O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou nesta terça-feira
(10) a nova atualização do cadastro de empregadores que utilizaram
mão-de-obra em situação análoga à de escravo, conhecido como "lista
suja". Com a entrada de 51 novos nomes, a relação conta agora com 192
empregadores de 16 estados diferentes, pessoas físicas e jurídicas,
flagrados cometendo esse crime.
O Pará é o estado com maior número de empregadores relacionados, 52, o
que corresponde a 27% do total. Ele é seguido pelo Tocantins (43
empregadores), Maranhão (32), Goiás (24), Mato Grosso (16), Bahia (5),
Mato Grosso do Sul (4), Minas Gerais, Santa Catarina e Rondônia (3),
Piauí (2) e Rio Grande do Sul, Ceará, Amazonas, Rio Grande do Norte e
São Paulo (1). Os Estados com maior representação na "lista suja" estão
localizados no arco do desmatamento amazônico e na região do cerrado,
onde a vegetação nativa vem sistematicamente perdendo espaço para
empreendimentos agropecuários.
Nessas fazendas e carvoarias, os trabalhadores eram submetidos a
condições subumanas na derrubada de mata nativa para a ampliação de
pastagem, na colheita da cana-de-açúcar para a fabricação de álcool, na
limpeza do terreno para o plantio de soja e algodão, no cultivo de
café, babaçu, feijão, arroz, milho, batata e tomate, na extração de
resina, na produção de carvão vegetal (matéria-prima para a
siderurgia), entre outras atividades.
Segundo as regras da portaria nº 540/2004, que regulamenta a "lista
suja", o nome do infrator só entra na relação após o final de um
processo administrativo gerado pelos autos da equipe de fiscalização do
MTE que libertou os trabalhadores. A exclusão, por sua vez, depende do
monitoramento da fazenda por dois anos. O nome só será retirado da
lista se, após esse tempo, não houver reincidência no crime, se todas
as multas resultantes da ação de fiscalização forem pagas, se forem
garantidas condições dignas de trabalho e se as pendências trabalhistas
forem quitadas. A atualização é divulgada semestralmente desde novembro
de 2003.
O monitoramento inclui novas fiscalizações ao local onde foram
libertados os trabalhadores, além de informações fornecidas por órgãos
governamentais e entidades da sociedade civil. Dos empregadores rurais
que permaneceram por pelo menos dois anos na lista, 22 saíram do
cadastro nesta atualização. O restante não quitou as pendências com o
Ministério do Trabalho e Emprego ou foi reincidente no crime.
De 1995 até hoje, quase 26 mil trabalhadores foram resgatados da
escravidão pelos grupos móveis de fiscalização do governo federal,
integrados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do
Trabalho e Polícia Federal, além das equipes de fiscalização rural das
Delegacias Regionais do Trabalho.
Novas inserções
Nesta atualização, entraram no cadastro empresas moveleiras. Duas
empresas exportadoras, a Cruzado Móveis e a Móveis Rueckl, localizadas
em Rio Negrinho, no Norte de Santa Catarina, aparecem como empregadoras
da fazenda Campo Grande, juntamente com a Indústria Agroflorestal
Heyse. Em novembro de 2006, fiscais da Delegacia Regional do Trabalho
resgataram um trabalhador da Rueckl, 17 da Cruzado e 19 da Heyse. Eles
realizavam colheita de pinus.
Agenor Rodrigues Rezende, proprietário da fazenda São Marcos, governou
o Estado de Goiás entre abril e dezembro de 1994. Com a renúncia do
então governador Iris Rezende, que concorreu ao cargo de senador, e do
vice Maguito Vilela, que pleiteou o governo estadual, Agenor, que era
presidente da Assembléia Legislativa, subiu ao cargo. Em sua fazenda,
em Portelândia, no Sudoeste de Goiás, foram encontrados 15
trabalhadores em situação análoga à escravidão em outubro de 2005.
A cimenteira Itapicuru Agro Industrial S.A entrou na lista por ser
proprietária da fazenda Terra Nova, localizada em Codó, no Maranhão,
onde foram encontrados 49 trabalhadores em regime análago ao de
escravo, em maio de 2006. A empresa faz parte do Grupo Industrial João
Santos, que atua na área de papel, cimento e açúcar nas regiões Norte,
Nordeste e Sudeste. Entre os produtos do grupo está o cimento Nassau.
Também entraram na "lista suja" três siderúrgicas: a Fergumar (Ferro
Gusa do Maranhão), a Itasider Usina Siderúrgica Itaminas SA e a Simara
(Siderúrgica Marabá), devido a libertações de 29, 36 e 73
trabalhadores, respectivamente, em carvoarias que abasteciam seus
fornos.
O Greenpeace acusa a fazenda Membeca, de Sedeni Lucas Locks - de onde
foram resgatados três trabalhadores da escravidão - de invadir
ilegalmente áreas que pertenceriam aos índios Manoki para expansão de
sua produção de soja. As multinacionais Bunge e Cargill compravam a
produção da fazenda.
Corte econômico
A "lista suja" é um dos mais importantes e eficazes instrumentos para a
erradicação da escravidão no Brasil, pois atinge economicamente os
negócios que utilizam esse tipo de mão-de-obra. Instituições
financeiras públicas, como o Banco do Brasil, Banco da Amazônia, Banco
do Nordeste e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES,) e também privadas, como o ABN Amro, Santander e Bradesco, não
emprestam recursos para os relacionados na "lista suja". A Federação
Brasileira dos Bancos (Febraban) também assumiu o compromisso de
recomendar a seus associados que sigam o mesmo caminho e não emprestem
ou financiem a essas pessoas físicas e jurídicas.
Ao mesmo tempo, as mais de 100 empresas e associações signatárias do
Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo se comprometeram a
acabar com esse tipo de crime em suas cadeias produtivas. Para isso,
negam-se a adquirir direta ou indiretamente mercadorias produzidas por
fazendas da "lista suja". Estão entre as empresas que adotaram esse
comportamento as redes varejistas Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart,
os distribuidores de combustível Ipiranga, Petrobrás e Shell, a
indústria têxtil Coteminas e a Companhia Vale do Rio Doce,
representando uma parcela significativa do PIB nacional.
Muitas empresas têm questionado na justiça a legalidade do cadastro de
empregadores. Contudo, para o subprocurador-geral do Ministério Público
do Trabalho e coordenador nacional para o combate ao trabalho escravo
da instituição, Luís Antônio Camargo, a "lista suja" opera dentro da
lei. "O cadastro não é ilegal, não é inconstitucional, na medida que
não impõe nenhuma punição. Há apenas uma divulgação das fiscalizações
do MTE. É uma obrigação da administração pública dar publicidade a seus
atos. É uma grande arma no combate ao trabalho escravo."
A íntegra da "lista suja" está no site do Ministério do Trabalho e Emprego (http://www.mte.gov.br/trab_escravo/lista_JULHO_2007.pdf_ ). O cadastro também pode ser consultado no site da Repórter Brasil (http://www.reporterbrasil.org.br/listasuja/index.php?lingua=pt) em português, inglês, francês e alemão.
(*) Colaborou Iberê Thenório
Crédito da imagem: Repórter Brasil
(Envolverde/Repórter Brasil)
|