trajetos de 45 minutos durante 12 meses. Quem ultrapassa esse tempo tem de pagar entre US$ 0,70 e US$ 2, dependendo do período utilizado. Uma razão para o progresso da Ecobici é o subsídio estatal que recebe, de aproximadamente US$ 7 milhões, e que na verdade supera o orçamento público destinado a promover o uso geral de bicicletas.
A filial mexicana da transnacional norte-americana Clear Channel Outdoor é a concessionária do serviço. Com sua linha de bicicletas Smartbike, promove iniciativas semelhantes em cidades da Espanha, França, Noruega, Itália e em seu país de origem. Além disso, o governo da capital mexicana tem um programa de empréstimo de bicicletas no Paseo de la Reforma e construiu estacionamentos para que qualquer ciclista guarde a sua.
No total, as autoridades estimam que diariamente são feitas mais de 120 mil viagens em bicicleta nesta cidade. Promover as bicicletas é parte no Plano Verde que o governo da capital adotou em 2008, e inclui a construção de ciclovias, faixas exclusivas para ciclistas que cobrem 6,8 quilômetros, e uma ciclopista de 60 quilômetros entre o sul e o oeste da cidade.
Em Culiacán, município a noroeste da capital, a bicicleta já “é uma nova forma de recreação e se tornou um símbolo de identidade da cidade”, disse ao Terramérica o arquiteto Juan Rojo, ativo ciclista desde 2008. Neste município de 675.733 habitantes, nove mil pessoas se deslocam em bicicleta, e o governo municipal projeta construir 30 quilômetros de ciclovias. “É uma referência possível de alternativa em transporte”, pontuou o arquiteto, diretor-geral da Associação Ciclos Urbanos.
Desde 2009 esta entidade organiza, toda primeira terça-feira de cada mês, o Ciclonoche, um trajeto noturno de sete quilômetros e uma hora de duração, do qual já participaram 14 mil pessoas em Culicán. Para mostrar os benefícios de substituir o transporte automotivo pela bicicleta, a entidade estima que nesses passeios foram economizados oito mil litros de gasolina e evitada a emissão de 21 toneladas de dióxido de carbono (CO₂).
Uma avaliação do não governamental Centro de Transporte Sustentável do México (CTSEmbarq) afirma que os usuários da Ecobici têm uma tendência maior a deixar o carro em casa e que o meio mais substituído é o micro-ônibus, um dos seis tipos de transporte público da capital. A entidade estudará o impacto da Ecobici na qualidade do ar, já que seu uso implica o abandono de transportes contaminantes. “É necessário um sistema integrado de transporte, com diferentes modalidades e estacionamentos sustentáveis”, afirmou Hilda Martínez, gerente de qualidade do ar e mudança climática do CTSEmbarq, vinculado ao Instituto de Recursos Mundiais (WRI), com sede em Washington.
O Ministério do Meio Ambiente e o Centro de Estudos Mexicanos e Centro-Americanos organizaram uma pesquisa entre mil usuários de Ecobici, cujos resultados serão divulgados em novembro. “É preciso avaliar se a Ecobici é idônea para promover o uso da bicicleta. Dizemos que não é a única opção para promover o ciclismo urbano. Não é indispensável uma infraestrutura em cada rua ou uma ciclovia exclusiva”, disse Carreón. O governo prevê que o programa terminará este ano com quatro mil bicicletas, 275 estações e cerca de 87 mil usuários, além de 42 quilômetros de ciclovias.
Para 2013, a expectativa é somar outros 35 quilômetros de ciclovias com a ampliação para bairros distantes do centro, nas regiões sul e leste. Alguns, como Rojo, sugerem adotar um verdadeiro sistema de bicicletas públicas, com pagamento de taxa ou por trajeto, que se converta em um transporte público individual. Para Martínez, “o ideal seria convidar outro sócio para financiar o programa, porque pode ser autofinanciável”. Como usuário, Longueiro pede mais divulgação. “Há colegas meus que não conhecem o serviço”, disse, enquanto devolvia a bicicleta. Envolverde/Terramérica
* O autor é correspondente da IPS.
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