Banco do Brasil adere à Moratória da Soja

No dia em que o governo anuncia queda recorde no desmatamento da Amazônia, Banco do Brasil diz que não dará mais crédito a fazendas de soja em áreas devastadas.

Brasília, 1º de dezembro de 2010 - A moratória da soja, uma das iniciativas para alcançar o desmatamento zero na Amazônia, ganhou um importante aliado. O Banco do Brasil (BB) anunciou hoje que vetará o crédito rural a fazendeiros de soja que estiverem plantando em áreas recém-derrubadas da floresta. O anúncio foi feito poucas horas depois de o governo anunciar uma queda recorde na taxa de devastação.

A decisão do principal financiador da produção rural no país reforça a campanha pela conservação da floresta. “Esse é um passo a mais rumo ao desmatamento zero”, disse Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia do Greenpeace. “Outras instituições financeiras deveriam seguir o exemplo e ajudar o país a eliminar a chaga do desmatamento, nossa principal contribuição para as mudanças climáticas.”

A prova de que isso é possível está nos números do Programa de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia (Prodes) anunciados nesta manhã pelo governo. De acordo com os dados, gerados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 6.451 quilômetros quadrados de floresta foram derrubados entre agosto de 2009 e julho de 2010. É a menor taxa da história, e 14% abaixo dos valores registrados no período anterior.

“A má notícia é que 6,4 mil quilômetros quadrados ainda é muito desmatamento. Houve grande perda de  biodiversidade e enormes emissões de CO2”, diz Adario. “A boa notícia é que os números confirmam uma tendência de queda continuada desde 2005. Essa queda expressiva e prolongada num momento de expansão da economia brasileira é um sinal eloquente de que o país está perto de vencer a guerra contra o desmatamento e zerá-lo até 2015 enquanto gera alimentos, emprego e renda.”

A entrada do Banco do Brasil na moratória da soja _- que tem tudo para colocar mais um prego no caixão do desmatamento na Amazônia - foi firmada na manhã de hoje durante encontro na sede do banco em Brasília entre os coordenadores do Grupo de Trabalho da Soja (GTS) Paulo Adario, do Greenpeace, e Carlos Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, e o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, Luís Carlos Guedes Pinto. Na ocasião, Guedes assegurou que o banco adotará os critérios da moratória da soja na análise para liberação de crédito. Segundo ele, “a moratória é um exemplo de que o país só tem a ganhar com o fim do desmatamento”.

O compromisso assinado pelo BB inclui o não financimento da produção de soja em áreas desmatadas a partir de julho de 2006 no bioma Amazônia; a exigência de regularização ambiental das propriedades para a concessão de financiamento e abertura de linhas de crédito para recuperação de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente.

A adesão do BB à moratória – adotada pela indústria após pressão do Greenpeace contra o envolvimento do setor de grãos no desmatamento do bioma – significa que os fazendeiros que desmataram depois de 24 de julho de 2006 não terão mais acesso ao crédito do banco estatal. Sem dinheiro no bolso, o fazendeiro perde o principal incentivo para fazer plantios em áreas recém-devastadas.

De acordo com dados do Anuário Estatístico de Crédito Rural, cerca de R$ 90 bilhões foram destinados ao crédito rural na Amazônia Legal entre 1995 e 2009. Só no Bioma Amazônia foram R$ 40 bilhões. Metade dos recursos foi para fazendas de gado e plantações de soja. No mesmo período os fazendeiros derrubaram 271 mil quilômetros quadrados de floresta, área equivalente ao Estado de São Paulo.

O Brasil vive um momento positivo na luta pela proteção das florestas. A sociedade, empresas produtoras e consumidores dão claras demonstrações de que não aceitam mais a derrubada de árvores para abrir espaço para o agronegócio. O desmatamento zero virou um tema comum a políticos, ambientalistas e fazendeiros. “O país está convencido de que é preciso e possível parar de desmatar”, diz Adario.

O monstro do desmatamento, no entanto, não está morto. Se o Congresso aprovar mudanças no Código Florestal que desvirtuem a legislação de proteção ambiental, como quer a bancada ruralista, anistiando desmatadores e reduzindo a proteção da floresta, o monstro pode acordar com fome. “Esse projeto de lei coloca em grande risco todo esforço feito até agora, e tem o potencial de interromper esse momento virtuoso para a Amazônia.”

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