Princípio da precaução deve nortear exploração do pré-sal

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Biólogo Fabio Moretzsohn, Ph.D em biodiversidade marinha e cientista assistente de pesquisa do Harte Research Institute for Gulf of Mexico Studies, vinculado à Texas A&M University, dos Estados Unidos

Desastres como o ocorrido em 2010, quando um vazamento em um poço da companhia British Petroleum (BP) despejou no oceano milhões de litros de óleo, colocam a comunidade científica em alerta quanto à exploração do petróleo na camada do pré-sal brasileiro.
Conta-se em milhares a quantidade de animais encontrados mortos após o derramamento de petróleo que aconteceu em 2010, no Golfo do México, quando o poço de Macondo, da plataforma Deepwater Horizon, pertencente à companhiaBritish Petroleum (BP), jorrou no oceano, durante quase três meses, cerca de 780 milhões de litros de óleo. Os dados oficiais apontam a morte de 1.146 tartarugas marinhas, 128 golfinhos e 8.209 aves marinhas. Porém, estimativas de cientistas elevam esses números para outro patamar. Eles alegam que aproximadamente seis mil tartarugas, 26 mil mamíferos marinhos, e 82 mil aves marinhas tenham morrido até 2011, e provavelmente continuam morrendo.

Os dados foram apresentados pelo biólogo Fabio Moretzsohn, Ph.D em biodiversidade marinha e cientista assistente de pesquisa do Harte Research Institute for Gulf of Mexico Studies, vinculado à Texas A&M University, dos Estados Unidos, em sua palestra durante o VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que acontece em Natal (RN), de 24 a 27 de setembro.
Fabio explicou, citando diversos exemplos de vazamentos que estudou nas últimas décadas, que os impactos desses eventos são sentidos pela biota durante um período bastante extenso. “Sabemos que a biota ainda sofre as consequências de um derramamento de óleo em Massachussets, que aconteceu há 40 anos”. Isto ocorre, de acordo com o pesquisador, por conta de muitos aspectos como, por exemplo, a bioacumulação do óleo na cadeia alimentar. “Até os animais de topo de cadeia consomem esse óleo em algum momento. Mas, realmente, os organismos mais afetados são as algas e os invertebrados, que são também os mais esquecidos”, comenta.
Outro ponto apontado por Fabio como preocupante em relação ao acidente no Golfo do México é o uso de dispersantes em áreas profundas. “O dispersante é um tipo de sabão, composto por solventes e agentes surfactantes, que quebra o óleo e o transforma em partículas menores. Historicamente ele nunca tinha sido usado em águas profundas, somente na superfície. Não sabemos ainda o impacto que isso pode gerar”. Ele explica que, em partículas menores, o óleo é capaz de atravessar membranas biológicas de organismos vivos.
Segundo o pesquisador, a análise de acidentes recentes mostra que, por mais avançada que a tecnologia esteja, ainda não consegue evitar esses derramamentos. “Existem muitos pontos sensíveis, como as tubulações submarinas por onde passa esse óleo para ir para os navios. Além disso, existe sempre a possibilidade do erro humano”, aponta.
Com base nos casos apresentados, Fabio se diz receoso em relação à exploração de petróleo na camada do pré-sal brasileiro. Ele lembra que a Petrobras já trabalha para extrair o óleo, encontrado em áreas que estão de 170 a 300 quilômetros de distância da costa, em profundidades estimadas em sete mil metros. “O vazamento da plataforma da BP aconteceu em um poço localizado há aproximadamente 1,5 mil metros de profundidade e foram necessários quase três meses para contê-lo. No pré-sal, a pressão da água e o peso da camada de rochas vai fazer com que o óleo saia com uma pressão muito maior. A estimativa é de que lá existem de 50 a cem bilhões de barris de petróleo. Se um acidente acontecer, aonde vamos parar?”, questiona.
Fabio lista algumas medidas que deveriam ser adotadas pelo governo brasileiro antes que a extração desse petróleo tenha início, como: um inventário biótico das regiões que podem ser afetadas por possíveis vazamentos; o mapeamento das espécies ameaçadas de extinção ou econômica e biologicamente importantes; o mapeamento das correntes marítimas e dos habitats da costa e do fundo do mar; um planejamento detalhado de gestão costeira; planos emergenciais; uma lista de especialistas a serem chamados em casos de emergência; a ampliação da rede de áreas protegidas marinhas; e sensores para detecção precoce de vazamentos.
Ele lembra ainda que, no caso do Golfo do México, o derramamento só foi controlado quando foram perfurados poços de alívio, que são perfurações de menor proporção, que chegam ao poço principal e aliviam a pressão do óleo, o que torna mais fácil o fechamento do poço principal. “A perfuração dos poços de alívio é um processo demorado, se eles já estiverem preparados, o vazamento pode ser contido mais rapidamente”, comenta.
A questão política é também para ele um ponto crucial. “A indústria precisa informar imediatamente quando acontece um vazamento, não demorar como a BP fez. Além disso, quando há um vazamento, os governos precisam colocar o orgulho de lado e pedir a cooperação internacional. Todo derramamento gera impacto, mas é possível amenizar”, enfatiza o biólogo. (Envolverde)
(Agência Envolverde)

 

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